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Dada a largada para a 40ª Mostra de São Paulo

Seguindo as maratonas cinéfilas do segundo semestre, começou hoje (19), a 40ª Mostra de São Paulo. A mais tradicionais das mostras internacionais do país ameaçou chegar a 2016 com uma seleção menos interessante depois do anúncio dos títulos presentes no Festival do Rio. O festival carioca tinha em sua seleção a grande maioria dos filmes de Cannes e alguns outros highlights do ano e, como a Mostra não seleciona títulos internacionais exibidos no festival vizinho, a expectativa era baixa.

Mas isso só durou até a apresentação dos títulos selecionados para a 40ª edição do evento. Além das retrospectivas deste ano, que trazem nomes como Krzysztof Kieslowski, Marco Bellocchio e William Friedkin, vários títulos imperdíveis estão na lista. É o caso dos filmes de grandes medalhões do cinema que deram o que falar durante o ano e estiveram na competição pela palma de ouro. Entre eles estão:

Elle, de Paul Verhoeven, que já passou por Cannes e foi escolhido como o melhor do ano pela Sociedade Cinéfila Internacional. Estrelado por Isabelle Huppert, o filme conta a história de Michèlle, uma executiva que tem a vida mudada depois de um assalto.

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A Garota Desconhecida, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, também foi um dos filmes que concorreu à Palma de Ouro. Conta a história de uma jovem médica que decide não fazer algo e precisa lidar com as consequências de sua escolha.

Paterson, de Jim Jarmursch, é outro que chega diretamente de Cannes para São Paulo. No filme, Adam Driver é um cobrador de ônibus que tem o mesmo nome da cidade onde mora, Paterson. O seu cotidiano é observar aquilo que acontece à sua volta e escrever poesias, uma vida completamente diferente da de sua mulher.

Ma’Rosa, de Brillante Ma. Mendoza, vem também do festival francês, onde, além de concorrer à Palma de Ouro, ganhou o prêmio de melhor atriz pela atuação de Jaclyn Jose. O filme filipino conta a história de uma dona de uma loja de conveniência que, para completar o orçamento, vende pequenas quantias de drogas.

Depois da Tempestade, novo filme do diretor japonês Hirokazu Koreeda, também está na seleção de São Paulo depois de concorrer à Palma de Ouro. O filme conta a história de Ryota, um escritor decadente, viciado em jogos, que tenta retomar o controle de sua vida.

E ainda tem mais Cannes na lista, com O Apartamento, de Asghar Farhadi. De lá, o novo filme do diretor iraniano trouxe os prêmios de melhor roteiro, escrito pelo próprio Farhadi, e de melhor ator para Shahab Hosseini.

Esperados

Diretores não tão tarimbados assim, mas que despertam a curiosidade também estão presentes na seleção com títulos bastante esperados. É o caso de Animais Noturnos, segundo longa-metragem de Tom Ford, baseado no romance Tony & Susan, de Austin Wright. O elenco do filme traz nomes como Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon e Isla Fisher. O filme foi apresentado em Veneza, de onde saiu com o Leão de Prata, prêmio de melhor direção.

Outro filme que anda dando o que falar e também está na seleção é Nascimento de uma Nação, dirigido, roteirizado, produzido e estrelado por Nate Parker, sobre Nat Turner. O brilho do longa, que ganhou os prêmios de melhor filme pelo júri oficial e pelo júri popular de Sundance e foi o filme melhor negociado naquele festival, acabou sendo ofuscado por denúncias contra Parker fora da tela.

Um filme de terror que tem deixado o pessoal alvoroçado e também merece estar na lista de esperados é Train to Busan, rebatizado aqui com o título Invasão Zumbi, conta a história de um surto viral que deixa a Coreia do Sul em estado de alerta. O filme foi o grande ganhador do Fantastic Film Festival, com o Cavalo Negro, e ainda foi o escolhido pelo júri popular.

Consagrados

Longas-metragens premiados também ficam na mira dos cinéfilos. De tantos festivais que já aconteceram no ano, a 40ª Mostra de São Paulo conseguiu trazer alguns desses para os cinemas paulistas. Alguns destaques são:

Mimosas, de Oliver Laxe, conta a história de homens que precisam cumprir uma promessa e enterrar um xeque marroquino num local determinado e foi o vencedor da Semana da Crítica em Cannes.

Mais um título que chega de Cannes é O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Maki, dirigido por Juho Kuosmanen. O filme conta a história de um pugilista finlandês que se descobre apaixonado e saiu do festival francês como vencedor da mostra Um Certo Olhar.

Outros festivais

A Atração traz a história inusitada de duas sereias que acabam parando em uma casa noturna de Varsóvia. Dirigido pela polonesa Agnieszka Smoczynska, o filme foi a sensação em vários festivais de cinema fantástico no mundo, como Fantasporto, Neuchâtel, Austin e Fantastic Film Festival, além de levar para casa o Prêmio Especial do Júri em Sundance.

De Berlim, com os prêmios de Melhor Primeiro Filme e Melhor Ator, pela atuação de Majd Mastoura, chega Hedi. A história de um jovem tunisiano às vésperas de seu casamento que conhece uma outra mulher pode ser conhecida, mas parece que tem um quê a mais aqui.

Aloys, coprodução de Suíça e França dirigida por Tobias Nölle, conta a história de um investigador profissional que se interessa pela voz de uma mulher que o procura por telefone. O filme foi o ganhador do prêmio da FIPRESCI no Festival de Berlim.

Outro título que chega de Berlim, desta vez com o Urso de Prata de melhor roteiro, é Estados Unidos pelo Amor, dirigido por Tomasz Wasilewski. Ambientado no início da década de 1990, o longa expõe uma Polônia recém libertada, mas ainda insegura quanto ao seu futuro.

E, já que tem tanto urso nessa lista, não podia faltar o filme que levou o grande prêmio do júri e o prêmio da FIPRESCI em Berlim, Morte em Sarajevo. O longa de Danis Tanovic se passa no Hotel Europe, onde se prepara uma festa de gala para a União Europeia em memória ao centenário do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando.

Da Argentina chega o simples e curioso As Ruas, vencedor da competição latino-americana do BAFICI. Dirigido por María Aparicio, o filme conta a história de uma professora de uma pequena cidade que decide criar um projeto, com a ajuda de seus alunos, para nomear as ruas do local.

Do Festival de San Sebástian chega Alba, filme de Ana Cristina Barragán sobre uma menina de 11 anos que precisa ir morar com o pai que mal conhece e que está experimentando as mudanças da adolescência. Alba recebeu uma menção honrosa do júri no festival espanhol.

Quem está na seleção e passou por Locarno é o filme Corações Cicatrizados, dirigido por Radu Jude, de Haferim! O longa conta a história de um jovem com tuberculose óssea apaixonado por uma colega de clínica e voltou para casa com os prêmios de Dom Quixote e o prêmio especial do Júri do festival.

De Locarno ainda chega o filme Sem Deus, sobre uma cuidadora de idosos que procura um outro caminho. Dirigido por Ralitza Petrova, o filme levou quatro prêmios no festival: Leopardo de Ouro; Melhor Atriz, pela atuação de Irena Ivanova; Prêmio do Júri Ecumênico, e Prêmio Boccalino da Crítica Suíça.

E isso não são todos os premiados e muito menos uma amostra suficientemente abrangente dos mais de 300 filmes selecionados para essa 40ª Mostra de São Paulo. Mas são alguns que valem a pena tentar colocar na grade de programação.

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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