Crítica | Festival

Na Pedreira

(En el pozo, URU, 2019)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Bernardo Antonaccio, Rafael Antonaccio
  • Roteiro: Bernardo Antonaccio, Rafael Antonaccio
  • Elenco: Rafael Beltrán, Augusto Gordillo, Luis Pazos, Paula Silva, Natalia Tarmezzano
  • Duração: 82 minutos

Embora deslocado junto a seus colegas de seleção no Cinefantasy, Na Pedreira é um thriller psicológico interessante que volta a um assunto que ainda precisa (parece que sempre vai precisar) ser debatido: a violência contra a mulher. Filme de reunião, mostra quatro amigos em um passeio à uma pedreira desativada. Únicas pessoas naquele local, eles brincam, se provocam, bebem e passam o tempo relembrando os velhos tempos.

A intimidade entre Tincho, Tola e Alicia vem da infância, quando costumavam ir àquele local para passar o tempo e a nostalgia fica bem explícita nas primeiras cenas. Bruno, namorado de Alicia, surge como uma figura deslocada, sensação reafirmada não só nos diálogos e na interpretação antipática de Augusto Gordillo, mas também no modo como a câmera o apresenta. O filme se estabelece em cima dessa repulsa pelo personagem e pela crescente do ciúme que vai tomando conta da trama.

Na Pedreira

Em seu primeiro longa-metragem, os irmãos Bernardo e Rafael Antonaccio, este último também responsável pela direção de fotografia, sabem como aproveitar a paisagem e os contrastes entre os elementos em cena para criar uma espécie de deslumbramento que se transforma em angústia. À medida em que os fatos vão tomando corpo e a animosidade vai se revelando, toda a beleza natural deixa de ser percebida, dando espaço ao sentimento.

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Os diretores têm a noção do que querem provocar e dão tempo aos eventos, eles não têm pressa para chegar até à virada, cristalizando a impressão que querem passar de seus personagens. Do tonto ao irritante, do esquisito à desencanada, a personalidade de cada um dos quatro tem um pouco da atenção, o que favorece à narrativa.

Na Pedreira

Há, porém, uma obviedade incômoda quando os elementos começam a se repetir e surge uma necessidade de explicitar traços que já estão definidos. Ainda que seja uma questão, a virada consegue recuperar parte da força do filme e dar razão à tensão que se segue. O momento em que a masculinidade tóxica começa a conduzir a relação de dois personagens é bem demarcado e talvez seja a melhor coisa do filme.

Na Pedreira tem deslizes que fazem seu ritmo parecer arrastado e por vezes é mais explícito do que precisava, mas tem um final funcional que chega ao ponto esperado. Por tratar de um tema tão sério, mas tão levianamente abordado por aí, o filme ganha pontos ao condenar o vilão, afinal de contas, boy lixo não falta por aí na vida real. Porém, escorregue aqui e ali na abordagem de “motivações”, fazendo aquilo que não se deve fazer.

Um grande momento
Encontrando Paola

[10º Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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