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Freaky – No Corpo de um Assassino

(Freaky, EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Christopher Landon
  • Roteiro: Michael Kennedy, Christopher Landon
  • Elenco: Vince Vaughn, Kathryn Newton, Celeste O'Connor, Misha Osherovich, Emily Holder, Nicholas Stargel, Kelly Lamor Wilson, Mitchell Hoog, Dana Drori, Katie Finneran, Alonzo Ward
  • Duração: 102 minutos

Vivendo numa era de tragédias diárias, com a contagem de vítimas do COVID-19 só aumentando no Brasil, é até um pouco alentador ver filmes que não se levam nada a sério como o terrir Freaky – No corpo de um assassino, disponível no Telecine.

Obra de Christopher Landon (de A Morte Te Dá Parabéns) em mais uma parceria com a Blumhouse, faz dessa vez um mashup de Garota Infernal e Sexta-Feira Muito Louca a partir da premissa: o que aconteceria se um serial killer habitasse o corpo de uma inocente estudante do colegial?

Para isso, uma adaga mística asteca — sempre um artefato “exótico” — roubada pelo matador em série é a responsável pela troca maldita. E a logline já anuncia que estamos a ver “Uma troca de corpos que corta fundo” mesmo que só ocorra com 30 minutos de filme — no já clássico com Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis, ela trocam ainda no primeiro ato da história — e se sustente por uma profusão de situações onde a adolescente precisa de aliados pra reverter a maldição e o psicopata precise amealhar vítimas.

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Freaky: No Corpo de um Assassino

Saborizado com easter eggs como a máscara que a adolescente no corpanzil do assassino usa para se disfarçar, já que o retrato falado dele anda circulando, que rende risadas completadas pelo questionamento: “eu não consigo ver nada com essa máscara, como os assassinos conseguem?”

O checklist do gênero horror gore — com direito até “a volta dos que não foram” e o comeback do assassino — não é completo, apenas estilisticamente. A troca de corpos cumpre ainda a função de empoderar a adolescente enlutada, que se sente forte mentalmente conforme vai usufruindo da altura e da força corporal do psicopata. Então tem lá uma fagulha de coming of age, bem brat pack e, pra quem ama os clássicos johnhugheanos, a presença de Alan Ruck (de Curtindo A Vida Adoidado) ajuda a deixar o clima ainda mais nostálgico e oitentista.

Freaky: No Corpo de um Assassino

“Vão me deixar com a Barbie assassina?”

Não, em Freaky Landon não constrói umas camadas de sutileza como Karyn Kusama tão bem faz no filme estrelado por uma diabólica Megan Fox, mas ele se diverte com os clichês do slasher e meio que deixa a narrativa no automático já que o roteiro que construiu com Michael Kelly joga a encenação das mortes para o campo da improbabilidade.

Mas, mesmo com os furos protuberantes, Freaky diverte, especialmente pela presença de espírito de Vince Vaughn em contraponto a inexpressividade de Kathryn Newton (de Não Vai Dar). Vaughn inclusive se redime da patética tentativa de interpretar o psicopata mais famoso do cinema, Norman Bates, no remake de Gus Van Sant. Seu carniceiro é um sem teto com sede de sangue e possivelmente com uma penca de traumas daqueles que formaram Jason e Mike Myers. Mas quando ele está no corpo da menina Millie emula uma feminilidade caricata que não tem como deixar de ser engraçada mesmo que involuntariamente.

Freaky: No Corpo de um Assassino

“Eu sou gay e você é negra estamos ferrados”

Porque, por menos verossímil que seja os amigos e crush de Millie acreditando facilmente que ele é a adolescente loira, Freaky percorre todos os tropos dos slashers resultando numa ode apaixonada ao gênero. O filme pega o caminho da sátira e peca na constituição do núcleo dramático da história. Ainda assim, não chega a ser um Todo Mundo em Pânico, se aproxima mais de alguns bons exemplares da saga Pânico e do próprio A Morte Te Dá Parabéns. Pois lá bem no fundo, entre as vísceras, tem um acerto em tratar de bullying, dos traumas da mãe alcoólatra e especialmente da menina órfã de pai que não se abre para o mundo.

Um grande momento
No vestíbulo com mamãe

Fotos: Brian Douglas / Universal

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Lorenna Montenegro

Lorenna Montenegro é crítica de cinema, roteirista, jornalista cultural e produtora de conteúdo. É uma Elvira, o Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema e membro da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Cursou Produção Audiovisual e ministra oficinas e cursos sobre crítica, história e estética do cinema.
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