- Gênero: Aventura
- Direção: Len Wiseman
- Roteiro: Shay Hatten
- Elenco: Ana de Armas, Keanu Reeves, Gabriel Byrne, Anjelica Huston, Catalina Sandino Moreno, Norman Reedus, Ian McShane, Juliet Doherty, David Castañeda, Robert Maaser, Lance Reddick
- Duração: 120 minutos
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A franquia John Wick parecia ter encerrado seus trabalhos com o último episódio, porém também foi dele a bilheteria mais expressiva, provocando um problema feliz aos produtores. O que fazer, quando o desfecho do mesmo não indicava mais nada a resgatar do material? Os produtores (porque essa é sempre uma ideia oriunda da vontade de ganhar dinheiro, quase que exclusivamente) bolaram um spin-off que também se transformou em uma série de tv – Continental – e agora chega aos cinemas, Bailarina. O filme já deveria ter sido lançado há um ano, mas foram acrescidas cenas extras à profusão ao que tinha sido previamente rodado. O resultado geral é bom; um bom filme de ação, um bom blockbuster para o fim de semana, um bom passatempo sem compromisso. Ou seja, aquém do que representa a imensa qualidade do projeto original.
Teremos sempre, ao redor de Bailarina, essa sombra que o impede de ter vida própria, e olhando para as decisões narrativas tomadas aqui, é injusto inclusive retirá-lo desse grupo, já que sua intenção é justamente não descolar sua imagem do resto da obra. É uma escolha arriscada, justamente porque não estamos mais falando da supervisão artística de Chad Stahelski aqui; no seu lugar, chamaram uma espécie de anti-Stahelski. Len Wiseman teve apenas uma ideia na vida, e ela deu certo: Underworld – Anjos da Noite talvez tenha ido longe demais, porque esgotou muito antes de perceberem que isso tinha acontecido, e continuações muito desinteressantes foram feitas. Quando saímos dessa franquia particular, Wiseman mostra-se como um profissional contratado para desenvolver projetos de produtor, exatamente o que Bailarina é.
Sentado na cadeira mais importante do set, Wiseman comanda o filme da maneira que lhe é habitual, e suas capacidades ficam ainda menos definidas quando os predicados que saltam aos olhos de qualquer dos quatro títulos anteriores vem à cabeça. Bailarina é um título eficiente na seara que ocupa, e provavelmente terá um retorno bacana aos envolvidos; levando em consideração que as colocações estéticas implementadas nos episódios anteriores estão de folga aqui. Em seu lugar entra uma quantidade exorbitante de perseguições e lutas que nada mais são do que perseguições e lutas, bem coreografadas e até animadas, mas que se colocam de maneira poucos degraus acima da burocracia do gênero. Até chama atenção, mas será que isso não é um chamado de sua descendência?
O que temos de original: a presença de Ana de Armas como a personagem título. Ela é o elemento de frescor do programa, criada especialmente para o novo filme, e que provavelmente vai carregar a bandeira da série daqui pra frente, ou seja, cabe a ela a responsabilidade de continuar enchendo os cofres do estúdio. Mas não é como se a atriz tivesse sido empregada em um material suficientemente complexo ou inspirador; o que Armas compõe aqui é um material essencialmente físico, ainda que alguma moldura dramática esteja em pauta. Bailarina apresenta a personagem como uma figura trágica que sobreviveu a mais um imbróglio da Alta Cúpula, que vitimou seus pais. Criada pela personagem de Anjelica Huston, a diretora da Ruska Roma (outra associação de mercenários), Eve tornou-se tão letal quanto seu pai, e o filme mostrará sua busca por vingança e verdade, que se mostrará cada vez menos simples do que aparentava.
A parte técnica dos filmes anteriores também foi embora, junto de Stahelski. O resultado a isso já foi mencionado anteriormente; o trabalho estético em John Wick tem um apuro que não costuma se ver em produções com o relevo apresentado. Quando Bailarina mostra que nada do que foi apresentado anteriormente foi mantido e em seu lugar temos um filme banal, que poderia ter sido lançado diretamente em streaming sem diminuir suas características, o espectador pode descansar de uma busca mais aprofundada. Wiseman é um profissional experimentado, não se trata de um resultado pouco inspirado, mas da ausência da sofisticação que a obra nos acostumou anteriormente. A verdade: existe queda de aproveitamento do material, e isso não pode ser atribuído ao roteiro, mas sim ao trabalho de Wiseman, que é um burocrata dos grandes estúdios. O que vemos é o resultado desse olhar sem maior aprofundamento artístico, mas ainda assim divertido.
Além das citadas Armas e Huston, o filme conta com pelo menos mais uma atriz que tenta elevar o que assistimos. Catalina Sandino Moreno (indicada ao Oscar há 20 anos atrás, por Maria Cheia de Graça) mostra porque Hollywood foi injusto em não dar devidas respostas a seu talento, e aqui sua presença é valorizada. Não podemos dizer o mesmo a respeito de Keanu Reeves – sim, ele está em cena, e sua participação nem é necessariamente pequena. Esse é mais um dado, aliás, onde podemos observar as ausências de Bailarina; quando o episódio chama a força-motriz da série, e não apenas não o coloca bem em cena, como claramente não sabe o que fazer com ela a não ser despertar curiosidade e aplicar essa figura no trailer, é porque as coisas saíram ainda piores do que se imaginava.
Para não colocar apenas a tragédia na frente da obra, uma única sequência (até grande, preciso colocar) é digna de nota ali. Graças a esse momento, que dura um pouco mais de 10 minutos e envolve a protagonista e um de seus muito antagonistas em um duelo inflamável, Bailarina ainda se mantém em pé qualitativo. A ideia é infinitamente superior à realização, no entanto; é nesse momento que fica claro a ausência representada o trabalho de Wiseman. Com um pouco mais de afinco, seria mais uma das grandes sequências da série; no comando do diretor original, ela está em lugar espantoso – Stahelski foi chamado para dirigir as tais cenas extras, e tudo leva a crer que essa é uma delas. É, sem dúvida, uma cena de destaque dentro da produção acomodada que vemos. E só.
Um grande momento
O encontro das irmãs / O lança-chamas