Crítica | Festival

Rosa Tirana

Contradições de um projeto

(Rosa Tirana, BRA, 2020)

  • Gênero: Drama
  • Direção: Rogério Sagui
  • Roteiro: Rogério Sagui
  • Elenco: Kiarah Rocha, José Dumont, Stela de Jesus, Rogério Leandro, Carlos White, Yan Quadros, Jocimário Kannário
  • Duração: 72 minutos
  • Nota:

Por tanto perseguir uma artificialidade de maneira explícita, as imagens construídas em Rosa Tirana acabam sendo ressignificadas constantemente, em um processo analítico nem sempre dotado de fins positivos, mas definitivamente afogado em provocação e excessos, que abrem diversas linhas de leitura. Lidando com um universo onde não computa meio termo, ou se assimila um simulacro de naturalismo ou se impinge uma radical imersão no artifício, o diretor Rogério Sagui não pensa muito e abraça um sertão forjado por inúmeros gêneros, tons, cores e experimentações de matizes – nem todas são acertadas, mas ele segue tentando durante 65 minutos.

Sagui investe no que pode para exaltar uma saga com ares antiquados narrativamente porém ainda de triste reverberação social, a peregrinação em busca de água no sertão nordestino. Mas o roteiro também de sua autoria é o que menos parece ter rigidez na condução de uma história interessada em investigar linguagens em tons populares de aproximação. Não apenas em sua tentativa de comunicação como em seu eventual contato com o público, o filme acaba por fazê-lo através de tentativas inúmeras de reconfigurar gêneros e códigos sempre rumo a uma profusão de tentativas múltiplas encavaladas umas nas outras.

Rosa Tirana

O que faz de Rosa Tirana uma experiência frustrante é que, apesar dessa consciência de exageros de todas as ordens, seu autor segue na contramão do que poderia ser sua libertação, que seria uma estética normativa do bom gosto, o que cria uma contradição entre ser livre para experimentar sua extravagância pessoal e uma espécie de compromisso com esse público padrão que pode identificar o filme com uma obra de certo vanguardismo, quando justamente seu propósito se esvai na ânsia de agradar uma fatia maior do mercado, perdendo personalidade e arriscando não conseguir nenhum lado de adesão.

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Alinhando um melodrama crescente de cores fortes sobre desvalidos nordestinos com destinos trágicos a uma espécie de musical de ocasião com um certo experimentalismo narrativo na junção desses elementos, Rosa Tirana ganharia em coragem se arriscasse sua verve de “bom-mocismo” com um chute para longe da formalidade. Mas ao mesmo tempo em que ousa ao combinar na mesma salada ingredientes tão distintos, o filme procura por uma estética característica de um padrão Globo de qualidade, sempre muito limpo e comportado, sem riscos imagéticos que afastem um espectador menos afeito a linguagens não padronizadas.

Em cada uma de suas vertentes, o filme avança em sua miscelânea de opções onde todas as possibilidades são permitidas, mas se fecha a uma proposta estética de vigor a acompanhar suas ideias que nada tem de comuns. Por que então encaixar essa visão tão errática em um sugestionamento padrão de ideias? Rosa Tirana infelizmente carece de direcionamento de proposta, ficando sempre em cima do muro na hora de optar entre ser um produto de visão ampla radical ou uma sossegada minissérie de fim de ano ambientada no Projac; são visões disparatadas que convivem sem harmonia em um mesmo projeto.

Um grande momento
Pessoas-lama

[24ª Mostra de Cinema de Tiradentes]

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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