Crítica | Streaming e VoD

Rainhas em Fuga

(Fuga de Reinas, MEX, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Jorge Macaya
  • Roteiro: Martha Higareda
  • Elenco: Martha Higareda, Paola Nuñez, Alejandra Ambrosi, Valeria Vera, Claudia Pineda, Seth Allyn Austin, Ricardo Raynaud, Ricardo Muñóz Senior, Arturo Barba, Mauricio Isaac
  • Duração: 95 minutos

A Netflix (e os streamings, no geral) é um reflexo do que vemos desde sempre no circuito cinematográfico mundial. Os grandes filmes até podem fazer sucesso, mas isso não é uma regra – a regra é fazer muito sucesso exatamente o que zera o cérebro do espectador. O conceito de ‘pão e circo’ é aplicado nos cinemas desde a sua criação, e quando tem a programação à mão, o público demonstra que também consegue sozinho fazer as mesmas escolhas de sempre. Um exemplo disso é o atual sucesso de Rainhas em Fuga, produção mexicana que diverte, faz rir, mas não passa muito disso. É uma produção até que precisaria ser repensada dentro do que pretende falar, porque seu foco começa embaçado já dentro da arrumação da produção. 

Pensado para, no meio do fornecimento de diversão rasteira para o canal, trazer também um tanto de representatividade e conceitos de sororidade na história da amizade entre quatro mulheres da juventude por mais 25 anos depois, Rainhas em Fuga é dirigido por Jorge Macaya – um montador em sua estreia na direção – e aí metade das intenções desce pelo ralo. Não é como se um filme dirigido por um homem não pudesse fazer uma leitura acurada do universo feminino (Carol, de Todd Haynes, é um exemplo), mas aqui ficam claros os motivos pelo qual as personagens são tratadas como veículos, ou de maneira estereotipadas, ou com pouco apuro de curvatura. Ainda que sua roteirista seja uma das protagonistas (Martha Higareda), o que vêm à tona são os tons empregados a esse material. 

Ana York/Netflix

A resolução dos parcos conflitos serem diminuídos ou restritos a “problemas femininos”, mostra o quanto Rainhas em Fuga não iria melhorar muito caso uma mulher estivesse a cabo da produção. Com certeza um acerto de tom seria observado, mas a gênese do projeto já é complexa, e deixa pouco espaço para que o filme evolua além dos clichês. Todos os percalços envolvendo mulheres com mais de 40 anos estão em cena, mas nenhum deles é desenvolvido com segurança; tudo é base para uma história bem pouco inspirada a respeito do tempo que se perde quando ou tentam ser mais produtivas que os homens, ou tentam dedicar-se exclusivamente a eles. Ainda que até exista um conceito por trás de tudo, nada disso passa da primeira camada. 

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Rainhas em Fuga é o tipo de produção onde, se você para pra questionar, não consegue sobreviver a um sopro mais forte. É lógico que o destino de um filme como esse não foi cair na malha de um crítico de cinema, e sim chegar onde chegou, aos primeiros lugares de audiência. Uma conversa menos frugal, no entanto, mostra o quanto o filme parece não se importar muito em repetir tudo que já vimos antes (incluindo o ‘grande momento’ parece ter sido tirado de grande parte das produções cômicas já feitas). Se o espectador não está em busca de nada além de hora e meia de repeteco, considerações machistas proferidas por mulheres, e um ritmo ágil sem qualquer compromisso, pode não ser tão desgastante assim a sessão. Qualquer resposta diferente, é necessária uma boa dose de paciência. 

Rainhas em Fuga
Ana York/Netflix

Mais uma vez, é o elenco (ou melhor, o quarteto de protagonistas) o impeditivo de um desastre mais efetivo. Não estamos falando de talentos que o Oscar esqueceu, mas de quatro atrizes que trazem dignidade a um produto bem raso. O trabalho de Higareda como roteirista, ao distribuir bons momentos em igual tamanho tanto para si quanto para suas companheiras, é louvável. Paola Nunẽz, Alejandra Ambrosi e a roteirista tem talento para nos fazer agarrar até o fim da produção, mas o destaque fica com Valeria Vera. É a melhor personagem e encontra na atriz a intérprete ideal para Estrella, a mais fulgurante das amigas – e a única solteira. Rainhas em Fuga só não recebe um ‘pause’ sem hora para terminar pelo empenho desse grupo em colocar na rua algo acima do cansativo. 

Um grande momento

A sopa de champignon

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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