Crítica | FestivalMostra de Tiradentes

Pão e Gente

(Pão e Gente, BRA, 2020)
Drama
Direção: Renan Rovida
Elenco: Natasha Karasek, Rafaela Carneiro, Rani Guerra, Renê Costanny, Talita Araujo, Cristiane Lima, Lucas Guerra, Rogério Guarapiran, Thiago Calixto, Carlota Joaquina, Iarlei Rangel, Renan Rovida
Roteiro: Renan Rovida
Duração: 60 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

Baseado em “A Padaria“, texto que Bertolt Brecht começou a escrever em 1929, e com referências a Theodor Adorno, Walter Benjamin, Mário de Andrade e Daniel Bensaïd, Pão e Gente guarda o desafio de se colocar como obra extremamente “cabeçuda”, buscando tratar de questões totalmente populares: comida e trabalho. Tal duplicidade, explorada logo nos minutos iniciais – quando numa sequência é registrado um jogo de basquete de rua sem explicação e em outra, didaticamente, um homem tenta dividir as poucas notas de dinheiro que tem de forma a abarcar todas suas prioridades –, preserva-se ao longo de toda a ensaística produção dirigida por Renan Rovida.

Na São Paulo de hoje, fotografada em preto e branco (sem o preciosismo do cinema antigo), os atores interpretam texto que fala em neve, inverno rigoroso e lenha, o que poderia deixar a produção bastante caricata. Isso não ocorre e tampouco Pão e Gente tem cara de simples peça filmada, porque Renan dinamiza e desnuda a dramatização, colocando-a lado a lado de cenas da trupe passando o texto, lendo o livro de Brecht e conversando. Arte pode ser comida, porém é sem dúvida trabalho, portanto a exposição, em certa medida, do processo ecoa os temas d’A Padaria, entre eles a solidariedade, além de seguir o que manda a cartilha do teatro épico.

Pão e Gente é responsável socialmente e ousado artisticamente, mas se afasta da missão brechtiana ao apelar para registros de feirantes do MST, primeiros planos que fazem retratos tristes de seus protagonistas e uma figura em vestes rotas que surge isolada apresentando números musicais. Esse é um ponto baixo e desconfortável de algo que é o maior destaque do filme: a trilha sonora original de Bruno Menegatti. As canções e a forma como elas são encaixadas no longa-metragem representam um lampejo de comunicação livre e pulsante no universo totalmente preso nas amarras da pretensão e das regras do jogo.

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Contemporâneo em sua forma, seu clima e suas contradições, Pão e Gente é despossuído da coragem de não catucar de maneira clichê a emoção do espectador e de se assumir como média-metragem, forçando uma cena pós-créditos que contém a tradução fundamental de uma música que poderia ter sido apresentada bem antes. Famintos não têm esse tempo a perder.

Um Grande Momento:
A banda.

[23ª Mostra de Tiradentes]

Taiani Mendes

Crítica de cinema, escritora, poeta de quinta, roteirista e estudante de História da Arte. Também é carioca, tricolor e muito viciada em filmes e algumas séries dos anos 90/00.
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