Crítica | FestivalMostra SP

Imagem e Palavra

(Le livre d’image, SUI/FRA, 2018)
Experimental
Direção: Jean-Luc Godard
Roteiro: Jean-Luc Godard
Duração: 84 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

A imagem que se constrói, a palavra que a perpetua. Um jogo de imagem e palavra que forja uma realidade irreal e constrói verdades próprias distantes da própria verdade. Em seu novo filme-instalação, Imagem e Palavra, Godard resgata imagens e as manipula para criar teorias abertas, que encontram a interpretação dentro daqueles que as assistem.

O que se espalha na tela, reflete o próprio realizador francês. Sua mescla de imagens é provocativa em repetições, preciosismos – que incluem inclusive a proibição de legendas em cenas que precisam ser admiradas em sua totalidade, mesmo que isso prejudique a experiência dos não falantes de francês – e distorções.

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Em sua composição valora diferentemente os dois pontos que tenta de alguma forma integrar e provoca o espectador até atingir sua intenção. Há um jogo de palavras e imagens que define conceitos – anteriores ao conhecimento e, por tanto, preconceitos – e faz com que se consolide um novo signo, valorado não por nós. A chegada, e até uma insistente permanência no Oriente Médio, concretiza o que se vinha levantando até então. O produto de imagens e palavras é facilmente assimilado por quem quer que seja, independentemente de o quanto disso esteja próximo do real.

Em tempos onde a verdade parece variar de acordo com aqueles que dela se apropriam, onde mentiras e alucinações ganham o caráter de fidedignidade e manipulam ambientes e sociedade, aqui e no mundo todo, Imagem e Palavra traz à tona um tema que merece atenção. Mesmo que isso não chegue de forma fácil e nem seja digerido de pronto, a provocação faz com que se pense. Usando imagens de arquivo, tudo o que se escuta e enxerga fora da sala de exibição está ali, de textos lidos à televisão; da música ao próprio cinema, este como um grande porto onde tudo se encontra.

Manipular imagens e palavras, descontextualizando-as e criando novas configurações é parte dessa brincadeira godardiana do moldar novas verdades, que está no cotidiano de todos, e por trás da violência que domina a humanidade. Imagem e Palavra, em seu desconforto, encontra uma forma estetizada, ou até mesmo subtextual, de alcançar essa realidade.

A experiência demanda esforço e pode não ser tão palatável. Enfim, é Godard, o videoartista que abandonou o cinema sem nunca abandonar o cinema. Ninguém pode dizer que não estava esperando aquilo que vai encontrar.

Um Grande Momento:
Falando de sua arte.

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[42ª Mostra de São Paulo]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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