- Gênero: Comédia
- Direção: Ale McHaddo
- Roteiro: Michelle Ferreira, Paulo Leierer
- Elenco: Juliana Paes, Leandro Hassum, Elizângela, Marcelo Laham, Luana Martau, Luana Martau, Luana Martau
- Duração: 94 minutos
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Há um movimento curioso no cinema, mais especificamente nas comédias populares de grande bilheteria, que é o aproveitamento do plot. Podemos pegar a França e a Itália como exemplo e seus O Nome do Filho e Perfeitos Desconhecidos, mas tem um país bem aqui do lado que parece ser guia preferencial, a Argentina. Um caso sintomático é o do filme Um Namorado para Minha Esposa, que ganhou nada mais nada menos que sete versões ao redor do mundo: uma coreana, uma turca, uma italiana, uma chilena, uma italiana, uma americana e uma brasileira estrelada por Ingrid Guimarães, Caco Ciocler e Domingos Montagner. Agora é a vez de Amor Sem Medida (Coração de Leão, lá), que depois da Colômbia, Peru, México e França, agora chega ao Brasil com a dupla Leandro Hassum e Juliana Paes sob a direção de Ale McHaddo.
Como sempre, nesse tipo de filme, o roteiro segue a mesma trilha e as mudanças não são tão grandes. Esse é o caso da maioria das versões do filme, mas não o da brasileira. Embora mantenha o encontro, a estrutura, a estatura e o conflito básico do longa original, muita coisa está diferente no filme daqui. Leão, o personagem principal leva o coração do título primeiro ao pé da letra e se transforma em cardiologista, e esse é o jeito do roteiro de Michelle Ferreira e Paulo Leierer dar uma maior relevância ao personagem, o que não era realmente necessário, e puxar o filme para a comédia, distanciando-o dos outros, onde todos os protagonistas são arquitetos, obviamente mais interesados no romance.
A comédia também vem pontuada pela trilha engraçadinha e por piadas antiquadas, como a do microfone do repórter, ou sugestões bobas, como a experiência no restaurante. A coisa fica ainda mais escrachada quando enfia Leão vestido de coelhinho na balada gay do irmão de Ivana ou traz um dos melhores comediantes da atualidade, Rafael Portugal, para uma tola disputa de dança, que inclusive compromete os efeitos especiais. Esta passagem, inclusive, é seguida pela escolha por abandonar o ponto mais duro do conflito nos outros filmes, o que marca a primeira noite do casal, aqui deixado de lado por completo em troca de mais humor.
Nessa comédia romântica, menos preocupada com o romance, é possível perceber que Amor Sem Medida tem uma preocupação em ser correto e boas passagens. A cena do estranhamento da mãe na prova do vestido, por exemplo, é bem interessante, pela natureza e impossibilidade da situação, assim como os momentos em que a questão dos preconceitos, da mãe e da própria Ivana, é levantada. Apesar da história ainda estar presa a padrões patriarcais — as mulheres bonitonas e bem-sucedidas que se relacionam com mais velhos, mais novos, mais baixos ou qualquer outra característica que classifique alguém como “fora do padrão” –, há um interesse no tratar dessa exclusão. Seja em qual for a versão, Leão passa a vida tentando compensar sua “inadequação” e invisibilidade. E ele é enxergado sem diferenciações, como fica claro em várias cenas, mas há uma trava social, como um limite, e o ser vista com ele não deixa de ser uma questão para sua parceira.
Ainda que os filmes de língua espanhola, em especial o colombiano, tenham uma trama melhor resolvida e falem mais alto àqueles que gostam de uma paixão — embora vocês não tenham percebido, há um motivo para o salto, Ferreira e Leierer –, Amor Sem Medida segue seguro no caminho que escolhe para si. Dentro do padrão de diversão descompromissada, tem atores dedicados, que funcionam bem com seus personagens e encontra um bom ritmo. No mais, é bom ver no mar de comédias comerciais de consumo rápido títulos que fogem à forma esquética que tomou conta do gênero, mesmo que o produto seja literalmente emprestado. Não é um filme perfeito, tem muitos tropeços, mas funciona, principalmente para momentos em que a vontade é não pensar em nada.
Um grande momento
O primeiro encontro