- Gênero: Drama
- Direção: Lee Daniels
- Roteiro: Suzan-Lori Parks
- Elenco: Andra Day, Leslie Jordan, Miss Lawrence, Natasha Lyonne, Trevante Rhodes, Dusan Dukic, Erik LaRay Harvey, Da'Vine Joy Randolph, Koumba Ball
- Duração: 130 minutos
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O diretor estadunidense Lee Daniels tem uma filmografia marcada pelas tentativas não muito bem-sucedidas de acertar e muitos contatos. Começando com o fraquíssimo longa Matadores de Aluguel, que já tinha Helen Mirren no elenco, seus filmes são engajados, trazendo sempre a relevante questão da negritude, e apegados a um dramalhão que torna a experiência difícil, e isso independe de gênero ou história. Sua fama veio com Preciosa, talvez o seu filme mais autêntico, no qual, mesmo com essas características, tudo funcione e se encaixe. Não dá para falar o mesmo dos filmes seguintes do cineasta e nem de Estados Unidos vs Billie Holiday, sua última empreitada .
O longa faz um recorte específico para falar sobre o posicionamento antirracista de uma das maiores cantoras de jazz da história contra a perseguição racista do governo em sua ânsia de determinar aquilo que ela poderia cantar ou não, e quais temas poderiam ser abordados em suas músicas. O gancho do filme é a dolorida canção “Strange Fruit”, publicada originalmente como poema por Abel Meeropol após os horrores do linchamento dos negros Thomas Shipp e Abram Smith, mais tarde musicada por ele e apresentada a Lady Day que a incorporou a seu repertório.
Southern trees bear a strange fruit
Blood on the leaves and blood at the root
Black bodies swingin’ in the Southern breeze
Strange fruit hangin’ from the poplar treesPastoral scene of the gallant South
The bulgin’ eyes and the twisted mouth
Scent of magnolias sweet and fresh
Then the sudden smell of burnin’ fleshHere is a fruit for the crows to pluck
For the rain to gather
For the wind to suck
For the sun to rot
For the tree to drop
Here is a strange and bitter crop
Daniels opta por contar rapidamente — por meio de cartelas — a história dos linchamentos dos meios negros e da luta para transformar a conduta em um ato criminoso no congresso estadunidense desde 1900. Quando ilustra, o faz com a última e terrível imagem do adolescente Lloyd Warner ardendo em chamas diante da multidão após ser linchado e enforcado. É assim que o diretor nos joga no universo de Holiday, com o embrulho no estômago e a ambientação que a trama talvez precise para ser desenvolvida. Porém, não demora para que os desacertos e desambientações comecem a acontecer. Talvez seja esse o grande problema de Daniels, ele consegue ir fundo, ser amargo, mas sai desse ponto rápido demais, se perde nas emoções.
Estados Unidos vs Billie Holiday tem muito material e uma atriz que conseguiu captar toda a essência de Lady Day, indo das inseguranças à paixão, da coragem ao cansaço, da ironia à raiva. Isso sem falar em toda a potência vocal, já que Andra Day interpreta lindamente todas as canções do filme. Mas faz um trabalho muito mais baseado no que ela conseguiu extrair do sentido do roteiro do que do guião em si, já que os diálogos, e os próprios personagens estão perdidos em uma confusão de eventos e sentimentos que não têm tempo para se estabelecer e desenvolver a contento. Entende-se o ponto, onde se quer chegar, mas tudo vai acontecendo como se não fosse necessário nenhum envolvimento com aquelas pessoas e as causas tão propagadas a priori viram coadjuvantes ocasionais. Para onde foi toda aquela preparação do começo?
Esteticamente, Estados Unidos vs Billie Holiday segue o desequilíbrio. Numa montagem cafona, que lembra os vídeos de debutantes dos anos 1980, principalmente nos números musicais, o diretor acaba dissociando o palco dos outros momentos, onde a abordagem é mais clássica. Em um contexto de enfrentamento pela arte, não o sentido na diferenciação fica confuso e mais uma vez é no excesso que Daniels se encontra perdido novamente.
Com uma protagonista riquíssima, a atriz certa para interpretá-la, um material musical precioso e uma temática potente, Estados Unidos vs Billie Holiday era um filme que tinha tudo para chegar onde quisesse. Poderia ser um drama pesadíssimo e sufocante daqueles que se aproxima do terror, um melodrama rasgado, um musical, uma biografia quadradona ou até um suspense de espionagem. E poderia ser um bom filme, qualquer que fosse a escolha, mas ela precisava ser feita. Seria até possível colocar pitadas de algo aqui e ali, mas para dar força ao seu discurso era preciso fazer com que ele fosse o mais importante.
Um grande momento
Cercada