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Matador de Aluguel

Ecos do passado

(Road House , EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Aventura
  • Direção: Doug Liman
  • Roteiro: Anthony Bagarozzi, Chuck Mondry, David Lee Henry
  • Elenco: Jake Gyllenhall, Billy Magnussen, Conor McGregor, Daniela Melchior, Joaquim de Almeida, Jessica Williams, Lukas Gage, B. K. Cannon, Arturo Castro, Hannah Lanier, Post Malone
  • Duração: 115 minutos

Sempre declarei que uma refilmagem deveria acontecer apenas aos filmes ruins, porque são exatamente esses os títulos que teriam que ser consertados. Dessa forma, a ideia de refilmar algo como Matador de Aluguel soa natural, com seus “predicados” podendo, enfim, ganhar alguma particularidade. Seria um pensamento fácil de alcançar, pensando em títulos como Cocktail ou 9 ½ Semanas de Amor, filmes banais e/ou bastante problemáticos, uma pedida certeira para o conserto. O lançamento do novo Matador de Aluguel e ao menos uma outra releitura dos anos 80 (Amanhecer Violento) talvez nos conecte com o que há de mais nostálgico em nós, para então chegarmos à rápida conclusão de que o saudosismo oitentista possa ter ultrapassado alguns limites. 

Doug Liman foi o nome escolhido para a empreitada. Em seu currículo, produções como Vamos Nessa!, A Identidade Bourne e No Limite do Amanhã apagam seus escorregões, mostram um funcionário padrão que, quando pode, imprime um tom particular às suas aventuras. Seu Matador de Aluguel não poderia ser mais enérgico, talvez mais até que o original, uma produção esquecível sem qualquer traço forte que o faça ser guardado na memória. Trazido para os dias de hoje, o leão de chácara de outrora transformou-se em um ex-campeão do UFC que talvez precise tratar sua raiva reprimida, que ao explodir não deixa rastro de pé. É uma história carismática, com a displicência típica de um filme que não tem nada a perder, como eram os passatempos de 40 anos atrás, mesmo quando não tinha tempero aparente. 

O problema, se é que isso pode ser tratado como tal, é a sua relevância. Matador de Aluguel está sendo tratado como uma grande pedida desse início de ano, como algo que precisa ser visto, a refilmagem e tal… quando nem o primeiro é um título marcante, e nem esse novo irá se tornar algo digno de nota. É um passatempo com alguma autenticidade, vide a violência que falta em 90% do que é produzido hoje em Hollywood, mas que sequer tenta ir além do que verdadeiramente é. Pensando dessa forma, existe uma honestidade no produto, em não se aventurar em uma zona muito desconhecida. É um filme que funciona para as gerações anteriores para a rememoração do original com Patrick Swayze, e que também é um produto de hoje sem identidade própria – vide que Swayze é tratado aqui e ali como “um ator falecido”, ou seja, o público de hoje, cada vez com menor conhecimento, é o público para o qual esse filme é produzido. 

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O que vai ficar desse filme novo, creio, é um certo empenho de mostrar trabalho no campo da, digamos, interação física. Matador de Aluguel se colocou no mercado como um título sobre alto contato, com coreografia de luta, algum verniz nesse sentido. Liman, mais uma vez, exercita esse lado padronizado para entregar uma produção onde o destaque seja esse esquema. O próprio cenário escolhido como palco principal (verdadeiramente bonito e espaçoso) se presta ao combate direto, e faz alusões aos próprios espaços de onde nosso protagonista vem. Existe uma lona trançada que cobre a banda que toca no local, que é inspirada imageticamente no que vemos nos chamados ‘octógonos’ de Ultimate Fighting. Além disso, o filme tenta aproximar-se o máximo possível dos corpos dos participantes de cada ‘round’, digamos assim, para emular o que vemos no esporte. 

O resultado é uma produção que deve agradar e chamar mais atenção de um espectador que esteja conectado a um cinema mais brucutu do passado, e não essa pasteurização que Liam Neeson criou nos últimos anos. Me refiro a títulos exatamente dos já citados anos 1980, coisas como as protagonizadas por Jean-Claude Van Damme e Chuck Norris – sem o capricho e carisma de outrora. Soa como algo deslocado no tempo esse novo Matador de Aluguel, porque existe uma tentativa de aparentar ser esteticamente relevante algo que não passa do bom e velho filme de pancadaria. Eu, como bom adepto do saudosismo, olho para o filme e vejo uma peça de museu, com alguma tentativa de valoração pelo caráter da memória, mas que não soa como algo além de reconhecer o passado. 

Algo que me impressiona, talvez o que vá ficar da produção, é ver um Jake Gyllenhaal tão relaxado, tão decomposto e entregue à diversão, pura e simples. Desde Ambulância percebo que o astro que passou mais de 10 anos tentando avidamente ganhar um Oscar, chegou a conclusão que as coisas acontecem no seu tempo, e não quando forçamos até arrebentar a corda. Depilado e menos bonito do que na verdade é, o irmão de Maggie está tão relaxado em cena, tão conectado à energia de seu personagem, que a conexão com o espectador passa a ser imediata. Não acho que seja pouco para um projeto que é, vejam só, o supra sumo do descompromisso. Uma massa de músculos tentando descansar, é a gênese de Matador de Aluguel. É melhor só deixar o cara. 

Um grande momento

O diálogo entre Dalton e Ben

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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