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Toni Erdmann

(Toni Erdmann, ALE/AUT, 2016)
Comédia
Direção: Maren Ade
Elenco: Sandra Hüller, Peter Simonischek, Michael Wittenborn, Thomas Loibl, Trystan Pütter, Ingrid Bisu
Roteiro: Maren Ade
Duração: 162 min.
Nota: 10 ★★★★★★★★★★

A vida é aquela coisa: nem sempre tão boa, nem sempre tão ruim; nem sempre tão engraçada, nem sempre tão triste, mas com seus momentos, alguns inspirados, outros desesperados. É essa maleabilidade e imprecisão da vida que estão tão bem representadas em Toni Erdmann, filme alemão que ganhou o prêmio de público e da FIPRESCI no Festival de Cannes do ano passado, e concorre agora ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Sem se posicionar ou julgar valores, o longa-metragem dirigido e roteirizado por Maren Ade acompanha o reencontro de Ines e seu pai Winfried. Ela é uma alta executiva que preferiu desligar-se da família e se dedicar à carreira. Ele, um professor de ensino básico que busca de alguma maneira se reconectar com a filha. É assim que, depois de uma visita relâmpago de Ines, Winfried tem a ideia de aparecer de surpresa em Bucareste, onde ela mora, para passar uns dias.

O filme é claramente uma ficção, com exageros e impossibilidades, mas o que ele mostra é tão real e plausível, inclusive nos exageros e impossibilidades, que surpreendente. Realidade e ficção, ainda que contraditórios, caminham juntos aqui. Há um casamento interessante entre o modo natural com que se retrata aquela história e a fantasia do que se inventa com ela.

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A mesma contradição está presente no gênero do filme, que, mantendo sua estrutura de observador, vai do drama à comédia sem grandes esforços. É o tipo do filme que desperta lágrimas e gargalhadas na mesma medida, e sem que isso pareça forçado ou deslocado.

Com ótimas atuações de Sandra Hüller e Peter Simonischek, e um roteiro muito bem amarrado, cheio de situações facilmente identificáveis, Toni Erdmann vai crescendo à medida que avança na história. A isenção na definição de posicionamentos faz com que o público consiga desenvolver empatia pelos dois protagonistas, reconhecendo e entendendo, ora um, ora outro.

É justamente no equilíbrio que o longa consegue se destacar de tantos outros que abordam relações familiares. Não há aquele exagero no drama que costuma acompanhar as outras produções, nem o que se espera por padrão no subgênero. O que está na tela é inusitado, mas o modo como o longa é filmado torna aquela situação possível aos que a acompanham. Há excessos, compreensíveis, e mesmo que “malucos”, os eventos seguem uma lógica na construção da narrativa.

E está tudo muito próximo, real, quase palpável: em relações familiares, no individualismo moderno, na falta de comunicação que contrasta com a hiperconectividade, na impaciência, nos traumas, na correria do dia-a-dia, na autopercepção. Entre tudo, estão acertos e erros, insistências e desistências e um sentimento que não consegue morrer. Algo que vai muito além do “ninguém faz isso” das situações, e que está ali junto com cada uma das pessoas na sessão.

Um trabalho magistral na manipulação da identificação, do reconhecimento no outro. Toni Erdmann fala da vida e é intenso em suas reações dentro e fora da tela, sempre buscando reforçar o que é ser humano. Uma obra de arte sobre os dias de hoje.

Um Grande Momento:
“The greatest love of all”

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
1 Comentário
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Alessandro
Alessandro
20/01/2019 14:26

Vi ontem esse filme. Achei que ele é supervalorizado sabe-se lá por que motivo. Para mim não foi engraçado e muito menos dramático. Também não tive empatia com os personagens e achei todos eles muito chatos, principalmente a filha do tal Toni.
Os atores são corretos na suas atuações, e nisso não há nada que chamou minha atenção. A atriz principal protagonizou duas cenas que considero as mais constragedoras do cinema atual: uma em em ela faz sexo de forma grotesta, e outra, na qual ela aparece nua- Huller não tem corpo para isso- em uma sequência que não acrescentou nada à narrativa e a deixou ainda mais incoerente. Se é que o filme tem uma “trama”.
“Toni Edermman” é somente uma sucessão de “gangs” que em vez do riso somente me causaram uma profunda sensação de tédio. O aspecto dramático do filme também não me convenceu: é piegas e ingênuo demais.
A diretora não faz nada de extraordinário para que o filme tenha sido tão premiado. É um trabalho convencional de direção, com bons enquadramentos, mas nada de extraordinário.
“Toni Edermann” parece ser um daqueles filmes que grande parte do público odeia, fica enfadado e alguns críticos para contrariar grande parte dos expectadores e ser diferente encontra nele qualidades inexistentes.
Para mim “Toni Edermann” não funcionou. Foram mais de duas horas desperdiçadas em um filme muito pior do que muitas comédias americanas atuais, e também previsível em sua “mensagem”.
O fato dessa produção estar sendo cogitada para um remake demonstra a total falta de criatividade e originalidade dos roteristas de Hollywood. Esses motivos justificam o interesse em um filme tão chato que não traz nada de realmente bom e significativo para o cinema.

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