- Gênero: Comédia
- Direção: Pedro Antonio
- Roteiro: Carol Garcia
- Elenco: Gkay, Sergio Malheiros, Vera Fischer, Nando Cunha, Leticia Isnard, Gabriel Louchard, Noemia Oliveira, Flávia Reis, Cezar Maracujá, Valéria Vitoriano, Mariana Armellini, Diogo Defante, Monique Alfradique
- Duração: 105 minutos
-
Veja online:
É olhar para Um Natal Cheio de Graça e pensar: “entendi, um veículo para a Gkay”; você não estará errado. Gessica Kayane Rocha de Vasconcelos, uma das influenciadoras digitais mais bombadas da atualidade, está em todos os lugares há algum tempo. Dentro ou fora da farofa, a verdade é que está difícil nunca ter ouvido falar na moça. Completando 30 anos no próximo domingo, nem o céu parece ser mais um limite para ela. Humorista e atriz, GKay é espaçosa, pouco afeita a modos, ligeiramente estridente e um enorme sucesso, logo nem foi tão rápida assim sua ascensão e chegada a Netflix, nesse que será mais um sucesso natalino do streaming. Nem que seja pela curiosidade em saber se erraram ao dar cancha para essa tentativa.
A verdade é que GKay até está ‘verde’ ainda, mas os problemas de Um Natal Cheio de Graça nem são exatamente esses. Dirigido por Pedro Antônio (de Tô Ryka, Uma Pitada de Sorte, Os Salafrários e Altas Expectativas), o filme é um pout-pourri de erros e acertos, como costumam ser os longas do rapaz. O sucesso de Samantha Schmutz e o longa protagonizado por Leonardo Reis foram as tentativas que mostraram um pouco mais de sensibilidade do diretor, enquanto os outros parecem desconjuntados e pouco harmônicos, em todos os sentidos. Isso se repete aqui, ainda que escolhamos encarar o copo meio cheio e se esbaldar com o elenco – no geral, muito à vontade – ao invés de perceber o que realmente incomoda.
Mais uma vez, o ‘timing’. Não dá muito pra analisar uma comédia se não for encarar esse fantasma de frente, que precisa ser domado e não ignorado. Não é tudo que funciona, e isso vai depender sempre do tempo de cada ator e das escolhas do diretor; é como uma banda, onde se um instrumento desafinar, deixa apurado nosso ouvido para outros deslizes. Essa montagem beneficia obviamente quem tem mais experiência, então pessoas como Flávia Reis e o protagonista Sergio Malheiros não apenas saem incólumes como estão sempre acima da média. Já GKay, como foi dito, precisa de mais experiência; não lhe falta carisma e disposição, isso fica claro. O tempo irá colocá-la em seu devido lugar, podendo enfim apresentar para o espectador um caos menos atabalhoado, mais cirúrgico; mesmo o caos precisa de controle.
A história, tipicamente natalina, é até fofinha: uma moça alucinada pelo Natal, passa cada ano na companhia de uma família diferente. Seu objetivo não é dar golpes, mas tirar o máximo de proveito do que, pra ela, é a melhor noite do ano, embora também seja a mais solitária. Junta-se, então, a fome com a vontade de comer ao encontrar um rapaz que acabou de perceber que estava numa enrascada em seu antigo relacionamento, e cisma que não pode chegar na tradicional festa de família desacompanhado. Aos poucos, as coisas vão se esclarecendo, menos o motivo pelo qual as pessoas não falam as verdades. Mas o que seria dos filmes se tudo fosse dito, não é mesmo? Um Natal Cheio de Graça não peca aí, sua trama precisa dessas mentirinhas.
Além de tudo, o filme tem umas ideias de narrativa muito interessantes. Como a que envolve a história de Lady Sofia, ou o fato de que Graça, na verdade, é muito mais profunda do que o filme vende. A cena do encontro entre essas duas personagens na rodoviária explicita muitas coisas que o filme não tinha deixado claro, e recheia de argumentos essas duas personagens. Uma viveu para representar um poder que precisou ser tomado para fazer valer um empoderamento que lhe seria negado; a outra, foge de uma realidade para esconder que seu principal medo é de encarar a felicidade. O tal do medo do sucesso, que apavora muitas vezes mais do que o fracasso. Um Natal Cheio de Graça não perderia ao envolver sua protagonista mais profundamente com suas questões.
Mas há ao menos um encanto em Um Natal Cheio de Graça, que é o aproveitamento de um ícone desprezado. Vera Fischer teve um bom papel em Espelho da Vida, telenovela de quatro anos atrás. Mas a grande atriz de Desejo, Agosto, O Clone e Laços de Família vem sendo maltratada pela televisão há pelo menos 20 anos contínuos. Aqui, ela não apenas tem espaço, como um personagem grande em belos momentos. Além de completamente integrada ao enorme elenco (onde Cezar Maracujá interpreta um funkeiro irresistível), Fischer mostra que talento nunca diminui, quando existe, e empresta dignidade e desprendimento a um filme que é mais um esforço do que uma realização. Um pacote indeciso, bastante irregular, mas com toques certeiros.
Um grande momento
A rodoviária
po vlw pelo funkeiro irresistivel, ou foi deboche? rs