Crítica | FestivalMostra SP

Lara

(Lara, ALE, 2019)

  • Gênero: Drama
  • Direção: Jan-Ole Gerster
  • Roteiro: Blaz Kutin
  • Elenco: Corinna Harfouch, Tom Schilling, Volkmar Kleinert, André Jung, Gudrun Ritter, Rainer Bock, Susanne Bredehöft, Maria Dragus, Mala Emde, Mark Filatov, Edin Hasanovic
  • Duração: 98 minutos
  • Nota:

Introspecção. Em um ambiente esverdeado, sem muitas cores e grandes variações, Lara é alguém que não desabrochou e passou a vida tentando encontrar no outra a satisfação de uma uma vida que decidiu não realizar. A frustração foi transformada em ansiedade com o filho, pianista prestes a apresentar sua primeira composição. A relação é evidentemente complexa, o contato é evitado. Para piorar, o show acontece no mesmo dia de seu aniversário, e ela não foi convidada para a apresentação.

Tudo é meio doentio e, de certa maneira, identificável no longa-metragem de Jan-Ole Gerster. A figura construída por Corinna Harfouch está em dois lugares ao mesmo tempo: é introvertida e muitos tons acima do natural. É possível identificar o sentimento de amargor por trás da constituição daquela mulher que se julgou em algum momento insuficiente para seguir algum caminho e abandonou-o, depositando todas as suas expectativas no seu filho, um movimento natural entre pais e filhos.

Normal o movimento psicológico que se estabelece de vaidade-inveja quando o local almejado é atingido por outro que não você, mesmo que este outro seja o seu filho, num jogo de negação que parece não ser muito racional, mas é extremamente humano. O que se vê, portanto, está muito bem estabelecido dentro dos códigos sociais e é bem assimilado em seu crescente de tentativas e fracassos de reconexões, sucessos e equívocos.

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Gerster consegue recriar o ambiente de angústia dessa mãe em busca desse sucesso perdido, dessa reconexão materna, da relação com a própria música e da relação com o mundo que a cerca. Porém, só encontra artificialidade, e isso está nas posturas, no modo como Lara interage com as pessoas, em seus silêncios e olhares altivos, sempre tão arrogantes. Em tantos uma fotografia dominada por tons pastéis, seu sobretudo alaranjado se destaca ao longo do filme, reforçado essa sensação de separação desta mulher do ambiente onde ela está inserida.

Há ainda a relação com a música. A trilha sonora composta pelo iraniano Arash Safaian, e aqui vale destacar o belíssimo concerto apresentado por Victor, acentua a solidão que dá o tom ao filme. A melancolia é inescapável e talvez aí esteja a maior insegurança de Lara. A super determinação nem sempre é tão boa assim. É um filme que, sem dúvida tem seus bons momentos, mas carece de um pouco mais de sutileza.

Um Grande Momento:
Ao piano do vizinho.

[43ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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