(A Vizinhança do Tigre, BRA, 2014)
Direção: Affonso Uchôa
Duração: 95 min.
Nota: 7
Durante cinco anos, o diretor Affonso Uchôa filmou a vida de alguns moradores do bairro do Nacional, em Contagem. Juninho, Menor, Neguinho, Elton e Adilson são os jovens de diferentes idades e em diferentes fases de vida selecionados como personagens. Os problemas profissionais de uns se misturam aos problemas escolares de outros. Prioridades se confundem e, entre uma conversa e outra, percebe-se a violência que impera sobre o local.
A Vizinhança do Tigre é um filme potente por expor questões profundas sobre a realidade dos subúrbios pobres, comunidades excluídas. Pode ser exigida uma postura quando toda a realidade em que vive a pessoa exige outra completamente diferente? Até que ponto é possível determinar que a constituição social é influência do meio externo ou traço de caráter?
O documentário encenado de Uchôa oferece ao espectador uma chance de descobrir aquela sociedade e, através dela, fazer repensar uma série de certezas e preconceitos desenvolvidos ao longo do tempo. Referências visuais e uma certa familiaridade com o ambiente trazem o público para dentro da experiência, facilitando o acompanhamento da vida de cada um dos personagens.
A seu favor, o documentário tem uma fotografia inspirada e a intimidade com que os personagens interagem com a câmera após tanto tempo de convivência, além da empatia natural de alguns deles.
Se há algum problema, ele está na montagem, mas nada tão grave assim, principalmente quando se leva em consideração que o filme é resultado de cinco anos de gravação e uma quantidade imensa de material bruto gerado.
Uchôa acerta ao expor a violência de uma maneira completamente diferente da que estamos acostumados a ver. Ela está por todo lado e não poderia ser mais presente na vida daquelas pessoas, mas não é explícita. Uma violência latente, que não se vê, mas se sente.
A Vizinhança do Tigre chega para mostrar, de uma maneira completamente diferente, aquilo que estamos cansados de saber que existe, mas insistimos em ignorar. Um retrato eficiente e perturbador de pessoas que vivem à margem da sociedade, esquecidas em um mundo onde sonhos morrem com muito mais facilidade do que deveriam.
Um Grande Momento:
Menor e Neguinho.