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Traição e Desejo

Desastre completo

(Trust, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Brian DeCubellis
  • Roteiro: Kristen Lazarian, K.S. Bruce, Brian DeCubellis
  • Elenco: Victoria Justice, Matthew Daddario, Katherine McNamara, Lucien Laviscount, Ronny Chieng, Lindsey Broad, Rosa Gilmore
  • Duração: 94 minutos

A cinefilia (e eu me incluo nela) não pode ver filmes sem reclamar, muitas vezes produções que tem muitos méritos são achincalhadas por uma incessante busca por algo inexistente – a perfeição. E dá-lhe “esse Duna não vale nada”, “esse Belfast é muito pretensioso”, “No Ritmo do Coração é uma xaropada”, “o tal do Ataque dos Cães é muito chato”, e segue sem sem assistir coisas verdadeiramente assustadoras. Traição e Desejo, sucesso dessa semana na Netflix, é uma daquelas produções que melhoram tudo que foi assistido anteriormente, por se tratar de um tremendo vazio, de concepção, de realização e da paciência do espectador, que se esvai pelo ralo bem antes da metade de sua duração; resta aos mais chatos que se recusam a parar filme antes do final aguentar a tortura.

Dirigido por Brian DeCubellis (???) e escrito por ele, K.S. Bruce e Kristen Lazarian (sim, todos os culpados precisam ser citados, e a produção é baseada em uma peça – deve ter sido exibida em algum cabaré), o filme não tem qualquer salvação, por menor que seja. É um pseudo thriller erótico, mas que dariam vergonha no Cine Privê por motivo de que é tudo tão tímido que nem excitação provoca. É uma tentativa bem safada de parecer chique com um universo passado entre pessoas ricas e famosas, onde tudo é simplesmente cafona, de mau gosto mesmo. A direção tenta brincar com uns fast forwards para engabelar uns incautos com uma fajuta projeção do espaço-tempo, voltando e avançando na narrativa de uma maneira que só vai se tornando cada vez mais confusa.

Traição e Desejo
Netflix

O filme fala sobre a rotina de um casal MUITO lindo, Brooke e Owen. Ela era uma bibliotecária que cismou de virar dona de galeria de arte, merchand e assessora, tudo ao mesmo tempo; ele, é um apresentador de telejornal local, daqueles que fazem reportagem sobre casamento de cachorros. Jovens, brancos, bonitos e gostosos, ambos andam por aí espalhando tesão entre os seres. Até que ela vai agenciar um tipo conquistador barato de beira de estrada metido a artista de vanguarda que pinta mulheres nuas (e todos acham revolucionário), e ele cai numa óbvia armadilha em noite solitária em um bar. A tentação é companheira deles, e o casal vai ceder?

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Não vou citar a depressão que é o figurino de Gina Ruiz, que inclusive reforça estereótipos racistas em Lucien Laviscount, mas a trilha sonora de Joel Douek e Greg Pliska (precisou de duas pessoas para compor essa tristeza?) precisa de um aparte grave. Tão ruim que chega a ser ofensiva, a trilha lembra qualquer coisa composta incidentalmente para as tramas das 7 de Carlos Lombardi nos anos 90, mas lá funcionava. Até porque existia um motivo para galhofa que era abraçado pelo gênero, enquanto aqui o tal moço DeCubellis prima por um tratamento seriíssimo a algo que não funciona nem como chacota. A trilha parece ter sido composta para algum inferninho de baixa frequência, daquelas que tocam ao fundo e atrapalham a cópula alheia.

Traição e Desejo
Netflix

Bom, o elenco… como adentrar nesse terreno? Enfim, de fato Victoria Justice e Matthew Daddario (sim, irmão da Alexandra) são lindos a ponto de incomodar, o já citado Laviscount justifica tudo que se deseja ele durante o filme e Katherine McNamara é aquela beleza padrão agressiva, loira de propaganda de shampoo. Infelizmente, em nenhum deles reside qualquer resquício de talento para mostrar em cena, mas há de se culpar esses pobres coitados que queriam pagar seus aluguéis? É tudo tão rasteiro e vulgar – sem jamais ser sexy – que qualquer tentativa de ir além do medíocre saltaria aos olhos. Eles só obedeceram uma fórmula de não ir além do material apresentado; acertaram na mosca.

Sem provocar qualquer reação que não o enfado e a vergonha alheia, Traição e Desejo tenta ainda promover uma safada brincadeira no roteiro, como já citado, para tentar construir alguma motivação a “isso” que não seja o extremo perdido coletivo – da produção, do elenco, dos espectadores em assistir, da própria Netflix em exibir algo desse calibre. O vai e vem na narrativa só confunde com nenhuma qualidade e aborrece ainda mais, transformando toda a jornada até o término em uma intragável refeição. Parabéns, Por Trás da Inocência… você tem companhia no catálogo da companhia. Aos aventureiros que quiserem encarar, apertem os cintos porque a diversão… nunca vem.

Um grande momento
Não há

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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