- Gênero: Drama
- Direção: James Hawes
- Roteiro: Lucinda Coxon, Nick Drake
- Elenco: Anthony Hopkins, Johnny Flynn, Lena Olin, Helena Bonham Carter, Romola Garai, Alex Sharp, Jonathan Pryce
- Duração: 105 minutos
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Em tempos onde o tradicional “filme sobre a Segunda Guerra Mundial” foi obliterado pela estreia de Zona de Interesse, mostrando que existe sim um olhar que traga originalidade a formatos tão engessados, é curioso que o circuito consiga absorver Uma Vida: A História de Nicholas Winton. É exatamente desse filme que vem à cabeça quando tratamos o tema, embora eu particularmente ache que, em seus maiores desvarios, algo como esse filme nunca chegou a fazer barulho dentro dessa seara específica. No entanto, quando lembramos que a Academia há pouquíssimo tempo premiou nulidades como Green Book e No Ritmo do Coração, todo cuidado é pouco; a hiena da mediocridade sempre estará desperta para voltar a atacar. Quando para de olhar para o óbvio, no entanto, o filme parece ter algo a contar, com o melhor porta-voz possível.
O óbvio é a jornada do herói mais desgastada que se tem notícia, quando um jovem britânico vai até Praga e toma conhecimento de que a Tchecoslováquia aceitava a entrada de crianças judias às vésperas do início da Segunda Guerra. Faziam isso para proteger o futuro de recorte de povo que seria exterminado nos anos seguintes, tendo a coragem de se portar contra Adolf Hitler e seus asseclas. O rapaz passa a ajudar nas operações com todo o perigo que cercava tais eventos, e contabilizou o impressionante número de 669 crianças salvas. Tudo isso é tratado da maneira mais burocrática e sem emoção possível, quase como se estivéssemos em uma obrigatória aula de História do qual preferíamos fugir; não creio que essa seja a intenção de Uma Vida: A História de Nicholas Winton.
Provavelmente a intenção seja a de contar essa existência ilibada, verdadeiramente inspiradora com o maior interesse possível, mas tudo que é a ação que motiva o filme, não tem desenvolvimento que nos encante. São passagens atravancadas de ação, mas que não se aprofundam na personalidade de Winton; o que temos em cena são as atitudes, tão memoráveis quanto a dos outros personagens que o ajudam. O que faz dele exatamente elevado aos seus companheiros, é algo que essas passagens do passado não dão conta, ou traduzir de maneira engessada uma situação extraordinária. Graças a um trabalho de montagem muito ruim de Lucia Zucchetti (que brilhou na mesma função em A Rainha), dois tempos são intercalados pelo roteiro de Lucinda Coxon e Nick Drake para Uma Vida: A História de Nicholas Winton que igualmente não é bom, onde o outro período se sobrepõe de maneira absoluta.
É nesse segmento paralelo que encontramos a razão pelo qual Uma Vida: A História de Nicholas Winton existe: sempre ele, Sir Anthony Hopkins. Em 1987, Winton precisa de espaço em sua casa para receber a filha, e para isso objetos do passado precisam de circulação. É dessa maneira prosaica e pouco animadora que o homem que pode se comparar a Oskar Schindler resolveu acessar os documentos que provaram seu feito, para ele algo importante que ficou no passado. É a partir do acesso a esse olhar humilde a respeito de sua bravura, que o filme ganha força insuspeita. Ao travar um encontro com alguém profundamente humano em sua simplicidade, vem à tona a grandiosidade de um homem que não procurou glórias, mas apenas salvar vidas.
James Hawes é um diretor que somente agora, três décadas de trabalho depois, assina sua primeira produção cinematográfica. Percebe-se pelo andamento de sua atividade aqui, que os anos de filmes para TV e inúmeras séries (algumas importantes, como Black Mirror e Slow Horses) o transformaram em um profissional de mercado, sem qualquer ambição maior. A delicadeza de compreender exatamente o que era o mais apaixonante de Uma Vida: A História de Nicholas Winton vem da minúcia com o qual seu ator encara aquela banalidade onde está inserido, que vai sendo demolida conforme a História invade seus dias pacatos. Quando enfim sua rotina é assolada pelas revelações fabulosas com o qual contribuiu, tudo ganha cor e detalhamento, graças à entrega memorável de um ator que compreende qual o tom contribuir para o engrandecimento de todo seu arco dramático.
Apesar das presenças igualmente estelares dos indicados ao Oscar Helena Bonham Carter, Lena Olin e Jonathan Pryce (e a cena entre eles nos remete imediatamente ao infinitamente superior Dois Papas), é de obra exclusiva de Hopkins todo o interesse que Uma Vida: A História de Nicholas Winton provoca no espectador. Um ator de recursos ilimitados e que tira da burocracia absoluta uma obra que parece muito satisfeita com ela.
Um grande momento
Na plateia do programa pela primeira vez