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Unicórnio

(Unicórnio, BRA, 2017)
Drama
Direção: Eduardo Nunes
Elenco: Bárbara Luz, Patricia Pillar, Zécarlos Machado, Lee Taylor
Roteiro: Hilda Hilst (contos), Eduardo Nunes
Duração: 122 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

Transformar as palavras de alguém que consegue dizer o indizível em imagens e sons. Provocar, com aquilo que se vê e ouve, sentimentos que só são despertados quando aquilo que se lê encontra referências dentro do próprio leitor. Este é o principal desafio de Eduardo Nunes ao levar às telas a adaptação dos contos “Unicórnio” e “Matamoros”, de Hilda Hilst.

Desenvolto na criação de imagens, como já provara seu longa Sudoeste, o diretor apostou suas fichas na equivalência dos sentimentos. Se o fluxo de pensamento era algo intraduzível, o objetivo era fazer com que os sentimentos despertados aproximassem-se daqueles que as palavras a escritora o tinham feito sentir.

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Na profusão de cores e no contraste entre o verde e o marrom, tudo é belo no filme que conta a história de uma menina e sua mãe que, após o desaparecimento do pai, precisam aprender a conviver com um estranho cuidador de cabras que aparece no local. O silêncio e a interação de poucas palavras naquele ambiente criam a tensão, ora desestimulada, ora exaltada pelas rupturas causadas por um outro ambiente, onde o diálogo se estabelece e preenche a infinitude do branco, ausente apenas nas vestes da jovem protagonista.

Estes dois ambientes revelam a interação entre os dois contos adaptados e fazem com que se enxergue o conjunto das inquetações e dúvidas que permeia o universo hilstiano. O filme passeia por inconclusões sobre o amor, o desejo e a morte – em palavras – e executa os sentidos de maneira visual, mas sem nunca se preocupar muito em explicar aquilo que se vê.

Se o objetivo da adaptação, em estranhamento e identificação, é alcançado, porém, há algo que mantém o público de alguma maneira afastado daquilo que acompanha. A perfeição com que Nunes estabelece seus quadros e os preenche de som é de certo modo incoerente com a história que quer contar. Essa ruptura e distanciamento fazem com que o acompanhar da obra seja por vezes desgastante, como se existisse uma barreira que tivesse que ser sempre quebrada para alcançar aquilo que se diz.

E é este o único problema de Unicórnio. Algo grave, mas que acaba sucumbindo à beleza e ao achado que é Bárbara Luz. Com sua pouca idade, a jovem atriz é tão envolvente quanto todo o cuidado estético e faz com que aquela história queira ser descoberta. Mesmo que ao final não se tenha certeza de nada, algo bem parecido com as experiências que Hilst, a mãe das histórias, sabe fazer como poucos.

Um Grande Momento:
Na tina d’água.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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