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O Milagre de Tyson

Ponto único

(Tyson's Run, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Kim Bass
  • Roteiro: Kim Bass
  • Elenco: Major Dodson, Rory Cochrane, Amy Smart, Barkhad Abdi, Layla Felder, Jody Thompson, Isaiah Hanley, Forrest Deal, Claudia Zevallos, Reno Wilson
  • Duração: 100 minutos

Sabe aqueles telefilmes em clima de dramalhão dos anos 1990 que saíam direto da tv estadunidense para a Sessão da Tarde brasileira? De O Resgate de Jessica a Enchente: Quem Salvará Nossos Filhos?, coisas sem qualquer mínimo valor cinematográfico faziam sucesso indiscriminado, tanto que se repetiam à exaustão. O êxito de O Milagre de Tyson na Netflix é a prova de que aquele público ainda aguarda por títulos tão apelativos e desprovidos de predicados aparentes ainda existe, assim como títulos tão “repletos de qualidades” quanto aqueles. A fórmula de alguma enfermidade, ou acidente, ou fato espetaculoso, alinhado a uma direção inexistente, mostra-se ainda eficaz quando o assunto é passar o tempo do espectador entre lágrimas e torcidas. 

Esse é o sexto longa do roteirista e diretor Kim Bass, cujos cinco anteriores não moveram qualquer reflexão a respeito de sua carreira, que provavelmente continuará no mesmo lugar após O Milagre de Tyson. Isso porque o filme não somente é anódino, como também é infestado de soluções ruins, tanto esteticamente quanto narrativamente. Sobra para a diversão acompanhar a historinha propriamente dita, de um adolescente diagnosticado autista cujo pai é um grande campeão do futebol americano. Ao frequentar a escola, Tyson se encanta pelo atletismo e resolve correr uma maratona, contra tudo e contra todos. Óbvio que trata-se de uma história baseada em eventos reais, e ainda mais óbvio imaginar onde essa situação termina. 

“Nada contra” situações absolutamente previsíveis em produções para lá de modestas, o meu problema em particular é quando nem o básico consegue ser bem feito, como o trabalho de montagem, tão elementar quanto utilizar sal como tempero. O Milagre de Tyson incomoda porque, entre muitas coisas, desperdiça seus atores e os coloca em situação constrangedora. Como parece não ter noção do tempo de cena e da utilização de coloquialidade para acomodar suas cenas ao naturalismo, não há uma ponte que agilize a interação entre os personagens. Tudo é pausado e dilatado na montagem, criando vácuos quase em todas as cenas de diálogos. Um personagem fala, para de falar, aí sim a cena vai para o outro, que começa sua fala e termina, tudo de maneira mecânica, sem qualquer cadência que crie uma impressão de interação entre os personagens.

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Como estamos diante de um filme protagonizado por um personagem autista, todos ao seu redor parecem ter sido diagnosticados da mesma forma. Ao seguir uma claquete cênica como guia, O Milagre de Tyson demonstra sua fragilidade estrutural, que denota uma absoluta falta de conhecimento técnico para conceber algo minimamente qualitativo. Sem qualquer culpa, atores como Rory Cochrane e Amy Smart, que já demonstraram seus talentos em muitas ocasiões, aqui soam como iniciantes em teatro amador. O filme conseguiu um indicado ao Oscar (Barkhad Abdi, por Capitão Phillips) e desperdiça sua presença causando uma situação embaraçosa como essa, e perdendo a chance de realizar ao menos uma produção que pareça profissional.

Sobram os esforços solitários de Major Dodson em cena. Autista como o personagem-título, o rapaz é um poço de carisma e sua postura vende O Milagre de Tyson como algo melhor do que o filme na verdade é. Suas tiradas são funcionais, seu talento é evidente e sua performance provoca uma saia justa maior na produção, por aparentar que a montagem debocha de suas capacidades ao montar o filme dessa forma. Alheio ao lugar onde está, Dodson está à vontade onde nada mais parece pleno de capacidades, e seu entendimento é uma aula para o filme, que perde a cada vez que ele sai de cena. Ainda bem que seu protagonismo é absoluto, ajudando uma produção que não teria nenhum outro mérito a resplandecer sozinho sua expressividade.

Um grande momento

A forma como Tyson se comporta no bullying

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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5 Comentários
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Henrique
Henrique
29/10/2023 14:48

Que crítica b0st@ é essa, “jornaliste”…? O filme é excelente. Personagens cativantes. Atores generosos. Enredo envolvente. Mensagem poderosa. Vale muito a pena assistir. Que nenhum leitor se deixe influenciar pela amargura do “crítico por acaso”, assista, viva suas próprias emoções e tire suas próprias conclusões. Abraços! ;)

Eliezer Rangel
Eliezer Rangel
20/10/2023 00:11

Muito tecnicismo crítico de quem não entendeu nada sobre a importância da mensagem do filme. Aliás, muito mais interessante que alguns ditos sensacionais pelos críticos. O filme vale cada minuto pela abordagem sincera com que trata a questão de famílias com pessoas dentro do Espectro autista.

Eliane Silva
Eliane Silva
19/10/2023 13:02

Discordo da tua opinião e me pergunto porque será que o filme foi indicado ao oscar? Ou ninguém mais entende de cinema, somente você?

Sara
Sara
17/10/2023 21:40

Minha opinião difere totalmente da sua. Gostei do filme. Como mãe atípica me reconheci em muitos momentos, e apesar de ser uma história mais superficial, foi um filme bom.

Eliseu Lucas
Eliseu Lucas
16/10/2023 23:52

Péssima análise. Nota zero pra sua análise insensível.

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