- Gênero: Ação
- Direção: Taylor Sheridan
- Roteiro: Michael Koryta, Charles Leavitt, Taylor Sheridan
- Elenco: Angelina Jolie, Finn Little, Jon Bernthal, Aidan Gillen, Nicholas Hoult, Jake Weber, Medina Senghore, Tyler Perry, Boots Southerland, Tory Kittles, Lora Martinez-Cunningham, Howard Ferguson Jr., Ryan Jason Cook
- Duração: 100 minutos
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Há 20 anos atrás Angelina Jolie estrelou filmes como esse Aqueles que me Desejam a Morte, estreia dos cinemas brasileiros nesta semana. Produções como Roubando Vidas e O Colecionador de Ossos não acrescentaram nada ao currículo da estrela nem ao de quem assistiu, mas eram típicos thrillers herdeiros dos anos 1990, onde astros e estrelas acabaram por encabeçar uma produção bem rasa do gênero para se firmar no primeiro pelotão do ‘star power’, uma forma descompromissada de criar uma marca com o seu nome. Para hoje em dia, era esperado que atrizes como Julia Garner (de A Assistente) ou Cynthia Erivo (de Harriet) estivessem fazendo esse tipo de material, não uma estrela de primeira grandeza como Angelina.
Produção de narrativa muito modesta, cuja realização nem tenta enfatizar algo mais sofisticado, o filme escrito e dirigido por Taylor Sheridan (de Terra Selvagem) encontra o diretor em plena entressafra. Um mês depois da estreia de Sem Remorso, outro roteiro seu anêmico e perdido no tempo em pelo menos três décadas estreia sem provocar maiores emoções que não as baratas e passageiras. A adrenalina a cargo do filme dura a exata 1 hora e meia necessária e se dissipa assim que os créditos sobem, deixando claras suas ambições absolutamente momentâneas – reunir os amigos e abstrair as tensões do dia a dia.
Baseado em livro de Michael Koryta (que também colabora no roteiro), Aqueles Que Me Desejam a Morte remete muito rapidamente a títulos como O Cliente, e Código para o Inferno, ambos alicerçados em uma criança testemunha de um crime que precisa ser protegida de vilões em seu encalço. A sorte do filme em particular é contar não apenas com o carisma de Angelina, mas principalmente com o imenso talento do pequeno Finn Little como co-protagonista. Rapidamente o espectador compra sua jornada graças a sua personalidade e a sua entrega em cena, que consegue transmitir seu medo, sua insegurança e sua tensão na tela, capturando o público do início ao fim.
O desenho dos personagens, no entanto, segue tal padrão esperado que conseguimos antecipar mortes (e o que só parecem mortes) de acordo com a minutagem da produção. Assim sendo, aquele perfil do “profissional que teve uma perda trágica no passado e segue com um trauma referente ao mesmo” é defendido por Angelina apresentando as armas tradicionais; não falta talento a atriz, mas ele também não é exigido aqui. Tanto com ela quanto com outros personagens, há uma padronagem que precisa ser cumprida e o filme a segue à risca, sem sobressaltos. Não demora para que o mínimo de interesse cesse, já que até sua tensão segue uma cartilha.
Como uma fórmula de bolo, o filme não permite qualquer leitura amplificada de seu roteiro ou sua realização, já que tudo parece montar um mosaico muito conhecido e restrito de potencial analítico. É uma leitura clássica e um tanto preguiçosa da redenção através da maternidade espelhada em duas personagens centralizadas na narrativa, uma repleta de perdas e outra que não admite o erro. Além de Jolie, a personagem de Medina Senghorne representa também esse recorte do roteiro, repleto de exemplos de paternidade a ponto do sacrifício. A protagonista Hannah, no entanto, pretende exaurir a culpa que a persegue e que pode ser parcialmente aplacada.
Tem uma discrepância estética na produção, além de tudo. Falta uma combinação entre o que desejaria a direção, e o que o filme estaria disposto a mostrar de fato. Suas ambições imagéticas não condizem com a natureza do projeto, que amplia um leque mais solar na fotografia de Ben Richardson (colaborador de Sheridan) para um projeto cujo olhar pedia algo mais introjetado na densidade, Como resultado, duas cenas de violência gráfica, referendadas com exatidão, parecem deslocadas dentro do visual geral, mergulhado em um clima quase familiar – não há minimamente nem uma dose de ironia para encaixar tal olhar surpreendente, apenas dois homens sendo assassinados com requintes de detalhes em meio a placidez de uma “sessão da tarde”.
Ao contrário de produções recentes que emularam os anos 90 como Fúria Incontrolável e A Mulher na Janela, esse Aqueles que me Desejam a Morte não investe em qualquer fagulha de frescor, sendo realização, concepção e desenvolvimento todos sem qualquer fôlego, restando ao espectador acompanhar a figura cada vez mais bissexta de Angelina em cena sendo engolida por seu partner Little, um daqueles casos de criança ladra de cena, aqui sem histrionismo ou arroubos dramáticos. O pequeno grande ator carrega esse exemplar muito burocrático nas costas com uma delicadeza e uma novidade que falta a todo o resto.
Um grande momento
O acidente de carro