- Gênero: Comédia
- Direção: Autumn de Wilde
- Roteiro: Eleanor Catton
- Elenco: Anya Taylor-Joy, Angus Imrie, Letty Thomas, Gemma Whelan, Bill Nighy, Edward Davis, Rupert Graves, Miranda Hart, Myra McFadyen, Mia Goth, Johnny Flynn
- Duração: 124 minutos
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Cercada de expectativas por parte dos fãs austenianos, a nova versão de “Emma”, o clássico da menina fuxiqueira metida a cupido – escrito em 1815 pela britânica Jane Austen – chegou aos cinemas já de forma tímida em fevereiro deste ano, um pouco antes das salas fecharam por conta da epidemia do novo coronavírus.
O filme veio ao longo dos meses estreando no VoD, primeiro no Now e agora no Looke, para deleitar os fãs de romances e comédias vitorianas ainda enclausurados no isolamento, longe de seus crushes. Mas como aquela idealização romântica que se faz do ser amado, especialmente quando se está há muito tempo sem vê-lo, essa adaptação cinematográfica dirigida por Autumn de Wilde não é tão atraente de perto.
Tem um belo exterior, com os cenários, a fotografia, o figurino (de Alexandra Byrne, que deve ganhar alguns prêmios quando as premiações voltarem a ocorrer), mas tanto a música quanto algumas atuações são estridentes demais e fora do tom. Chega a dar pena o quanto se quer amar a Emma Woodhouse da promissora Anya Taylor-Joy (A Bruxa), enquanto ela arma seus esquemas para saciar a sede de amor dos pobres diabos e meninas ordinárias que a cercam. Ela encarna bem a faceta pedante de Emma, mas com um azedume que não é característico da menina abastada e ingênua – ao menos não da que lemos na literatura ou mesmo que foi encarnada corretamente por Gwyneth Paltrow na versão de 1995 – ou talvez o problema seja o brilho da simplória Harriet Smith (A Cura), muito bem defendida por Mia Goth, que a tenha ofuscado.
Fato é que fica difícil torcer para que as peripécias de Emma funcionem a contento e que ela própria, sendo uma figura tão insípida, encontre o amor – mesmo que seja na forma quase albina e metida a sagaz de George Knightley, de um Johnny Flynn (Acima das Nuvens), nada à vontade no papel. Ou seja, um casal quase albino de duas pessoas pouco empáticas e nada simpáticas, numa encarnação bem diferente da de outras versões no cinema e especialmente díspar se analisados os personagens do romance literário.
Knightley é o típico cavalheiro generoso, boa pinta e irônico, que quer ajudar todos, mas especialmente Emma – com quem tem uma espécie de parentesco nobre distante – a ter momentos de alegria. Para ele seria como morrer e cair em desonra revelar seus sentimentos pela jovem que brinca de cupido, manipulando pessoas débeis e doces como Miss Bates (a esplêndida Miranda Hart, de A Espiã Que Sabia de Menos), então ele segue Emma mas sempre se coloca como um confidente, não pretendente.
A Cineasta de Wilde elabora um jogo de gato e rato que é visualmente estonteante, nos encontros e desencontros de Emma e Knightley, nas trapalhadas envolvendo Harriet e Robert Martin, porém na dança de corações ela esquece de emprestar alma a adaptação do texto e, a exemplo do que fez Greta Gerwig em Adoráveis Mulheres – outro texto clássico e caro a gerações de leitores -, colocar um pouco de si, da sua visão, nesse Emma 2020.
Elementos não faltariam, com uma equipe técnica e um elenco tão competente em mãos. E com isso não significaria reinventar a roda, mas tornar esse filme memorável e não uma pintura neoclássica belíssima mas sem substância ou densidade.
Um grande momento
Retornando do baile no torpor após o acidente de percurso.