- Gênero: Ficção
- Direção: Marco Antonio Pereira
- Roteiro: Marco Antonio Pereira
- Elenco: Aparecida Gomes, Ana Júlia Gomes, Adalberto Gomes
- Duração: 15 minutos
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4 Bilhões de infinitos, um milhão de infinitos e infinito vezes infinito são contas comuns na língua das crianças. O novo filme de Marco Antônio Pereira capta a representação básica de esperança e mergulha no universo infantil. Ainda seguindo os padrões de seu cinema caipira com toques fantásticos, que estão ali no começo do filme ou nas sequências oníricas, encontra e apresenta ao público Adalberto, um menino que passa os dias cuidando da irmã menor e sonhando com dias melhores.
Em uma casa sem energia elétrica, o pequeno é aficionado por luz. Sonha com ela, a vê pelo campo, e quer ser cinema. Essa relação de luz e cinema permeia todo o filme e o dia a dia de Adalberto, que inventa sua própria maneira de criar energia com as baterias que a mãe tem em casa e vários cataventos, sofre com o fato de não conseguir, ele burla e sonha. O diretor e também roteirista conta sua história dando tempo e espaço ao protagonista. É um filme que admira seus personagens – o cinema de Pereira está muito nesse lugar do olhar – e favorece a criação do vínculo.
Ainda que dê alguns passos vacilantes, principalmente no início do filme, o contraste entre a falta de crença nos olhos de Adalberto e os posicionamentos da irmã caçula, Ana Júlia, funcionam bem. Eles passam horas conversando sobre tudo. Ele conta suas tentativas de fazer a luz, lamenta não ter dinheiro para comprar o presente de aniversário, ajuda nas lições e divide os maus feitos na escola. Se as primeiras interações são duras e estranhas, isso muda à medida que o filme avança e a intimidade entre os dois irmãos na vida real domina a interação.
Pereira fala de uma realidade dura, que é a de maior parte da população brasileira. Crianças que precisam cuidar de crianças para que as mães possam trabalhar, falta de serviços essenciais, descaso do Estado. Ao mesmo tempo, ele pontua a visão infantil, em um universo positivo e que enxerga no futuro a solução para todos os problemas, ou seja, esperança. E a influência se dá entre iguais também. Quando Adalberto começa a vacilar e já não tem mais tanta certeza, Ana Júlia ainda acredita, levando-o junto com ela.
Isso dá força para que ele mantenha o seu maior sonho, que é o mesmo do diretor, embora este hoje esteja em uma posição mais confortável e possível. Há, portanto, uma identificação entre personagem e criador, que dá ao cinema força enquanto ferramenta de mudança e incentivo à esperança, num jogo simbiótico. Adalberto quer o seu cinema, mesmo que não tenha energia, mesmo que não tenha luz. Ele não quer televisão e celular, porque são solitários, ele quer algo onde as pessoas se divirtam juntas.
Metaforicamente, a vida daquele menino que quer ver as imagens projetadas em uma tela mas não tem o elemento primordial para isso, é o retrato de um país que quer fazer cinema sob um governo que tira a luz de toda e qualquer atividade cultural. E cinema é luz. É preciso a crença e a esperança que estão ali na inocência da expressão “4 bilhões de infinitos” para que algo se concretize ou, pelo menos, continue sendo sonhado.
Há muito cuidado e delicadeza na construção do universo de 4 Bilhões de Infinitos, que Pereira, um cineasta sonhador, molda como quer, já que também assina a fotografia, a arte, o desenho de som, a montagem e até mesmo a trilha sonora. Em planos elaborados apresenta o interior das duas crianças, para que elas possam, literalmente, olhar para quem as vê sem que haja ruídos.
Do carinho fraterno à felicidade nos detalhes, só a inocência e a esperança podem chegar nesses lugares. Que o futuro o dois – e desse país – seja de realização. Porque, mesmo que a imaginação consiga alimentar, é preciso mais para ser feliz.
Um grande momento
O conto da mulher-luz