- Gênero: Comédia
- Direção: Susana Garcia, Gigi Soares
- Roteiro: Gui Ruiz, Carolina Ruiz, Alessandra Gelman, Leandro Soares, Julia Lordello, Susana Garcia
- Elenco: Lázaro Ramos, Ingrid Guimarães, Fabiana Karla, Igor Jansen, Yasmin Londuik, Theo Matos, Valen Gaspar, Cezar Maracujá, Rafael Infante, Wilson Rabelo, Stella Miranda
- Duração: 93 minutos
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Se tem algo que eu posso garantir a vocês é que a instituição “filme de Natal” é das ideias que chegaram para ficar no mundo inteiro, e o Brasil aderiu por completo a ideia. O Primeiro Natal do Mundo, estreia de hoje da Prime Video, não é a última estreia do ano, e mesmo no cinema brasileiro ainda falta o que estrear. Bem, se não é o último – o que para quem não curte o gênero, deve ser uma espécie de pesadelo – ao menos posso garantir que se trata de uma produção bem feita com bastante afeto, e que temos o que comemorar através desse filme. Uma visão feminina a respeito de conflitos familiares, com os temas em voga a respeito das reuniões provocadas pelo Natal e uma discussão capitalista do mesmo, não estamos acostumados a ver.
Dirigido por Susana Garcia e Gigi Soares, o filme é escrito por um batalhão: Gui e Carolina Ruiz, Alessandra Gelman, Leandro Soares, Julia Lordello e Garcia. A diretora campeã de bilheteria (por Minha Vida em Marte e Minha Mãe é uma Peça 3) inclusive é mais uma a aderir ao esquema “2 filmes/1 mês”, já que antes de dezembro acabar, estreia Minha Irmã & Eu. O filme tem uma espécie de grife que Garcia lançou e entrega a eficiência de gênero que marca sua filmografia, ao conseguir unir grandes elencos em uma proposta onde todos saem contemplados. Ou quase todos… a presença de Stella Miranda no final, dançando e cantando com o elenco e mais nenhuma outra cena, deixa claro que alguém caiu na montagem do filme, e deixou essa marca.
Tirando esse contratempo narrativo, O Primeiro Natal de Todos tem uma ideia daquelas bem típica de produções do período. E se alguém desejasse que o Natal não existisse, e num passe de mágica, esse feitiço se concretizasse? O que temos é o desenvolvimento dessa premissa – como o mundo seria se não houvesse Papai Noel, árvore, correria de dezembro e principalmente espírito natalino. É dessa falta que os personagens do filme mais sentem, até porque isso acaba por também influenciar a própria família protagonista. Trata-se de um esquema Os Meus, Os Seus, Os Nossos; Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães são um casal recém construído, cada um com filhos de casamentos anteriores. Quando a produção começa, tudo o mais já aconteceu – ela é divorciada, ele é viúvo.
A graça nasce desse universo onde todos esses elementos foram esquecidos, e apenas a família em foco tenta reconstruir essa ideia. São personagens bem defendidos pelos protagonistas, e cujos filhos são igualmente talentosos, principalmente os dois menores; Theo Matos e Valen Gaspar são uma dupla incrível. E não tem como esquecer Fabiana Karla e Cezar Maracujá, uma parceria que garante os momentos mais engraçados do filme. Ele, que já tinha sido o grande destaque de Um Natal Cheio de Graça, volta a mostrar que precisa ser mais convocado pelo cinema. Ela, de capacidade infinita, mostra mais uma vez ter as ferramentas exatas para transformar uma produção com sua presença. Juntos, eles mostram que não existem cenas menores quando o talento está em cena.
Apesar de escrito a seis mãos, o roteiro de O Primeiro Natal do Mundo simplifica demais algumas situações, como a do casamento desfeito de Guimarães, praticamente resumido a cena telefônica. Entendemos a abordagem sobre a perda da figura materna, mas a questão oposta aos outros personagens simplesmente passa em branco, assim como a relação da atriz com sua mãe (a personagem de Miranda, uma aparição cantante). Os filhos jovens vividos por Igor Jansen e Yasmin Londuik também parecem resumidos para caber tudo em hora e meia de duração. São elementos que garantem uma produção rápida e segura, mas que em meio a outras questões bem desenvolvidas, demonstram como o filme não se preocupou tanto com seu centro afetivo.
O exemplo disso é o tanto que temos de crítica ao viés monetário que qualquer data comemorativa ganhou hoje em dia, o Natal é apenas uma delas. Através da personagem de Karla, vemos uma crítica ao capitalismo que se resumiu o final de ano, e como nossos protagonistas precisam resolver o olhar errado com o qual fomos tragados. É uma ideia boa demais que O Primeiro Natal do Mundo não desperdiça, ao contrário de algumas outras, que se escapam pelos dedos. Fica no ar a certeza de que poderia ser muito melhor, porque os elementos estavam todos à mão dos responsáveis, que preferiram resumir o que se vê.
Um grande momento
O mural do amor