Crítica | Outras metragens

Nuevo Rico

Reggaeton mitológico e psicodélico

(Nuevo Rico, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Kristian Mercado
  • Roteiro: Juan J. Arroyo, Kristian Mercado
  • Duração: 16 minutos

O futuro chegou e os carros voam. Se o mundo parece diferente, muita coisa não mudou, a sociedade ainda é excludente, o estado ainda é controlador e a juventude ainda surge como a voz — e a pichação — de protesto. Novo Rico, curta de animação psicodélicas de Kristian Mercado mistura técnicas, cores e música para fazer a sua crítica ao capitalismo e à sociedade de consumo. O filme conta a história de Barbie e Vico, irmãos gêmeos de Porto Rico que não se conformam com o sistema e tentam combatê-lo.

Como sabemos e a história vem mostrando há séculos, não há melhor forma de resistência e rebeldia que não a arte. É isso que fazem os dois irmãos ao expressar seus sentimentos em atos de rebeldia e em sua música, mas sem nenhum sucesso, já que não conseguem ser ouvidos. Até que um dia, em uma fuga da polícia, tem um encontro sobrenatural e se tornam um fenômeno mundial.

Nuevo Rico

Mercado alfineta ao procurar limite entre a luta contra o sistema e o desejo da fama, ao demonstrar o quão tênue é essa linha e o quanto é fácil ultrapassá-la. Para isso, o diretor usa uma estética frenética e carrega nas cores fortes. As imagens do futuro são carregadas de uma mescla estética que une o grafismo mais moderno ao neon metálico oitentista, e cria uma realidade pop trance envolvente. Os elementos gráficos, também uma colagem instigante de referências com anime oriental, grafite, graphic novel e outros, unem três universos distintos: o urbano, o místico e o do poder.

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Nuevo Rico mantém sua colagem também nos elementos: enquanto os deuses reúnem-se para tentar salvar a ilha, com mitos e lendas dos taínos, reconhecem-se traços de outros personagens míticos como o próprio Mefistófoles, que observa a dupla de irmãos após sua ascensão. Ao embalo do reggaeton, é nesse grande caldeirão de influências e sentidos que o filme consegue fazer o retrato de sociedade marcada pela tradição e pela falta de oportunidade, de uma juventude que se vê sem perspectiva.

Nuevo Rico

A ruptura com o local, bem delimitada pelo roteiro, é um traço forte desse sentimento. O contraponto está em Barbie, um nome que traz em si a ironia do capitalismo criticado pelo curta. Ela é aquela que narra a história e se ressente em deixar suas raízes. Mesmo que embalado em algo completamente formado pela composição de elementos e pela união de linguagens, aquilo que se conta é uma história de fraturas: de identidade, ideologias e relações. Algo que está muito bem determinado por todo o filme.

Nuevo Rico é um curta frenético e contagiante, que resgata a ancestralidade e antecipa o futuro para falar do que acontece hoje, não só em um lugar, mas em todo o mundo onde reina o Capital. Em sua mistura pode até encontrar identificações muito próprias, mas aquilo que fala, fala para todos e pode ser identificado em todos os países latinos, mas não apenas neles.

Um grande momento
Barbie e Vico no ventre

[SXSW 2021 – Film Festival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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