Drama
Direção: Hong Sang-soo
Elenco: Kim Min-hee, Kee Joobong
Roteiro: Hong Sang-soo
Duração: 66 min.
Nota: 8
Hong Sang-soo sabe como falar sobre o que há de mais comum no ser humano. Em volta de suas mesas, nas conversas regadas a soju, desilusões amorosas vêm sendo discutidas há vários filmes do cineasta sul-coreano. Mesmo que explore outros ambientes na criação de algumas de suas obras mais potentes, Sang-soo gosta mesmo de tratar o tema através das muitas falas – por vezes embriagadas – de seus personagens.
Relações afetivas, amores impossíveis, paixões proibidas, envolvimentos, desgates, rupturas, saudade, dor e outros sentimentos identificáveis estão na tela, em homens e mulheres que, de certa maneira, conversam diretamente com aqueles que o assistem. Essa humanidade é o principal traço do cinema de Sang-soo. O expor algo tão particular, mas tão universal, de maneira simples e identificável, fazendo com que pessoas do mundo todo, independente do gênero, da raça ou da idade se vejam na tela.
Escondidas na forma repetida, que faz com que muitos critiquem seus filmes, estão muitas histórias ou até as mesmas histórias vivenciadas e sentidas de maneira diferente por novos personagens, assim como na vida. Histórias se repetem, mas serão sempre únicas.
Em Grass, o diretor passeia entre esses amores e desilusões novamente, mas inova no mote. Embora todos interessem muito, e sempre interessam, o que está por trás disso é como isso ganha vida e se transforma em uma história de outra pessoa. Numa brincadeira metalinguística, Sang-soo se coloca em cena na figura de uma jovem mulher (vivida pela sempre presente Kim Min-hee). Ela gosta de prestar atenção no que as pessoas conversam, cria suas narrativas e as escreve sem parar em um computador.
Esse acessar da criação é sempre interessante, principalmente quando o próprio autor é aquele que não só o explicita, mas o faz tentando entendê-lo. O que motiva sua arte é simples, faz parte do cotidiano, e está em todos os lugares. Nasce como capim, em qualquer canto que tenha terra. Àquela jovem, o que faz a diferença é o prestar atenção e identificar, em narrativas de desconhecidos ou de parentes próximos, aquilo que desperta interesse, o que chama atenção e, mais, que é comum a todos.
É o cinema de Hong Sang-soo em um filme. Aquele que mescla o que já esteve em tela, mas com a intenção de buscar aquilo que o motivou a levar essas histórias até lá, o que fez surgir tudo isso. É no ouvir e entender, mais do que no sentir (embora ele também se identifique nessas histórias e aí estão os seus filmes mais avassaladores), que as histórias encontram suas particularidades, seus toques de inesperado.
Ao reconhecer a força dos discursos e realmente se interessar por aquilo que descobre, é possível acessar aquela universalidade que pode ser tão individual, é possível dar novas identidades a diferentes personagens (muitas vezes são interpretados pelos mesmos atores), é possível fazer com que a humanidade seja o ponto de maior interesse de sua obra. Isso está em Grass como elemento, e na obra de Sang-soo como motivação.
Do lado de fora da cafeteria onde a maior parte da ação acontece, uma loja que aluga roupas antigas japonesas para que casais tirem fotografias. Voltando mais uma vez ao cinema, Grass mostra que assessórios e alegorias podem até fazer a diferença, mas não são indispensáveis para que um filme aconteça. Basta uma mesa, algumas garrafas de soju e tudo está resolvido.
Um Grande Momento:
Se vendo nos outros.
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[42ª Mostra de São Paulo]