Crítica | Outras metragens

Tenho Medo de Avião

(Tenho Medo de Avião , BRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Arthur Pereira
  • Roteiro: Arthur Pereira
  • Duração: 8 minutos

Uma das situações citadas no debate da curadoria da Mostra Tiradentes deste ano foi o excesso de filmes enviados em caráter de ‘documentário em primeira pessoa’, e em como essa fórmula, que pode obviamente alavancar grandes filmes, pode também provocar fastio. Tenho Medo de Avião, filme dirigido por Arthur Pereira e inserido dentro da mostra Foco Minas, é um desses casos que foi selecionado mesmo se concentrando nessa jornada. A exceção aqui se faz consciente, porque Pereira acaba por traçar um paralelo não apenas com o tempo presente, mas com o passado imediato e um futuro repleto de possibilidades. 

Dada sua juventude extrema (o filme o cita como alguém aos 21 anos, idade que ele ainda tem), todos esses caminhos dentro de um labirinto são possíveis – o hoje absoluto, o ontem tão próximo e o amanhã infinito. Tenho Medo de Avião é um retrato a respeito de uma cinematografia ainda embrionária, mas muito mais que isso, o embrião é a própria vida. Tudo é superlativo, vasto, dramático e assustador. Por isso as muitas vezes onde algo é repetido, mesmo sem querer – “me desculpem, mais uma vez”. Pereira acabou de sair da concha, o mundo é todo novo e imenso, e ele quer ser aceito. Sua voz tem essa urgência da juventude, e isso por si só já lhe garante alguma curva dramática. 

Tenho Medo de Avião é um projeto simples e curto, mas por trás dessa visão muito particular a respeito de eventos muito particulares, Pereira exemplifica um lugar geracional muito questionador a respeito de suas camadas mais intensas. Um grupo de pessoas que está cada vez mais intoxicado de ansiedade, de uma referência pessoal mais evidente, e que precisa elevar o seu olhar para que também ele seja outorgado. Nesse sentido, Pereira não é sozinho o agente de suas ideias, mas sem querer se transforma num porta-voz de um tempo muito específico, que é o da juventude do nosso tempo, muito mais vulnerável que outras adolescências. 

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A relação de Pereira com a família, a proximidade dele com o avô, e sua interação com a imagem que produz são os tons que giram em torno de Tenho Medo de Avião. Mais do que essa simples relação com o que é projetado, mas principalmente com essa auto projeção, a visão que temos de nós mesmos e nossa reprodução para o resto do mundo. Como filmar a si e montar nosso núcleo de ideias prevalecer ao ego e a uma introspecção, oposta a ele. O filme consegue mostrar uma visão de Pereira em relação a questões que cineastas muito experientes demoram a alcançar, mas que talvez a juventude o ajude aí; nesse sentido essa inexperiência viria a ajudá-lo a tentar encontrar quem ele é, como pessoa e como cineasta. 

Aqui, essa auto rejeição, essa dúvida quanto às suas capacidades, tem a ver com um personagem criado, mas que também é reflexo dessa nova juventude, que não sabe o que fazer com que é projetado de si. A insegurança do protagonista de Tenho Medo de Avião não significa o mesmo para o autor, que são ironicamente a mesma pessoa. Mas, igualmente na chave da ironia, não há como dissociar uma pessoa da outra. São esses fantasmas modernos que Pereira terá de lidar, para evoluir nas duas categorizações. Por enquanto, é promissora sua labuta enquanto realizador, que radiografa uma fatia social, ao passo que conversa sobre características muito humanas e cada vez mais comuns. 

Um grande momento

Respeito ao avô

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Lopes
Lopes
25/01/2023 20:00

Um curta extremamente sensível e atual!

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