Híbrido
Direção: Juliana Antunes
Roteiro: Juliana Antunes, Andreia Pereira de Sousa, Leidiane Ferreira
Duração: 75 min.
Nota: 7
Nada se conhecia sobre o filme mineiro que abriu a Mostra Aurora esse ano, pois, diferente do habitual, a diretora Juliana Antunes não tinha nem mesmo um curta-metragem anterior em sua filmografia. Baronesa chega, então, com uma força muito maior, impressionando pela qualidade técnica e pela história contada.
O documentário acompanha o cotidiano de Andreia e Leidiane, moradoras do Jardim Juliana, bairro da periferia de Belo Horizonte. As amigas têm personalidades muito distintas, mas complementares, e estão prestes a se separar. A inquietude de Andreia a faz querer sair de Juliana e construir uma casa num terreno invadido no bairro fictício Baronesa, enquanto Leidi não vê problema em ficar.
A intimidade criada entre Juliana e sua equipe com todos os personagens do filme é o principal trunfo do filme. É com isso que ela e, principalmente, sua diretora de fotografia conseguem se invisibilizar no ambiente, mesmo que não haja tanto espaço físico, mesmo que se trabalhe com crianças pequenas. A impressão é a de que para aquelas pessoas não há uma câmera por perto.
Neste ponto está a principal armadilha de Baronesa. Essa relação com a diretora e o modo íntimo com que a história é contada acabam expondo os documentados além do que eles poderiam perceber. Há cenas, como a do acontecimento com a criança, que expõem pessoas que sequer sabem que estão sendo expostas, mesmo que com o consentimento dos responsáveis legais.
Superada a questão, que é grave, o filme faz um retrato muito verdadeiro e particular de uma realidade que está longe de ser a das pessoas que o assistiram em Tiradentes, o que fez com que outros julgamentos surgissem, justamente pela dificuldade em se olhar para aquilo que é diferente. E, por mais que se diga que é um cotidiano muito conhecido, por outros filmes ou reportagens sobre a periferia, nunca se esteve imerso naquela realidade daquele modo.
Ao mesmo tempo, brincadeiras, relacionamentos, distrações e conversas não experimentadas mesclam-se a sentimentos e sensações que são comuns a todos os seres humanos. E assim constrói-se essa realidade tão distante, mas ao mesmo tempo tão próxima.
Baronesa é um filme de guerra em que o conflito não é retratado, pelo menos não sempre, e que volta suas lentes para as mulheres seguem suas vidas em um ambiente ausente de homens, pois eles estão encarcerados ou mortos. Embora peque em alguns pontos, tem uma potência e um significado que transcendem até mesmo o próprio filme.
Um registro de mulheres por mulheres, que fala do que é comum e do que é diferente. E não vai ser fácil pra ninguém lidar com isso.
Um Grande Momento:
Construção.
[20ª Mostra de Cinema de Tiradentes]