Em Mãe do ouro, de Maick Hannder, uma mulher atravessa a noite em busca de respostas para perguntas que não serão respondidas. Ela quer descobrir paradeiros de quem não está ali, mas tem uma presença que nunca mais deixará de ser sentida. Alguém matou a sua irmã, ela sabe, ou acha que sabe. Quer saber. E o silêncio que impera é que dá corpo ao filme.
A espera, feita de perguntas e ausências, se alonga. A cada tentativa de resposta, o que se escancara é a solidão de quem insiste em procurar, mesmo quando já não há nada a ser encontrado. O feminicídio nunca é mostrado diretamente, mas a violência está lá na ausência, na falta que nada e nem ninguém consegue preencher.
O filme não se apoia em grandes gestos visuais nem em soluções estéticas elaboradas. A força está na duração da espera, no tempo que se alonga enquanto a noite se arrasta. Na simplicidade do que é comum e familiar. O enquadramento insiste na figura dessa mulher, enquanto o mundo ao redor parece indiferente ao que aconteceu.
É nesse contraste que o curta encontra sua forma. Existe uma tristeza que transborda da violência íntima diante de uma comunidade que não se move. A cada silêncio, uma camada de abandono. A cada pergunta sem resposta, a constatação de que a vida da irmã já não encontra lugar em canto algum, nem na memória coletiva. O que se vê na tela retrata a realidade de tantas mulheres que perdem a vida e mais um dia amanhece.
Mãe do ouro não precisa enunciar seu tema para que ele pese. A espera da personagem ecoa depois que o filme termina, como se também o espectador fosse – e é – condenado a partilhar dessa vigília.


