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Utøya 22 de Julho

(Utøya 22. juli, NOR, 2018)
Suspense
Direção: Erik Poppe
Elenco: Andrea Berntzen, Aleksander Holmen, Brede Fristad, Elli Rhiannon Müller Osbourne, Ingeborg Enes, Sorosh Sadat, Ada Eide, Mariann Gjerdsbakk, Daniel Sang Tran,Torkel Dommersnes Soldal, Magnus Moen
Roteiro: Siv Rajendram Eliassen, Anna Bache-Wiig, Erik Poppe
Duração: 93 min.
Nota: 6 ★★★★★★☆☆☆☆

Não é novidade que uma onda de extrema-direita vem varrendo o globo. Entre os resultados dessa ação reacionária estão passeatas, agressões verbais e físicas, e atentados que deixaram para trás centenas de feridos e diversas mortes pela intolerância pura. Um dos mais terríveis aconteceu há sete anos, em uma colônia de férias para jovens noruegueses filhos de membros do Partido dos Trabalhadores local. A história, que já ganhou uma versão produzida pela Netflix e assinada por Paul Greengrass (22 de Julho), chega agora aos cinemas pelas lentes do norueguês Erik Poppe, com Utøya 22 de Julho.

Embora esbarre em algumas questões éticas e escorregue no roteiro, o modo como Poppe leva às telas o desespero dos jovens durante o ataque é interessante. As cartelas pretas com longos fades, seguidas por uma mescla de imagens aéreas de Oslo e de câmeras de segurança nas ruas próximas à explosão que aconteceu na capital não preparam para aquilo que virá em seguida. Ainda intercalando cartelas e fades, o diretor apresenta o espaço da ação, com um plano fixo captado por uma câmera na mão: árvores, verde, barracas no fundo e jovens que entram e saem de cena.

Após algum tempo, apresenta sua protagonista, Kaja, que olha diretamente para o espectador, embora não esteja falando com ele, e diz “você nunca entenderá”. O tempo que o realizador dedica a essa construção e o impacto causado pela suposta interação são eficientes, mas o filme ganha ainda mais interesse com outras escolhas do diretor. A partir de então, toda as apresentações de personagens, ambientação e a própria ação em si se sucedem num longo plano-sequência.

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O dispositivo, já utilizado outras vezes de maneira competente para explorar a tensão em cenas, casa perfeitamente com o desespero daqueles adolescentes que se encontram confinados em uma pequena ilha com um louco supremacista que acha que todos devem morrer. Poppe ainda dá um passo além ao alternar a profundidade desta capitação. Por vezes é uma câmera nervosa que acompanha sua protagonista, por vezes assume uma persona própria que está fugindo do maníaco assim como todos os outros que filma. Esse talvez seja o jogo mais interessante em Utøya 22 de Julho.

Porém, mesmo que a técnica se encontre em um local de destaque e funcione em sua tentativa de inovação, há um sentimento de inutilidade para o tipo de reconstrução. O que se quer é combater ações do tipo, criticar a ascensão dessa extrema-direita violenta e excludente, mas isso, em tudo aquilo que reencena, não está realmente ali. A violência e o desespero levam a sensações, mas não estimulam nem de perto a crítica desejada.

Há também um desenvolvimento complicado da personagem Kaja. Algumas de suas atitudes são artificiais e completamente incoerentes com a situação pela qual ela e seus companheiros de colônia de férias estão passando, além disso, suas interações encontram um certo maniqueísmo, numa tentativa de forçar a condenação dos atos, como se houvesse qualquer necessidade para isso, como se a ação não fosse terrível por si só e contra quem quer que seja.

Mas Utøya 22 de Julho é um filme que chama a atenção por sua forma, que pode não ser inédita, mas se adequa bem à intenção do realizador e consegue transferir essas sensações ao espectador. Por outro lado, não deixa de ter seu valor pela tentativa de denunciar ações extremistas que andam ganhando cada vez mais adeptos e transformando o mundo em um lugar ainda mais intolerante e contaminado pelo ódio. Ainda que seja preciso cuidado na criação de meios para tornar o repúdio evidente, é importante encontrar vozes e lentes, em tantos lugares do mundo, dando atenção à questão.

Um Grande Momento:
Chegando na água.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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