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Blackout

Ruim até para canastrões

(Blackout, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Sam Macaroni
  • Roteiro: Van B. Nguyen
  • Elenco: Josh Duhamel, Abbie Cornish, Omar Chaparro, Nick Nolte, Bárbara de Regil, Hernan Del Riego
  • Duração: 81 minutos

Assim que Blackout termina, uma pergunta brota na cabeça: por que insistir tanto no canastrão Josh Duhamel? Tudo bem, o cara é bonito, tem um corpão, uma voz ótima, sabe lutar, mas em capacidades interpretativas está bem aquém do que precisa. Além disso, fora Com Amor, Simon e o primeiro Transformers, onde ele era o pior personagem, não há muita coisa que se salve em sua filmografia. E olha que estou falando lá do começo da carreira, quando ele ainda não tinha as limitações tão conhecidas e devia ter a possibilidade de ser escalado para outras coisas. Fica a dúvida se a escolha por filmes com ele é por achar que um dia pode melhorar ou masoquismo mesmo.

Porém, ignorado o sinal amarelo e play apertado, é importante que a justiça seja feita. Não há canastrice ou inabilidade que se comparem com a bagunça que é o filme escrito pela roteirista Van B. Nguyen, em seu primeiro longa, e dirigido por Sam Macaroni (O Hóspede Penetra). Partindo da premissa batida e completamente previsível do cara que está envolvido com o máfia e o DEA (o departamento antidrogas dos Estados Unidos), e perde a memória em um acidente de carro após uma missão, o título é um emaranhado absurdo de clichês e repetições. 

A ação de Blackout se concentra quase toda em um único lugar, um hospital decadente, e tem um período restrito, sem grandes passagens no tempo, deixando que flashbacks tentem resolver suas lacunas. Com todos os personagens limitados e de destino telegráfico, fica muito evidente a intenção de procurar o cinema adrenalina e se entregar a ele. E vai ter luta e tiro para todo lado mesmo, com direito a fuga pelos cabos de aço do elevador, confronto na cozinha (com alguém sendo arrastado na bancada e a tensão da chapa acesa), fuga pelo duto de ventilação e mais outros tantos checks para o que já foi visto antes no cinema do gênero. 

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Pior do que a cansativa profusão de momentos de combate e escapada é o descontrole da direção. No cinema de ação, há filmes que sobrevivem sem o roteiro, mas o mínimo que precisam ter é uma lógica estética para aquilo que está sendo apresentado. Macaroni está descontrolado aqui. O diretor publicitário e de videoclipes quer usar TUDO que ele tem à disposição. São filtros, ângulos, lentes e câmeras lentas usadas sem a menor justificativa e comedimento. Com a trilha sonora ostensiva e desconjuntada, mais parece uma peça promocional de qualquer aplicativo que crie efeitos e faça edição de imagens.

E olha que existe um enredo, uma história a ser contada, mas a desatenção e o exagero fazem com que ela quase desapareça. Se até mesmo o diretor não está dando muita atenção a ela, como o público iria se interessar, ir além daquela adrenalina básica e disfuncional? Para complicar, quem está à frente de tudo é Duhamel, sendo mais uma vez Duhamel. Perdidos no meio do caos, estão Nick Nolte – a pessoa foi indicada para três Oscars e veio parar aqui – e Abbie Cornish – que mesmo sem indicação não merecia esse destino trágico –, ambos sem quase nenhum material a ser trabalhado. Se Ethan é alguém que já vimos milhares de vezes, Anna é uma personagem sem sentido, com atitudes absurdas e diálogos terríveis.

O filme tem tudo no lugar errado. Até mesmo o canastrão não combina com a qualidade do resultado final e merecia, assim como o público, algo melhor. Cansativo e mal elaborado, Blackout talvez funcione para quem está buscando o gênero, mas vai ser só por alguns momentos, antes do aborrecimento chegar para ficar.

Um grande momento
O acidente

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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