(Sofá, BRA, 2019)
- Gênero: Drama
- Direção: Bruno Safadi
- Roteiro: Bruno Safadi
- Elenco: Ingrid Guimarães, Chay Suede, Nizo Neto, Laura Neiva, João Pedro Zappa, Guilherme Piva, Bruce Gomlevsky, Gustavo Novaes, Luli Carvalho
- Duração: 71 minutos
Qual seria a cruzada de Joana D’Arc nos dias de hoje? Como essa história poderia ser transposta para os dias atuais? Bruno Safadi, em sua paródia, a imagina como uma professora da rede pública aposentada que perdeu tudo o que tinha com as obras para as Olimpíadas do Rio. Sofá é um filme denúncia que se estabelece no sensorial e em momento algum tenta se desvincular da forma.
Logo nos primeiros minutos, Em uma janela 5:4, com as bordas arredondadas que, lembra as fotografias dos anos 1980, brinca por um tempo com películas, em cores, luzes e até suas reações à temperatura, é como ele ambienta seu público, como faz que a imersão na história seja completa. Sofá surpreende pelo inusitado que mostra a seguir: em rewind, coloca a mulher com as maiores bilheterias no país em um lugar totalmente inesperado.
Ingrid Guimarães é essa Joana D’Arc em situação de rua, com sua garrafinha de água pendurada no pescoço e mochila nas costas, revirando o lixo em busca de alguma coisa que lembre o seu lugar no mundo e ainda ouvindo vozes. É assim que ela chega a seu Gilles de Rais, um marginal aqui convertido em cavaleiro que surge também na representação inusitada vivido pelo galã global Chay Suede.
Juntos eles descobrem a memorabília que Joana tanto procurava, o sofá do título, um amuleto, bem difícil de carregar, eles o levam para onde vão. É uma bela metáfora sobre o agarrar-se a qualquer coisa que lembre o passado e a dificuldade da jornada em busca dele em um mundo que os quer sem futuro nenhum.
Safadi mistura em tela tudo aquilo que seria possível sem que isso soe exagerado ou indevido, marca a tensão com o preto e branco, faz sobreposições, brinca com a metalinguagem, constrói suas elipses com matérias de jornais e retalhos fotográficos. Em seus mosaicos estabelece o tempo e o espaço, e deixa evidente a relação que se estabelece entre os dois personagens, sem grandes obviedades.
Quem vê o filme entende a intenção e sabe determinar quem são aqueles pessoas, onde e em que momento estão. Mais um retrato do Brasil excludente, dominado por poderosos e políticos sem escrúpulos, onde qualquer coisa vale mais do que vidas humanas. Independentemente delas terem um papel relevante ou não para a sociedade. Em toda a sua elaboração estética e em sua eficiência rítmica, Sofá é um filme triste pela mensagem que traz, mas é igualmente instigante pela forma que faz isso.
Um grande momento
O sofá como escudo.
[4º Ecrã]