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10 Dias de um Homem Mau

Reunião de gêneros

(Kötü Adamin 10 Günü, TUR, 2023)
Nota  
  • Gênero: Policial
  • Direção: Uluç Bayraktar
  • Roteiro: Mehmet Eroglu, Damla Serim
  • Elenco: Nejat Isler, Ilayda Akdogan, Riza Kocaoglu, Kadir Çermik, Hazal Filiz Küçükköse, Senay Gürler
  • Duração: 118 minutos

Foi no início do ano que estreou a primeira parte dessa história, 10 Dias de um Homem Bom, mais uma investida turca na tela da Netflix, que diferente de alguns de seus exemplares, não atingiu o mesmo sucesso mesmo com resultados eficientes. Agora, a chegada de 10 Dias de um Homem Mau joga luz sobre o filme anterior, e monta um quadro de observação de um personagem muito curioso. E, estabelecido o jogo anterior como uma grande homenagem ao cinema noir através do desenho de narrativa, o novo capítulo retoma esse quadro adicionando um novo gênero cinematográfico ao molho. Sem largar pelo caminho sua característica principal, o filme abraça agora também o faroeste como forma de manter essa dinâmica de construir uma personalidade através da moldura. 

Dirigido pelo mesmo Uluç Bayraktar do primeiro, 10 Dias de um Homem Mau continua seguindo a trajetória do personagem vivido por Nejat Isler, um ex-advogado transformado em detetive particular particularmente caído em desgraça. Em determinado momento, ele declara: “não tenho muita sorte em ser feliz”, e com isso segue atraindo problemas, crimes e paixões desenfreadas que ele não permite a concretização. Embora ambos tenham uma vertente clara no humor, no primeiro título a melancolia era mais aparente. Aqui, apesar de ser um filme que trata de traumas recentes, um certo descompromisso está no ar desde o início, tirando da produção qualquer coisa que remeta a uma crise pessoal de sua forma. 

Diferente do filme do início do ano, aqui temos uma trama que não consegue ser lida com toda sua complexidade de maneira tão clara. Existe a impressão de que estamos diante de um título que insiste em tornar-se confuso mesmo não sendo, para angariar um adorno superior. O que consegue, com tanto empenho, é tirar a atenção do espectador e por vezes até irritá-lo, ao não posicionar sua leitura de maneira que abdique de um hermetismo que nem cabe no projeto. Quando começa a costurar o que insiste em deixar aparente, aí sim 10 Dias de um Homem Mau abandona seus trejeitos radicais narrativos para se concentrar na condução desse roteiro que respira aliviado ao ser levado menos a sério, criando uma simpatia que não existe o tempo todo.

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O elenco continua fazendo muito sentido, tanto individualmente quanto coletivamente. Estamos falando de um grupo grande de pessoas, com muitas demonstrações de ‘momento solo’, onde o brilho pessoal é posto à prova, com excelentes resultados. Encabeçado por Isler, é nas costas desse ator que todos os outros conseguem espaço para avançar suas narrativas, e de quebra ainda demonstrar o quão são interessantes os personagens que compõem esse mosaico. Mais uma vez, sua parceira de cena Ilayda Akdogan estabelece essa química com o protagonista, que dessa vez parece ainda mais à vontade e subversivo. É uma história de erros existente dentro de si, cujo elenco é responsável por esse empenho que repagina o resultado final. 

Ainda que seu ritmo nunca se estagne e que a disposição dos quadros, assim como no anterior, também contribua para que a montagem flua de maneira tranquila, 10 Dias de um Homem Mau sofre com uma certa indecisão de proposta. Fechando na direção de propostas aparentemente discordantes em sua feitura, o filme se debate entre o cinema policial, o faroeste revisitado, alguma comédia e o melodrama mais rasgado, a produção parece ter muitas velas a acender, e não sabe a que santo rezar. Os seus momentos mais deliciosos acabam sendo quando consegue isolar os gêneros uns dos outros, já que o amálgama entre eles não consegue se realizar. É para lamentar que o título cheio de predicados não consiga superar suas dificuldades e insista em problemas que, de alguma forma, o original se livrou mais facilmente. 

Um grande momento

Alucinando antes do incêndio 

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Alexandre Figueiredo
Alexandre Figueiredo
25/09/2023 09:39

Achei apenas razoável.

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