- Gênero: Drama
- Direção: Chiu Sin-Hang
- Roteiro: Ashley Cheung, Ryan Wai-Chun Ling
- Elenco: Endy Chow, Chiu Sin-Hang, Lin Min-chen, Hung Cheuk-Lok,
- Duração: 98 minutos
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Em 2007, Lee Tamahori apresentava ao mundo o fraquíssimo O Vidente, protagonizado por Nicolas Cage, cujo personagem tinha o dom de prever dois minutos e quarenta e cinco à frente. Daquelas histórias de ação batidas e equivocadas, o filme sobreviveu pela graça de se ver tão pouco e conseguir fazer tanta coisa, como salvar o mundo. Mas se aquilo era pouco, imagine o que é prever um segundo. Esse é o dom Chow Tin-yan em One Second Champion, uma comédia esportiva com uma pegada completamente diferente do filme citado anteriormente — tirando a premissa de se antecipar alguns segundos do futuro — com aquele toque de melodrama que costuma não costuma faltar no gênero.
Passeando entre estilos, o diretor Chiu Sin-Hang brinca com o espectador. Sua abertura flerta com o horror para apresentar o personagem, ou melhor, a origem do personagem, que, depois de um acidente elétrico e sobrenatural no hospital onde está nascendo, desenvolve seus superpoderes. De lá para frente, incorpora estéticas para trazer a realidade da televisão de anos idos, da época do tudo, dos programas de auditório, dos muitos sorteios para completar essa apresentação. O tal dom faz até um burburinho, mas o tempo é tão pouquinho que não leva a lugar nenhum e Tin-yan vai da criança sorridente e esperançosa ao adulto frustrado, desempregado, pai solteiro, sem nenhuma perspectiva para a vida.
O roteiro de Ashley Cheung e Ryan Wai-Chun Ling alterna entre a comédia do absurdo e o drama familiar, mas ambos querem e apostam mesmo é na estrutura de filme de ringue, daqueles bem tradicionais, que tantas vezes vimos no cinema. Há até um conflito que surge como válvula motriz num primeiro momento: a cirurgia do filho, mas ele perde a força à medida que as disputas de boxe vão ficando mais intensas e outras tramas paralelas vão surgindo, como a descoberta do poder, o interesse de Siu Yiu (Lin Min-chen) ou até mesmo algo que acontece ao pequeno Chi-Leung (Hung Cheuk-Lok).
Quem vive o protagonista é o cantor pop Endy Chow e o diretor também está em cena como seu amigo, treinador e dono da academia, Yip Chi Shun. O núcleo principal, Chow, Sing-Hang, Min-chen e Cheuk-Lok, funciona bem e parece se divertir com o que está fazendo. Se há uma integração com alguns dos personagens satélites, como no caso do antigo empregador de Tin-Yan, a falta de conexão com os outros é muito evidente, mas nada que comprometa a imersão em One Second Champion.
Como qualquer título de luta, as cenas de treinamento e dos combates ganham uma atenção especial. Partindo do pobre pugilista sem recursos que começa do nada e vai ganhando suas lutas; treinando sem equipamentos elaborados e usando a cidade como centro de condicionamento físico; até chegar à grande batalha, com aquele adversário que tem todas as condições, uma super academia à disposição, todas as tecnologias esportivas e um staff de primeira linha. O modo com que os confrontos são filmados também não é muito diferente do que já se conhece e, como sabemos, não é possível negar o poder de uma luta de boxe.
One Second Champion tem lá os seus escorregões, é inegável, mas tem um carisma único e funciona tão bem que isso fica para trás. A inusitada história do cara que conseguia enxergar um segundo à frente alonga esse tempo, vai por tantos lugares, visita outros gêneros e tantas formas e estéticas para chegar ao conhecido que a viagem diverte.
Um grande momento
Cabeçada
“One Second Champion” faz parte da seleção da 20º NYAFF, que acontece de 6 a 22 de agosto de 2021.
O New York Asian Film Festival é vinculado ao Lincoln Center e é o único evento dos Estados Unidos dedicado exclusivamente ao melhor do cinema asiático.