Crítica | FestivalMostra SP

Grass

(Grass, KOR, 2018)
Drama
Direção: Hong Sang-soo
Elenco: Kim Min-hee, Kee Joobong
Roteiro: Hong Sang-soo
Duração: 66 min.
Nota: 8 ★★★★★★★★☆☆

Hong Sang-soo sabe como falar sobre o que há de mais comum no ser humano. Em volta de suas mesas, nas conversas regadas a soju, desilusões amorosas vêm sendo discutidas há vários filmes do cineasta sul-coreano. Mesmo que explore outros ambientes na criação de algumas de suas obras mais potentes, Sang-soo gosta mesmo de tratar o tema através das muitas falas – por vezes embriagadas – de seus personagens.

Relações afetivas, amores impossíveis, paixões proibidas, envolvimentos, desgates, rupturas, saudade, dor e outros sentimentos identificáveis estão na tela, em homens e mulheres que, de certa maneira, conversam diretamente com aqueles que o assistem. Essa humanidade é o principal traço do cinema de Sang-soo. O expor algo tão particular, mas tão universal, de maneira simples e identificável, fazendo com que pessoas do mundo todo, independente do gênero, da raça ou da idade se vejam na tela.

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Escondidas na forma repetida, que faz com que muitos critiquem seus filmes, estão muitas histórias ou até as mesmas histórias vivenciadas e sentidas de maneira diferente por novos personagens, assim como na vida. Histórias se repetem, mas serão sempre únicas.

Em Grass, o diretor passeia entre esses amores e desilusões novamente, mas inova no mote. Embora todos interessem muito, e sempre interessam, o que está por trás disso é como isso ganha vida e se transforma em uma história de outra pessoa. Numa brincadeira metalinguística, Sang-soo se coloca em cena na figura de uma jovem mulher (vivida pela sempre presente Kim Min-hee). Ela gosta de prestar atenção no que as pessoas conversam, cria suas narrativas e as escreve sem parar em um computador.

Esse acessar da criação é sempre interessante, principalmente quando o próprio autor é aquele que não só o explicita, mas o faz tentando entendê-lo. O que motiva sua arte é simples, faz parte do cotidiano, e está em todos os lugares. Nasce como capim, em qualquer canto que tenha terra. Àquela jovem, o que faz a diferença é o prestar atenção e identificar, em narrativas de desconhecidos ou de parentes próximos, aquilo que desperta interesse, o que chama atenção e, mais, que é comum a todos.

É o cinema de Hong Sang-soo em um filme. Aquele que mescla o que já esteve em tela, mas com a intenção de buscar aquilo que o motivou a levar essas histórias até lá, o que fez surgir tudo isso. É no ouvir e entender, mais do que no sentir (embora ele também se identifique nessas histórias e aí estão os seus filmes mais avassaladores), que as histórias encontram suas particularidades, seus toques de inesperado.

Ao reconhecer a força dos discursos e realmente se interessar por aquilo que descobre, é possível acessar aquela universalidade que pode ser tão individual, é possível dar novas identidades a diferentes personagens (muitas vezes são interpretados pelos mesmos atores), é possível fazer com que a humanidade seja o ponto de maior interesse de sua obra. Isso está em Grass como elemento, e na obra de Sang-soo como motivação.

Do lado de fora da cafeteria onde a maior parte da ação acontece, uma loja que aluga roupas antigas japonesas para que casais tirem fotografias. Voltando mais uma vez ao cinema, Grass mostra que assessórios e alegorias podem até fazer a diferença, mas não são indispensáveis para que um filme aconteça. Basta uma mesa, algumas garrafas de soju e tudo está resolvido.

Um Grande Momento:
Se vendo nos outros.

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[42ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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