- Gênero: Comédia
- Direção: Craig Brewer
- Roteiro: Barry W. Blaustein, David Sheffield, Kenya Barris
- Elenco: Eddie Murphy, Arsenio Hall, KiKi Layne, Shari Headley, James Earl Jones, Teyana Taylor, Paul Bates, Morgan Freeman, Nomzamo Mbatha, Wesley Snipes, Jermaine Fowler, Louie Anderson, Leslie Jones
- Duração: 110 minutos
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Mais de trinta após o grande sucesso dirigido por John Landis que ajudou a transformar Eddie Murphy em um dos maiores comediantes de todos os tempos, uma tardia continuação para Um Príncipe em Nova York tenta refletir sobre os novos tempos sem perder uma pitada da transgressão que, hoje, o tornam um produto de seu tempo, para o bem e para o mal. Um Príncipe em Nova York 2 chega para prestar sinceras reverências ao original, enquanto reveste sua nova versão de tanto 2021 quanto possível, não deixando a graça de lado, mas garantindo um público que olha a diferença entre gêneros de maneira fluida, sem toxicidade.
Craig Brewer é o diretor que se encontrou com Murphy no premiado Meu Nome é Dolemite, que reacendeu a carreira do ator e ressignificou seus talentos não apenas entre as novas gerações como também com a crítica, e através da receptividade positiva veio a ideia sobre a continuação das aventuras do príncipe Akeem, herdeiro do trono da fictícia Zamunda, que em 1988 pousou na desconhecida América do Norte e voltou de lá apaixonado por uma plebeia. Durante todo esse tempo, o mundo mudou e novos posicionamentos sociais principalmente no que diz respeito ao papel do feminino na sociedade mudaram a cara do que esse projeto teria, se realizado mais próximo ao lançamento do primeiro.
Hoje, o mundo, as necessidades, as discussões, os hábitos e principalmente os direitos adquiridos tornaram o mundo mais politicamente correto, porém também mais justo e inclusivo (embora ainda muito longe do ideal). Isso está claramente inserido na nova produção desde a apresentação dos personagens. Akeem está prestes a ser coroado e tem três filhas, ou seja, não conseguiu gerar um herdeiro direito com sua rainha, Lisa. Até a descoberta de um possível filho bastardo americano, o quadro que vai sendo montado nas entrelinhas é a de uma mudança radical de decisões reais, mas o tema se apresenta tímido, e esse discussão demora a ser efetiva; quando de fato ela entra em cena, tudo parece já esquematizado para uma solução sem conflitos, o que prejudica o filme narrativamente. Ou seja, o filme evolui seu discurso, porém de maneira simplista.
Em comparação ao episódio anterior, Um Príncipe em Nova York 2 é uma clara evolução de sua qualidade imagética, ainda que perca sua estrutura realista, tendo em vista que os originais lidavam com trabalhos sem adição de efeitos especiais, que aqui estão muito elevados, e embora sejam de excelente procedências, sua aparência é óbvia. A competência técnica impressiona não apenas na recriação do material prostético que reprisa personagens do original, mas principalmente em uma cena específica onde é recriada uma passagem que originalmente faz parte do primeiro episódio, mas que foi produzida agora sem jamais aparentar, deixando o espectador confuso sobre quando aquelas imagens foram concebidas.
O elenco original é praticamente inteiro reprisado e o talento de todos permanece intacto, de Murphy a seu parceiro Arsenio Hall, passando pela lenda James Earl Jones e muitos outros; o acréscimo de personagens para Wesley Snipes, Leslie Jones e Jermaine Fowler (que faz uma participação no provável indicado ao Oscar Judas e o Messias Negro) são excelentes e os atores carregam de qualidades o novo filme, que repete em sua narrativa com um casal mais jovem a mensagem de 30 anos atrás, onde o novo príncipe também quer encontrar o amor fora das obrigações palacianas, em cenas que reproduzem o original de forma carinhosa.
O pecado capital de Um Príncipe em Nova York 2 é a preocupação com todo seu entorno, sua produção, sua verossimilhança estética, seus pontos sociais condizentes com a atualidade, mas esquecer do principal em qualquer comédia: pra quem lembra do original, falta humor nessa continuação. Não que seja um filme absolutamente sem graça, mas o filme fica longe das suas possibilidades enquanto produção de comédia. Com quatro roteiristas em sua lista de profissionais que também restringe basicamente sua ação a Zamunda, não são suficientes para garantir o bom humor que se espera de uma produção estrelada por Eddie Murphy.
Um grande momento
Comida de leão