Crítica | CinemaDestaque

Apaixonada

Ninho vazio, linguagem idem

(Apaixonada , BRA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Comédia Romântica
  • Direção: Natália Warth
  • Roteiro: Ana Abreu, Sabrina Garcia, Rodrigo Goulart
  • Elenco: Giovanna Antonelli, Danton Mello, Rodrigo Simas, Polly Marinho, Pedroca Monteiro, Rayssa Bratillieri, Nicolás Pauls, Claudia Ohana, Jonas Bloch
  • Duração: 100 minutos

O ninho de Bia está completamente vazio. No momento imediato que sua filha sai de casa para estudar em Buenos Aires, seu marido anuncia a separação de um casamento que vinha se arrastando a duras penas, só ela não tinha percebido… ou não queria perceber. Aos 40 anos, há um desespero natural diante do quadro: muitos dependiam de mim, agora eu estou por mim mesma em absoluto. Todas as fases até a possível libertação seguem e é sobre isso que está falando Apaixonada, comédia romântica que deveria dialogar com mulheres dentro e fora desse esquema, mas que também tem suas demandas de cinema popular a qual atender no coletivo. O resultado é exatamente o que se imagina ao assistir ao trailer, e quanto a isso, podemos dizer que ninguém foi ludibriado. 

O filme é dirigido por Natália Warth na estreia em longas, mas com vasta experiência em telenovelas e séries (Mar do Sertão e Quanto Mais Vida, Melhor! de um lado, As Five e Rensga Hits do outro). Isso fica claro na produção, que tem uma ideia de leitura imagética de narrativa toda calcada em signos muito reconhecíveis do árduo trabalho televisivo de outrora. Os exemplos disso são os planos fechados em demasia mesmo quando precisa capturar externas, uma má utilização do aparato de iluminação, a construção de ambientes que não são lidos por inteiro, e com isso a concepção do quadro é prejudicada. Não faltam motivos pelo qual Apaixonada derrapa, cai, se machuca gravemente e mostra, mais uma vez, algo que imaginávamos já deveria ter sido assimilado: não se faz TV no cinema. 

Baseado em livro de Cris Souza Fontês, Apaixonada em nada se diferencia de tantas outras narrativas do gênero, e parece servir muito mais aos propósitos do mercado, na tentativa de levar o público aos cinemas, do que exatamente construir bem o que está sendo contado. São clichês reiterativos acerca da chegada da quinta década para a mulher, que mostram o renascimento de uma personagens após suas perdas recentes, que lidam com novos conceitos de liberdade que precisam ser assimilados. Tudo isso continuará sendo tratado em filmes, livros e séries, mas aqui não há charme ou carisma, então o que deveria fazer a diferença, fica a dever. O resultado é um filme feito a toque de caixa, sem qualquer resquício de requinte em qualquer área. E olha que não faltam momentos onde a produção poderia se encorpar mas escolhe ser rasa, repetidas vezes. 

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Mesmo no talentoso elenco, que inclui Giovanna Antonelli, Danton Mello, Polly Marinho, Pedroca Monteiro e a jovem Rayssa Bratillieri (que vem se mostrando uma ótima atriz), o destaque vai para o veterano Jonas Bloch na rápida participação que fez. Ainda assim, entendemos que se o piloto automático foi acionado por todos em cena, a culpa é da falta de material com que eles precisam trabalhar. Quando os relevos de personagens são insuficientes para demonstrar qualquer nova intenção, para quê exibir material inédito? Dito isso, cada um faz sua parte para manter o trem nos trilhos, apenas movendo a narrativa para frente sem qualquer ousadia. Não é culpa de ninguém em cena, mas da estrutura de Apaixonada como um todo. 

Em tempos onde estamos vendo uma recuperação da comédia romântica, onde o sucesso de Todos Menos Você está claramente motivando uma movimentação na indústria, talvez seja mesmo o momento de parar de adiar a estreia de Apaixonada. Existe no momento uma demanda renascida por esse tipo de produto, e o filme de Warth chega para atender essa parcela, após ficar mais de um ano trocando de data para encontrar um melhor momento para a estreia. Como se trata exclusivamente de um material vendável, que não procura qualquer valor artístico, tal colocação é pertinente, de que não haveria melhor hora para o lançamento. Mas o filme de Will Gluck mostra que a comédia romântica, mesmo quando suas intenções são exclusivamente monetárias, pode ir além do que uma fileira de lugares comuns sem qualidade artística. 

Amparado no nome de Antonelli, que já levou multidões aos cinemas com Avassaladoras e S.O.S. Mulheres ao Mar, esse talvez seja seu momento menos inspirado entre essas incursões. As características entre esses projetos não mudam muito, mas sentimos mais uma vez que o talento da estrela ainda não foi aproveitado no cinema como em sua carreira na tv, devidamente premiada. Não é necessariamente uma ausência de personagens sérios mas dos projetos certos, ainda que atrelados ao humor – Julia Rezende, Sandra Werneck, Susana Garcia e tantas outras mostram que é plenamente possível realizar belos trabalhos leves. Falta a Antonelli encontrar o projeto certo, com a diretora certa, para seu talento ser usado para os melhores fins. 

Um grande momento

Mãe e filha se acertam no quarto

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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