(Dorivando Saravá, o Preto que Virou Mar, BRA, 2019)
Dorival Caymmi, um dos maiores ícones da música Brasileira, explorado por diversos músicos, escritores e pesquisadores, ganha forma e memória no documentário Dorivando Saravá, O Preto Que Virou Mar, dirigido por Henrique Dantas (Filhos de João: O Admirável Mundo Novo Baiano). A música que marcou a história nacional e influenciou quase tudo que se seguiu é enaltecida e analisada no longa, que levanta questões atuais importantes e tenta entender melhor como esse fenômeno cultural se formou e se consolidou no cenário brasileiro e internacional.
Desde suas origens até as explorações no mundo, a história de Caymmi é particular e excepcional. Em uma época onde os valores conservadores e preconceituosos da sociedade atacavam minorias, a música negra e o candomblé, ele conquistou um lugar onde poucos conseguiram chegar. A espiritualidade e a religiosidade estão sempre presentes nas suas obras, muito do que viveu Dorival é sentido de perto com o documentário, que traz vozes de dentro de sua comunidade.
Um dos focos do filme é a análise das produções do artista e de seu universo criativo, e quem faz isso são artistas amigos e admiradores, além de acadêmicos que propõem outra abordagem nesse processo. É necessário apontar como essas contribuições são valiosas, Tom Zé e Gilberto Gil vão fundo e trazem a subjetividade necessária para falar de Dorival. Outro grande aspecto é a presença das obras não-musicais do artista, suas cartas à Londres e pinturas que fazia nas horas vagas.
O longa, ao trazer arquivos da temática e cenas da natureza, pretende incrementar a experiência audiovisual dando ênfase à música. Porém, ao longo dos depoimentos e das canções, fica um pouco cansativa a visualização dos planos que se repetem em padrões e sobreposições, que acabam por deixar escapar sua graça. No final das contas, também se perde um pouco a magia dos depoimentos e das imagens nessas formas repetidas e, às vezes, confusas.
Apesar disso, a grande vida e história de Dorival Caymmi vem até o espectador, que se envolve em música e em admiração junto com os entrevistados. Dorivando Saravá levanta da política à religião o que significou e ainda significam as músicas e obras de um dos artistas que mais contribuiu para a cultura brasileira. Dos milhares que são afluentes do grande mar dorival, quem assiste ao filme prova dessa água e se refresca nesse banho de deleite, que nos faz também desaguar nesse grande fenômeno.
Um grande momento
TOM ZÉ.