- Gênero: Comédia
- Direção: Pedro Antônio Paes
- Roteiro: Fil Braz
- Elenco: Marcus Majella, Samantha Schmütz, Zeca Carvalho, Thelmo Fernandes, Caito Mainier, Pedroca Monteiro, Pablo Sanábio
- Duração: 94 minutos
-
Veja online:
Marcus Majella e Samantha Schmutz são duas forças impressionantes do novo cinema brasileiro de humor, com dois currículos já exemplares em outros filmes e programas de humor, que trouxeram uma dose extra de naturalidade para seus trabalhos, criando assim uma conexão imediata com o público. Amigos de longa data, já estiveram juntos em Tô Ryca!, exatamente o primeiro longa metragem de Pedro Antonio, que volta a dirigi-los nesse Os Salafrários, nova produção vítima da pandemia (deveria ter estreado nos cinemas e acabou adquirido pela Netflix, onde estreia hoje) que mostra que não há invencibilidade quando se trata de fazer rir.
Com roteiro de Fil Braz (de Minha Mãe é uma Peça), o filme conta com as presenças de sua dupla protagonista pra garantir a simpatia e o humor indiscriminadamente; o primeiro é garantido, já o segundo não depende apenas de um estado de espírito para se fazer presente. Tanto Marcus quanto Samantha são mestres no que fazem e já provaram seu valor e suas habilidades diversas vezes, mas o filme permite que eles se apoiem em muletas já testadas e aprovadas com o público, que evidentemente funcionam mas que deveriam ter uma cota de apresentação. Na falta de uma estratégia de arco, os protagonistas repetem seus cacoetes interpretativos mais conhecidos repetidas vezes, esgarçando suas presenças.
Na trama, uma dupla de irmãos precisa escapar de definitivos problemas com a lei ajudando-se mutuamente e tentando criar novas formas de se dar bem ilegalmente. A principal qualidade de Os Salafrários é a subversão de valores; além de não ser panfletário em relação a honestidade, o filme não justifica suas ações ou declara que essa ou outra decisão os fará pessoas melhores ou piores – Clóvis e Lorrane são como são e não pedem desculpas por tal. Também não há qualquer coisa parecida com um conceito de moral da história, permitindo que o espectador seja livre para julgar (ou não) suas atitudes, e dando voz ao sentimento do povo por diversas vezes.
Ainda que essa picardia de levar o “jeitinho brasileiro” até as últimas consequências seja a base do filme, da maneira mais politicamente correta possível, Os Salafrários vende sua ideia da maneira mais descarada possível e segue em frente, sem cobrar de sua imagem um exemplo para impingir ao espectador. Essa liberdade de padrões reverbera forte na produção, que ainda assim vende o nascimento de reais valores familiares entre famílias disfuncionais – ou seja, seu direcionamento discursivo tem a ver com as construções de afeto e não com a moral social vigente, que acaba sendo o lugar onde o filme mais funciona, menos no humor e mais na mensagem.
Independente da subjetividade que é inerente ao gênero comédia, o filme não tem timing equilibrado nem piadas que funcionem a contento o tempo inteiro, e assisti-lo acaba se provando uma verdadeira montanha-russa, nada a ver com as emoções encontradas e mais com o sobe e desce qualitativo do filme. cuja a culpa não é dos protagonistas nem das talentosas participações especiais (Caíto Mainier, Pedroca Monteiro, Thelmo Fernandes, Pablo Sanábio) que cercam a produção, mas sim da direção que não consegue imprimir os tempos de comédia acertados ou do texto, que varia entre a obviedade e a falta de humor, infelizmente.
Obrigados a salvar praticamente sozinhos uma produção promissora repleta de potencial, Marcus e Samantha mais uma vez arrebentam na parceria, transformando Os Salafrários em uma experiência até frustrante, mas que não deixa de interessar, graças a cenas como a do Hino Nacional dentro do banco ou do guincho do trailer, rendendo de maneira espaçada os espasmos cômicos que deveriam ser frequentes; graças ao imenso talento de seus protagonistas, o filme novo de Pedro Antônio mostra que seu talento na seara parece ter tirado férias, e que ele contou exclusivamente com seus protagonistas pra não afundar.
Um grande momento
José de Alencar