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Um Amor, Mil Casamentos

(Love. Wedding. Repeat, GBR, 2020)
Comédia
Direção: Dean Craig
Elenco: Olivia Munn, Sam Claflin, Aisling Bea, Freida Pinto, Eleanor Tomlinson, Joel Fry, Allan Mustafa, Jack Farthing, Tim Key, Alexander Forsyth
Roteiro: Dean Craig
Duração: 100 min.
Nota: 5 ★★★★★☆☆☆☆☆

A comédia romântica completa 90 anos em 2020. Desde o primeiro filme do gênero, A Divorciada, foram muitas as histórias de amor que encontraram no humor uma forma de representação nas telas. Um Amor, Mil Casamentos não está tão enquadrado na estrutura tradicional do gênero, mas segue o mesmo princípio básico.

Filmado na Itália e embalado por canções como “La Nostra Favola” e “Sotter Cela de Roma”, o longa é baseado no filme Plane de table, da cineasta francesa Christelle Raynal. O diretor Dean Craig (Morte no Funeral), que também assina o roteiro, recria a história sem grandes pretensões e não decepciona, mas também não impressiona. Como o filme que o inspira, fica no meio do caminho.

Embora dê novas funções a outros personagens e insista ainda mais na aleatoriedade do destino, tem o mesmo mote: o mapa da mesa de convidados do casamento é alterado fazendo com que surjam novas histórias em várias possibilidades de presente. Como tudo que brinca com tempo e destino, o filme tem o seu carisma e consegue encontrar o humor.

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Depois de uma abertura genérica narrada, conhecemos os protagonistas Jack e Dina, vividos por Sam Claflin (Como Eu Era Antes de Você) e Olivia Munn (Magic Mike). Logo na primeira cena é possível começar suas personalidades contidas e, no caso dele, desengonçada. Isso se confirma quando um “idiota do passado”, como dito no filme, interrompe algo que não sabemos muito bem o que é, mas desconfiamos.

Há figuras interessantes no casamento, e isso é bem aproveitado pelo texto, criando uma empatia com cada um deles. Além dos casais principais, temos um padrinho que quer ser um astro de cinema, a amiga sem noção, a ex-namorada petulante e seu novo e inseguro namorado, o amigo chato e o ex-namorado doidão da noiva. A incontinência verbal é uma característica de quase todos eles, assim como o jeito atrapalhado de fazer qualquer coisa.

O transitar entre essas figuras, em ocasiões banais ou nonsense, garante ao filme momentos divertidos e até mesmo algumas boas risadas. Há um cuidado em fazer com que sejam pessoas com quem nos importamos, mesmo que não gostemos de todas elas. Há falhas, claro, pela multiplicidade. A noiva Hailey, vivida por Eleanor Tomlinson (Jack, o Caçador de Gigantes), por exemplo, tem bastante tempo de tela, mas recebe menos atenção do que outros coadjuvantes.

Um Amor, Mil Casamentos se aproveita de alguns facilitadores, como a narração para pontuar – ou seria melhor falar expor além da necessidade? – os eventos e direcionar o espectador ao ponto que o diretor acha importante ser ressaltado. Se no começo já ouvimos tudo o que veríamos, há ainda a preparação para, em fast foward, sermos jogados nas várias possibilidades de história.

Se Craig erra em alguns momentos, acerta ao não acreditar na repetição, fazendo com que ela se realize de maneira mais intuitiva do que expositiva. Isso dá um ritmo ágil ao filme e a liberdade a quem vê o filme de criar suas próprias histórias, preenchendo as lacunas já conhecidas de outras realidades dentro do filme.

As ousadias são poucas, mas, ainda que o diretor esteja sempre em um lugar de conforto, Um Amor, Mil Casamentos tem diálogos inspirados, com a conversa de Sydney (Tim Key) com Dina, uma profusão de clichês machistas que, por incrível que pareça, não é tão impossível assim de acontecer. Sempre interrompendo-a, Sydney faz um combo de perguntas e afirmações equivocadas: se ela é jornalista, deve ser de moda; a roupa como determinante de situações que são externas à mulher e ainda solta a seguinte frase: “Eu a sequestraria”. Um show de horrores.

Outro descontrolado é Chaz (Allan Mustafa), o namorado inseguro de Amanda (Freida Pinto), e sua fixação pela afirmação de seus dotes sexuais. As interações entre ele e sua esnobe namorada são bem trabalhadas, em provocações e respostas que fazem sentido e constroem suas personalidades. Outro ponto positivo é como o ambiente interfere nas ações, principalmente sendo uma história com ingleses. A transformação em segundos da raiva em cordialidade é curiosa de acompanhar.

Um Amor, Mil Casamentos é um filme que tem várias qualidade, mas também tem vários tropeções. O envolvimento não se segura pelos 100 minutos e as soluções dos dois principais pontos são apressadas e superficiais demais, assim como o surgimento de novos casais. Mas cumpre o seu papel de entreter, principalmente em tempos como esse em que estamos vivendo. Um programa leve, que vai tirar um pouco da realidade, fazer sorrir e passar o tempo. Não é uma grande comédia romântica, mas não faz feio entre as medianas.

Um Grande Momento:
No banheiro com o damo de honra.

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IMDb

Fotos: Riccardo Ghilardi

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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