Crítica | Outras metragens

Vitória

(Vitória, BRA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Ricardo Alves Jr.
  • Roteiro: Ricardo Alves Jr.
  • Elenco: Rejane Faria
  • Duração: 14 minutos

Ricardo Alves Jr. (de Elon Não Acredita na Morte) é um cineasta dos detalhes do fazer. Suas obras geralmente se conectam ao ser humano que ele costuma investigar quase tão obsessivamente às suas atividades quanto os mesmos. Ele disseca cada polegada de dedicação gasta por tipos extremamente concentrados em completar suas funções, em exercer aquela obrigação, que seu recorte de olhar geralmente abarca cada atividade quase como se cumprisse uma função doutrinária com o espectador.

Ao mergulhar tão profundamente em seus afazeres cotidianos, o diretor especificamente aqui revela mais que o cotidiano de Vitória, sua personagem título: ele faz um apanhado político-social sobre uma classe trabalhadora que, infelizmente, dificilmente irá ao paraíso; na luta diária por reconhecer-se e mediar por direitos, o ambiente da tecelagem aos poucos se transforma numa espécie de prisão – não há nada fora dali, não há outro ambiente possível, por isso que ao menos haja justiça.

Vitória, de Ricardo Alves Jr.  (2020)

Em cena, Vitória é uma mulher em tantas, um exemplo de uma situação tão corriqueira quanto desesperançada. Ricardo faz a parte dele ao filmar tanto Rejane Faria quanto as outras mulheres em cena, em posição de igualdade, não apenas dos direitos de trabalho quanto do espaço cênico, Por mais que a atriz Rejane as represente e dê voz a cada uma delas, seu diretor as reúne em determinada sequência e as filma circularmente, modulando todos os rostos na mesma frequência.

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Das atividades curriculares filmadas com afinco por Ricardo indo até os detalhes do roteiro de Germano Melo, que incluem alguns detalhes sobre aquela realidade tão injustamente duradoura ao longo dos tempos, que não encontra espaço para uma mudança efetiva, Vitória emerge com a potência do melhor cinema mineiro da atualidade: inclusivo socialmente, empático com causas que não saem da pauta, e que tenta conjurar humanidade ao espaço que filma, tanto aquele referente ao trabalho quanto no que diz respeito a quem constitui alma ao que é mecânico.

Um grande momento
“Doutor, posso fazer uma pergunta?”

[31º Curta Kinoforum – Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo]

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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