Qualquer um que se interesse minimamente pelo Oscar, ou por premiações televisionadas em geral, geralmente com ligações às academia de cinema de seus respectivos países, já se acostumou em perceber o apreço dos colegiados não apenas por biografias de grandes personalidades, mas principalmente pelo trabalho de seus atores e atrizes na tentativa de mimetizar tais personagens. Vejamos o nosso próprio caso, onde trabalhos como os de Stepan Nercessian em Chacrinha: O Velho Guerreiro, Babu Santana em Tim Maia, Andreia Horta em Elis, Daniel de Oliveira em Cazuza: O Tempo não Pára, Tony Ramos em Getúlio e tantos outros renderam louros e troféus para cada um deles.
Em cada parte do mundo, isso é uma tendência. O Oscar ao longo da última década tem se esforçado para criar uma renovação sistêmica em seu cada vez maior corpo de votantes, e com isso tem conseguido resultados inimagináveis em suas últimas edições, como o aumento de reconhecimento para longas descentralizados da língua inglesa, o reconhecimento para profissionais não-americanos em inúmeras categorias e premiações maciças para filmes como Nomadland, Parasita, Roma e produções menos óbvias como Corra!, Me Chame pelo seu Nome e Moonlight recebendo reconhecimento merecido, em uma mudança gradual porém necessária.
Já entre os grupos de atores, continuamos com a tendência de chamar a atenção por tentar parecer ao máximo com um certo ator, cantor, político e/ou personalidade histórica – bom, às vezes nem precisa ser tão histórico assim, basta você ter um perfil na wikipedia, que pode ser uma boa reconhecer seus méritos, que podem ou não ser resumidos a horas assistindo vídeos e mais vídeos do biografado em questão. Uma questão claramente subjetiva, e que mesmo dentro da subjetividade carrega seus méritos e deméritos, o Cenas de Cinema resolveu colocar a mão na massa e eleger as 10 melhores e as 5 piores interpretações premiadas com um Oscar e que foram baseadas em figuras reais. Pode curtir, pode odiar, pode reclamar e pode endossar, só não pode ficar indiferente, porque amamos listas, né?
Este Top Oscar também é motivada pelo ano que parece ser assolado por biografias, onde provavelmente os dois intérpretes principais podem acabar com troféus biográficos no colo. Sempre lembrando que, como subjetividade foi colocada e como é uma lista parcial, não será apenas definida a qualidade da “cópia”, por assim dizer, mas também o trabalho em si e sua complexidade, independente de ter ficado parecido com o homenageado ou não.
TOP OSCAR: AS 5 PIORES
5) Matthew McConaughey, Clube de Compras Dallas
Uma das maiores falácias em torno do que seria considerado uma “boa interpretação” é a capacidade mutante do ator em modificar sua forma física, e isso não ser visto como o que objetivamente é – criação estética. Ron Woodroof, o homem incorporado por McCounaghey, fez com que ele emagrecesse mais de 25 quilos para o papel, e não consegue ir muito além disso na superfície.
4) Meryl Streep, A Dama de Ferro
Mesmo a considerada “maior atriz americana de todos os tempos”, com mais de 20 indicações ao Oscar, caiu na armadilha de conseguir a tão sonhada terceira vitória depois de quase 30 anos da última, ao dar vida a Margaret Tatcher, em uma interpretação que não consegue acertar seu tom em um filme desastroso.
3) Eddie Redmayne, A Teoria de Tudo
Como o físico teórico Stephen Hawking, o maior em sua área de atuação, Redmayne copiou cada gesto do biografado, e se apoiou em muletas estéticas para dar conta de revelar as emoções de seu personagem, eclipsadas por uma composição exagerada que resvala no estereótipo, em um projeto raso.
2) Luise Rainer, Ziegfeld: O Criador de Estrelas
Um filme datado que já prenunciava o pior das produções do gênero, e uma atriz que ganhou dois Oscars muito problemáticos, que estão em lugares muito criticados e que acabou por ficar marcada pelas escolhas equivocadas de uma Academia que, vê-se, erra desde os primórdios.
1) Rami Malek, Bohemian Rhapsody
Essa escolha foi fácil. Um dos mais atacados da História do Oscar, não há muita explicação para um prêmio que não passou de histeria coletiva, motivado pela arrecadação de quase 1 bilhão de dólares da produção, da comoção de fãs da banda Queen e do carisma que Freddie Mercury nunca deixou de ter. Foi o que influenciou a vitória de um ator que nunca consegue ir além da tentativa vã de imortalizar uma lenda.
TOP OSCAR: AS 10 MELHORES
10) Daniel Kaluuya, Judas e o Messias Negro
Fred Hampton, um dos criadores do movimento Panteras Negras, vive na interpretação avassaladora de Kaluuya, vencedor do mais recente troféu de ator coadjuvante, um trabalho poderoso, fascinante e muito carinhoso, tudo ao mesmo tempo.
9) Ben Kingsley, Gandhi
Em um filme que envelheceu muito mal, ainda salta aos olhos o trabalho de Kingsley, que incorpora mais do que a personalidade de um dos líderes pacifistas mais conhecidos do mundo, mas principalmente sua aura e sua postura, ressignificando o legado que o personagem deixou à sociedade.
8) Helen Mirren, A Rainha
Por falar em postura, poucas vezes uma foi tão encorpada, tão sutil e ao mesmo tempo tão enérgica em seus desejos. Mirren parece ter se preparado a vida inteira para o papel que a imortalizou, para o qual trouxe dignidade e decência ímpares, apesar dos pesares.
7) Robert DeNiro, Touro Indomável
Jake LaMotta é maior do que listas, e a presença de DeNiro aqui é não apenas para reconhecermos sua maioridade durante quase 30 anos no cinema, como também sua corporificação absurda de um herói do boxe, fonte de inúmeras inspirações.
6) Martin Landau, Ed Wood
Landau entrega um retrato de uma lenda do cinema, Bela Lugosi, de maneira tão mediúnica que o rosto de Lugosi, hoje, se confunde com o do próprio ator, em uma simbiose quase única na sétima arte. Uma interpretação que é pura demonstração de afeto e de encantamento pelo cinema.
5) Daniel Day-Lewis, Meu Pé Esquerdo
O primeiro dos 3 Oscars de Day-Lewis é a sua versão para o pintor Christy Brown, que graças a uma deficiência motora, realizava sua arte com os pés. A parceria entre o ator e o cineasta Jim Sheridan renderia outros momentos marcantes, mas o trabalho do britânico aqui é inesquecível.
4) Charlize Theron, Monster: Desejo Assassino
Existe um documentário que foi igualmente indicado ao Oscar sobre Aileen Wuornos, e o surgimento de Theron em tela, aqui, é a prova de que para as regras, sempre existem exceções. Transformada fisicamente e emocionalmente, sua interpretação é a prova do poder da transcendência do corpo.
3) Sean Penn, Milk – A Voz da Igualdade
O primeiro político abertamente homossexual Harvey Milk venceu anteriormente o Oscar de melhor documentário, onde sua trajetória é esclarecida por inteiro. Aqui, há um recorte temporal onde Penn demonstra talentos insuspeitos de suas capacidades, e o ator conseguiu capturar toda a essência do movimento LGBTQIA+ em um dos seus ícones.
2) Hilary Swank, Meninos não Choram
Uma das maiores interpretações já premiadas com o Oscar, Swank desaparece sob Brandon Teena, um transsexual masculino vítima de todos os tipos de violência. Daqueles momentos grandiosos da arte, a atriz excede suas capacidades e prova que pode ter sido desprezada pela indústria, mas seus 2 Oscars mostram que uma atriz gigantesca reside nela; aqui, ela prova seu valor por mais de uma encarnação.
1) Marion Cotillard, Piaf – Um Hino ao Amor
A voz do povo é a voz de Deus. Considerada um dos maiores acertos da História da Academia, Cotillard está assombrosa como Edith Piaf, uma das maiores cantoras de todos os tempos. Única intérprete francesa a ganhar um Oscar falando em sua própria língua, sua performance é magistral, carregada de complexidade e inesquecível.