(I'm Thinking of Ending Things, EUA, 2020)
Estou Pensando em Acabar com Tudo, novo filme de Charlie Kaufman lançado pela Netflix essa semana, não nega a autoria. Dono de uma habilidade ímpar para compor imagens e fazê-las contrastar com o texto, aqui ele vai ao cúmulo do inusitado para criar a sua metáfora do tempo e comparar realidade e imaginação, pensamento e ação. Do vazio preenchido por uma voz que narra o futuro e o presente, o que se vê antecipa aquilo que ainda se é incapaz de saber.
É o jogo kaufmaniano de representações, alegorias, pausas. E é preciso se entregar a ele para que se sinta tudo aquilo que está posto. A repetição é algo sempre presente, assim como a sensação de tempo passado. O diretor cria narrativas paralelas e as vai conectando sutilmente, além de fazer com que personagens e espectador estejam no mesmo lugar de estranhamento.
No espaço restrito do começo, apresenta aquilo que determina a relação do casal principal, vivido brilhantemente por Jessie Buckley e Jesse Plemons. Sem muitas opções cênicas, aprisionados, lhes sobram as palavras. Diálogos trabalhados em detalhes, com muitas referências, filosofia, psicologia, poesia, física. Tantas informações que transformam o tempo da viagem na duração da relação ou na persistência da solidão. É bonito e assustador chegar a essa identificação.
Porém, neste lugar de identificação, é impossível negar a subjetividade daquilo que se apresenta. No melhor do cinema, acepções são várias e dependem exclusivamente da experiência de quem assiste ao filme. São dois ou é apenas um? É nostalgia ou imaginação? O tempo, o cotidiano e a repetição matam o novo e trazem o velho e indesejado, fato, mas será que é disso que se trata?
Talvez essa seja a melhor coisa do cinema de Kaufman, essa insegurança na mensagem. Por mais perceptível que ela seja, vem acompanhada de dúvidas, possibilidades, pegadinhas. Isso está em Sinédoque, Nova York e Anomalisa, dirigidos e escritos por ele, e também em Quero Ser John Malkovich, Adaptação e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, todos roteirizados por ele.
Autor desde antes, quando assume a direção em Sinédoque, embora leve na bagagem muito do cinema de seus parceiros Spike Jonze e Michel Gondry, o realizador cria uma estética própria, muito baseada na reconstrução, numa representação ao mesmo tempo óbvia e surreal. Mais do que texto, uma gramática visual elaborada dá corpo ao extravagante. Kaufman sabe filmar o vazio, sabe ilustrar e confundir.
Em Estou Pensando em Acabar com Tudo, há vários momentos imagéticos marcantes, mas um em especial chama atenção. No jantar em que vai conhecer os pais de Jake, a câmera que foca na jovem mulher – assim mesmo, sem nome – se movimenta de modo a excluir todos os outros personagens da cena. Aquilo que se vê atrás da porta, como um resto de imagem, se conecta com as primeiras palavras da personagem, uma confirmação da preponderância dos atos, sociais, sobre os pensamentos, individuais.
As interações além-casal são poucas, mas algumas valorizam, e muito, o longa, como as com os pais de Jake em suas muitas variações, trabalho igualmente incrível de David Thewlis e Toni Collette. Personagens se repetem em lugares e tempos diferentes. Imagens de uma realidade se concretizam em outra e até mesmo se projetam pela mente. A solidão, o não lembrar do passado, a idealização da criatura perfeita, o dar-se conta da invisibilidade e da inexistência. São temas muito complexos trabalhados em camadas alternadas, que se casam, sem nunca precisar de uma trama linear.
Assistir a Kaufman é isso: se perder no inesperado, no pseudo-ilógico e ver suas crenças e antecipações caírem por terra. Estou Pensando em Acabar com Tudo pode ser um drama ou thriller melancólico e sombrio, e pode chegar, num piscar dos olhos, a uma composição de balé que reencena o romance de “Oklahoma!” ou a uma interferência da lembrança em forma de animação. Formas e gêneros que se misturam para compor uma obra diversa e instigante, que podia ser vista em looping sem nenhum problema.
Da encenação teatral à elaboração audiovisual clássica, do contraste das cores à iluminação que vai criando a opressão, estão as correntes literais do voltar para casa e a impossibilidade de acabar com tudo. Como se algo realmente tivesse existido em algum lugar. Mas isso fica à escolha de cada um.
Um grande momento
“Eu acho que vejo filmes demais”.
Resumindo a crítica: não tem história. Não se sabe se eram um ou dois, se nostalgia ou imaginação… Ou PN. O filme é um saco em loop. Não se salva nem o balé de Oklahoma, nem o desenho ala Betty Boop, nem o teatrinho de high school, nem a escola ala kubic hotel… Sendo direto: chato, sem história (aberto), sem reflexão… Vai ver um filme de zumbi q é melhor…
Dois ou um?
Ele é sou um é a vidade dele revista no leito da morte, a namorada são todas as mulheres da vida dele em volta da paixão dele pelas artes musica teatro cinema