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Greyhound: Na Mira do Inimigo

(Greyhound, CHN, CAN, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Guerra
  • Direção: Aaron Schneider
  • Roteiro: C.S. Forester (romance), Tom Hanks
  • Elenco: Tom Hanks, Stephen Graham, Elisabeth Shue, Michael Benz, Rob Morgan, David Maldonado, Jimi Stanton, Matt Helm, Tom Brittney
  • Duração: 91 minutos

No cinema é muito provável que algumas narrativas, principalmente as históricas, se encontrem. Há um momento da Segunda Guerra que já foi retratado diversas vezes: a Batalha do Atlântico, quando submarinos e navios do Eixo tentam barrar a chegada à Grã-Bretanha de navios mercantes com suprimentos vindos dos Estados Unidos pelo Atlântico Norte. De Corvetas em Ação (1943) a U-571 (2000), passando por A Raposa do Mar (1957) e outros, o confronto marítimo tornou-se conhecido e volta agora às telas em Greyhound: Na Mira do Inimigo, mas não é a nenhum dos filmes citados que ele remete, e sim ao alemão O Barco: Inferno no Mar (1981). Em movimentos exatamente contrários, marcados inclusive pela nacionalidade das produções, o filme dirigido por Aaron Schneider, tem que sobreviver, portanto, a um dos melhores filmes de embarcados já feito.

E talvez conseguisse se fosse só isso. Greyhound é uma adaptação de Tom Hanks (Um Lindo Dia na Vizinhança) para o livro “O Bom Pastor” de C.S. Forester. O ator também é o protagonista do longa, o Capitão Krause. Porém, é justamente no apego excessivo a tecnicidades e ao carisma deste protagonista que se enrola. Falta uma certa humanidade, aquela que aparece forçada em tentativas de aprofundamento do personagem: sua fé desmedida, um embasamento superficial na vida pessoal, e a dificuldade de relacionamento com a equipe em sua primeira missão. Entre cálculos rápidos e movimentos marítimos precisos, o contexto geral, a guerra, perde sua importância na narrativa. É como se o filme precisasse de um conhecimento prévio para tornar-se completo, algo que nem mesmo as cartelas explicativas do começo conseguem fazer.

Tom Hanks em Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020)

Falta silêncio, falta tempo para assimilar aquilo que está acontecendo. Mesmo que se trate de um filme de guerra e o tempo em conflitos seja um dos inimigos das ações, em uma construção ficcional é importante que exista pelo menos algum espaço para isso, para que se perceba que personagens além do protagonista estão passando por contratempos que trazem a angústia e o medo característicos. O modo como as existências aqui são aleatórias é muito prejudicial e acaba não cumprindo a função que deveria.

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Isso fica muito claro na cerimônia fúnebre que acontece à bordo do navio. Não há qualquer ligação com aqueles de quem se despede, o que, por si só, já seria suficiente para invalidar a cena que, obviamente, foi pensada para trazer um toque mais afetivo e humano à trama. Essa dificuldade de conexão e empatia com os personagens talvez seja o ponto mais discrepante entre como se apresenta Greyhound e o complexo submarino de Wolfgang Petersen. Mas há outros igualmente inconvenientes e que acabam precedendo disso para se construir, como o senso de urgência e a claustrofobia. Greyhound se passa em uma embarcação que se encontra no meio do mar bravio e pouquíssimas vezes se vale do confinamento para encontrar a tensão.

Tom Hanks em Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020)

Sobra, então, um filme que depende exclusivamente de sua construção estética e da ação pura e simples. Neste ponto, tem os seus momentos inspirados, principalmente nas manobras do imenso contratorpedeiro americano, em uma certa ansiedade para a chegada do reforço aéreo e cenas pontuais, como o desviar de um dos cargueiros que protege. Hanks, um já habitué da Segunda Guerra, também se encontra por vezes, principalmente no transparecer da insegurança, mas não vai muito além daquilo que já se espera dele.

Greyhound: Na Mira do Inimigo visita mais uma vez uma das mais interessantes histórias de guerra, mas parece nunca conseguir mergulhar na profundidade que o conflito e a situação naturalmente trazem. Há um ponto que sempre interessa muito em filmes do gênero e no qual Schneider fracassa terrivelmente: se há um momento de tensão, em meio a qualquer batalha, e é necessário usar a trilha sonora para despertar sentimentos, tem alguma coisa muito fora do lugar. Mas não deixa de ter ação e boas sacadas, mas não vai nem um pouco além disso.

Um Grande Momento
Casco com casco.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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