(Abjetas 288, BRA, 2020)
- Gênero: Ficção
- Direção: Júlia da Costa, Renata Mourão
- Roteiro: Júlia da Costa, Renata Mourão
- Elenco: Débora Arruda, Dandara Fernandes, Jeane Menezes, Ada Viana, Maria Tereza Xavier, Daniel Quintiliano, Gustavo Miranda
- Duração: 20 minutos
Mulheres pretas, corpos trans, tonalidades em preto branco e cinza num futuro distópico mas nem um pouco apartado do presente devassado que o país encara. Essas são as ferramentas imagéticas postas em cena no curta Abjetas 288. A dupla de realizadoras Júlia da Costa e Renata Mourão narram a jornada de uma dupla, Joana e Valenza, por uma Aracaju repleta de ruídos sincopados de música eletrônica, beats e bytes que incorporam alegorias folclóricas, para tentar romper com o status quo imperialista.
As andanças dela se somam figuras como o camelô, as mulheres paramentadas de papel higiênico empurrando carrinhos de supermercado e um membro da Cavalhada em suas pernas de pau. Emulando pesadelos em linguagem videocliptica, tendo representações arquetípicas a La David Lynch surgindo e desaparecendo, para provocar uma disfunção na narrativa, Abjetas 288 muito bem se coloca na dinâmica de uma realidade ficcionalizada onde o totalitarismo segrega mas não aprisiona as expressividades artísticas.
O lugar idealizado para onde os moradores da cidade querem ir – Aracaju Gardens – é a representação metafórica da exclusão sublimada pela rebeldia das meninas que pictoricamente vão construindo a resistência popular à base de gargalhadas, buchada de bode e ironia que repele os cidadãos de bem.
As nossas fagulhas queimarão o fio condutor
Que vai se esfarelar no contato
Depois de tudo que a gente passou
Penso que estar aqui já é uma investida tão forte
Vai chegar o dia em que não vão saber o que os atingiu
Concorrendo a melhor curta da Mostra Foco em Tiradentes, Abjetas 288 é um exemplar interessante do novo cinema sergipano e ilustra a diversidade temática e de abordagens estéticas presentes pelo audiovisual nordestino.
Um grande momento
Chapação high tech