Críticas

Instinto Assassino

Um fracasso diferente

(Dangerous, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: David Hackl
  • Roteiro: Christopher Borrelli
  • Elenco: Scott Eastwood, Kevin Durand, Famke Janssen, Tyrese Gibson, Mel Gibson, Brenda Bazinet
  • Duração: 99 minutos

É engraçado como o cinema de ação busca encontrar algo original em sua cômoda fórmula e regularidade. Vez por outra, quando alguns dublês inspirados decidem dirigir, intérpretes criam personagens realmente marcantes ou até argumentos e tramas conseguem se firmar no inusitado, isso funciona. Mas, num gênero de produção imensa, o mais comum é o fracasso. Instinto Assassino é um dos títulos que comprova a regra ao buscar seu diferencial na peculiaridade de um protagonista com transtornos psiquiátricos, andar, andar, e chegar a lugar algum.

Com algumas caras conhecidas no elenco, como Mel Gibson, Famke Janssen e Scott Eastwood, este terrível no papel de D., o protagonista psicopata em reabilitação, o filme não consegue dar dois passos longe das tramas modelo mais tradicionais e cansativas desse cinema. Para piorar, indeciso entre elas, mistura várias: o cara com problemas com a família que, por qualquer motivo, precisa salvá-la; o bad boy que tenta se livrar do passado, mas precisa enfrentar um de seus ex-parceiros, e uma trama mafiosa com tesouros secretos que está por trás da morte de alguém próximo. Misturar é a tônica da produção.

Instinto Assassino
Lionsgate

O roteiro de Christopher Borelli se perde em meio tudo e é uma bagunça completa. Ele pega esse cara com ausência de empatia e a consequente inabilidade social e tenta criar uma conexão bem esquisita, obviamente com traços de escape cômico não eficiente, com o psiquiatra vivido por Gibson. Daí, Instinto Assassino mistura um drama familiar previsível a mafiosos de quintal, investigadores do FBI sem muita função na trama, e relíquias valiosas. A atenção fica entre D. e suas não convincentes relação com seu transtorno e a vontade de matar de novo, e um desfile de personagens numa sucessão de eventos pouco ou nada originais e entusiasmados.

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Embora, vá lá, a apresentação do protagonista funcione sem chegar ao ponto de iludir o espectador, a direção de David Hackl se empolga e quer colocar tanta coisa em tela que também não ajuda muito. Fora uma evidente trilha sonora que adianta todos os perigos, nada mais é regular (de presença constante, não de nível qualitativo), pois o diretor parece abandonar as coisas pelo caminho, como, por exemplo, a insistência nos planos detalhe do começo. Se há elementos que marcam personagens e situações, eles são deixados de lado para outras experimentações ou pela próxima luta mal coreografada ou um outro momento esquisito com Eastwood tentando fazer seu D..

Instinto Assassino
Lionsgate

É coisa (errada) demais para uma premissa que poderia, sim, ser interessante e não precisava de muito. Olhar e construir a ação tendo alguém como D. nos centro de tudo podia dar muito certo. E não é a opção pelo gênero que estraga, é a inabilidade mesmo, a falta de envolvimento e de apelo do longa. Esse é o preço que se paga pelas não escolhas, pelas escolhas erradas e pelo não saber fazer. Apenas um bom argumento e rostos conhecidos não fazem uma boa história e, no final das contas, com senhoras duronas de braços muito fortes, brinquedinhos que servem como pistas para solucionar o mistério e armas de guerra octogenárias prontas para uso, são os momentos de riso involuntário que salvam Instinto Assassino.

Um grande momento
Nada tanto assim.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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2 Comentários
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Carlos A. de Carvalho
Carlos A. de Carvalho
27/05/2022 16:22

Querida Cecília, boa tarde. E desde logo meus parabéns! Confesso não que a conhecia até há alguns instantes, ocasião que resolvi bisbilhotar na rede na tentativa de encontrar alguém que tivesse assistido o mesmo filme que acabei de assistir e que pudesse ter feito algum comentário. Resumidamente minha opinião se alinha com a sua, em gênero, número e grau, razão pela qual não vou repetir o que já foi tão bem escrito por você. Mas sob forma de trazer alguma (ainda que modesta) contribuição, peço sua licença e farei apenas dois breves apêndices às suas ideias tão bem formuladas.

1o) Que de Westwood’s continuarei seguindo ainda por muito tempo no papel de fã do pai, embora torcendo para que com o passar do tempo o DNA possa se revelar no seu, embora bonito, inexpressivo rebento.

2o) E ao invés de prescrever tantos remédios e relações terapêuticas umbilicalmente tão dependentes para mocinhos tão inseguros, talvez fosse o caso de prescrevê-los na realidade para o próprio diretor, pois quem sabe assim, quando ou se vier a dirigir outro filme, possa ele conseguir ligar o “lé com cré”, já que neste o confuso diretor de fato passou longe…

SR
SR
21/05/2022 02:46

Cecilia Barroso, que resenha “pequena” essa! Desvalorizando um filme bem interessante, com um Mel Gibson impagável como psiquiatra e Scott Eastwood bem convincente como sociopata em reabilitação. Os diálogos enxutos e o humor sarcástico tornam o filme melhor ainda de assistir.

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