Críticas

Prisoner’s Daughter

Desperdício de talento

(Prisoner's Daughter, EUA, 2022)
  • Gênero: Drama
  • Direção: Catherine Hardwicke
  • Criador: Mark Bacci
  • Duração: 100 minutos

A principal questão de Prisoner’s Daughter não é ser um filme que conta uma história tantas vezes vista antes, já que muitas são as tramas que se repetem no cinema, mas a sua total falta de carisma. É muito estranho que o longa seja assim tão vazio e irrelevante quando tem como protagonista Brian Cox, ator que acabou de deixar sua marca na história da televisão com o complexo magnata Logan Roy, de Succession e ao seu lado os esforçados Kate Beckinsale (Anjos da Noite: A Evolução) e Christopher Convery (Pinball: The Man That Saved The Game) sob a batuta de Catherine Hardwicke. Mesmo que a filmografia seja irregular, a diretora do potente Aos Treze e do sucesso de bilheteria adolescente Crepúsculo tem como característica a maneira como percebe e transpõe os universos que retrata.

Há espaço para isso nessa história que se passa em uma Las Vegas longe dos cassinos, dos palcos e camarins das showgirls, mas nada se concretiza ou mesmo chega a ter um real significado. Com a profundidade de um pires, o roteiro assinado por Mark Bacci é um emaranhado de clichês, apelações e equívocos. Isso fica bem claro logo no início, quando somos apresentados aos personagens. Com câncer de pâncreas já em estágio avançado, Max, um presidiário que acaba de descobrir que tem poucos meses de vida, consegue o benefício da prisão domiciliar desde que sua filha, Maxine, aceite ficar com ele em sua casa. Ela é Maxine e aceita a proposta em troca de dinheiro, já que não tem como comprar os remédios para a epilepsia de seu filho Ezra, mas a doença é só um detalhe em sua desgraçada vida.

Com muito pouco dinheiro e algumas dívidas, a mulher precisa se desdobrar em dois empregos. Não basta, em poucos minutos, a vermos passar por assédio sexual e ser demitida por causa do ex-marido abusivo e viciado em drogas – vivido por um destoante Tyson Ritter – que agride seu chefe; ainda teremos flashbacks para presenciar o sofrimento de ter uma mãe alcoólica. Bacci acha que o exagero de sofrimento, já que oferecerá bastante material para o melodrama, é o suficiente para estabelecer uma trama convincente. Bom, não é. Sobre uma base muito simples: pai e filha tentam se reconectar depois de anos de negligência e ausência, vão se acumulando eventos forçados e excessivos.

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Entre diálogos pouco realistas e passagens antiquadas de vinganças contra bullies, Prisoner’s Daughter encontra seu ponto sentimentaloide e vai se desenvolvendo até um final para lá de equivocado. Cox, Beckinsale, Convery, e Ernie Hudson, que surge como um antigo amigo de Max, fazem o que podem com o fraquíssimo material que têm nas mãos. E é incrível que, tendo tanto potencial humano para trabalhar, sobre espaço e se escolha dar relevância para um personagem ainda mais mal desenvolvido do que o de todos eles: Tyler, o pai de Ezra e ex-marido de Maxine. O problema é acentuado com a atuação carregada e desconectada de Ritter, coisa que se complica quando o filme se aproxima do final e ele ganha um sidekick ainda mais caricato. Que o diga a festa de aniversário.

Tem um lampejo que vem com as fontes e ressalta o deslocamento na cidade, o interesse pelo que existe de cotidiano ali. Porém, ele é só mais um desperdiçado em Prisoner’s Daughter, que mira na desestereotipização e acerta no contrário, não há vida fácil, tranquila ou feliz por ali. A história de Max e Maxine, por ter o contexto criminal no meio, é ainda mais dura e trágica. O que se vê segue o caminho esperado, mas sem realmente chegar a algum lugar. Ficam as boas atuações e a certeza de que histórias se repetem, sempre, mas não é qualquer coisa que as fazem funcionar. Pelo contrário, é muito fácil fazer com que elas não funcionem.

Um grande momento
O dia na piscina

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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