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A Joan é péssima, de Black Mirror, poderia ser você

A nova temporada de Black Mirror chegou à Netflix trazendo à tona mais uma vez os lados mais obscuros e assustadores da tecnologia. Já no seu episódio de estreia, intitulado A Joan é péssima, a série consegue impactar os telespectadores de forma particularmente pungente, abordando os perigos da hiperconectividade e os limites da privacidade na era digital. 

É certo que, como costumeiro no seriado, o tom dos acontecimentos tende muitas vezes ao exagero, mas a lição final da trama não é nada menos do que necessária: os usuários devem ter mais cuidado com sua experiência na internet. E esse cuidado deve abarcar não somente o uso de ferramentas de cibersegurança, como uma boa VPN online, mas também uma atenção especial aos termos de uso dos serviços contratados. 

“A Joan é péssima”

No bem elaborado episódio, o espectador acompanha a protagonista Joan, interpretada por Annie Murphy, que descobre que sua vida foi transformada numa série dramática produzida por um serviço de streaming fictício chamado Streamberry. 

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Indignada com o fato (e com as inevitáveis consequências de se ter a vida exposta ao público), Joan busca meios legais de interromper a transmissão, mas se depara com uma reviravolta terrível: ao assinar os serviços do Streamberry, ela cedeu todos os seus direitos de imagem à companhia, dando carta branca para que essa criasse um programa usando todos os acontecimentos de sua vida – sem nenhum ônus.

Um medo bem real 

Entre os muitos triunfos de A Joan é péssima, destaca-se o fato de que os eventos da trama ressoam diretamente com o público, refletindo seus mais genuínos medos em relação à vigilância e exposição de sua intimidade. Isso sem mencionar que a premissa do episódio é perturbadoramente plausível, sobretudo diante da atual popularização dos serviços de inteligência artificial.

De fato, o criador do capítulo, Charlie Brooker, revelou recentemente ter se inspirado no caso real de Elizabeth Holmes, que ganhou uma transmissão de televisão em questão de três meses após a condenação da ex-CEO da Theranos.

“Estava assistindo a The Dropout, que é a dramatização do caso de Elizabeth Holmes e da companhia Theranos, com minha esposa e estávamos comentando sobre como parecia que tudo havia se passado ontem, e já havia um programa na TV sobre isso”, narrou Brooker.

Poderia acontecer com qualquer um

Embora a ideia de um programa de TV baseado na vida de alguém possa parecer absurda, isso não está tão longe assim da realidade. Segundo o especialista em privacidade de dados, Gaël Duval, é bem provável que, futuramente, algumas transmissões sejam criadas com base nos dados pessoais dos usuários combinados por uma plataforma de inteligência artificial.

Mas como essas informações poderiam ser coletadas? A resposta vem do próprio episódio, como explica Duval: “Quando você se questiona, ‘será que meu celular tem tantos dados assim sobre mim?’, a resposta é sim – ele guarda a maioria, se não todos os seus segredos”.

Assim, a mensagem subjacente é que o cenário retratado em A Joan é péssima pode acontecer com qualquer um. Afinal, a disposição dos usuários de trocar privacidade por conveniência e a grande quantidade de dados coletados por grandes empresas de tecnologia tornam os acontecimentos do episódio inquietantemente possíveis. 

Como se proteger

Para evitar situações de exposição como as sofridas por Joan, ou mesmo em menor grau, há algumas estratégias que podem ser adotadas. Entre elas:

  1. Ler os Termos e Condições. É fundamental que os usuários evitem simplesmente aceitar os fatídicos “termos e condições” dos serviços que contratam sem entender suas implicações. Deve-se especialmente reservar um tempo para revisar as Políticas de Privacidade e estar ciente de como seus dados podem ser usados.
  2. Minimizar o compartilhamento de informações. É importante também ter cuidado com a quantidade de informações pessoais que se compartilha online, sobretudo em plataformas de rede social. 
  3. Usar uma VPN. Uma VPN é capaz de criptografar seus dados e, assim, evitar que pessoas não autorizadas tenham acesso a eles – sendo uma medida de segurança cibernética particularmente essencial para quem utiliza redes de Wi-Fi público.
  4. Implementar a autenticação multifatorial. Ao usar a autenticação multifatorial, o usuário garante uma camada extra de segurança às suas contas online, prevenindo invasões e comprometimento de seus dados. 
  5. Ser seletivo com permissões de aplicativos. Deve-se revisar cuidadosamente as permissões solicitadas pelos aplicativos em seus dispositivos. Um conselho é apenas conceder acesso aos dados e recursos indispensáveis para o bom funcionamento desses programas.

Em suma, para se proteger contra o alarmante quadro retratado em A Joan é péssima, é necessário adotar uma postura proativa e vigilante, prestando mais atenção aos termos de uso antes de clicar em “concordar”, tomando cuidado com o que se compartilha nas redes sociais e fazendo uso de ferramentas de segurança digital, para um nível de proteção adicional.

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