Crítica | Streaming e VoD

Indecente

Acreditem: indecente mesmo

(Brazen, EUA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Suspense
  • Direção: Monika Mitchell
  • Roteiro: Suzette Couture, Donald Martin, Edithe Swensen
  • Elenco: Alyssa Milano, Sam Page, Colleen Wheeler, Lossen Chambers, Matthew Finlan, Barry W. Levy, Aaron Paul Stewart, Malachi Weir
  • Duração: 94 minutos

A sensação de estar vendo uma clara sessão dos “clássicos” exibidos no extinto Cine Privé da ex-Bandeirantes (hoje é só Band, né?) vem à tona durante a sessão de Indecente, produção mequetrefe que estreia na Netflix hoje e que com certeza irá atrair milhões de espectadores. Por que o público da Netflix curte tanto Ataque dos Cães e Não Olhe para Cima – antes que alguém comente, dois incontestáveis sucessos de público, inclusive no Brasil – mas também não resiste a 365 Dias, Dois e algo como isso aqui? Não acho que podemos explicar com uma simples alusão ao “prazer culpado”, não; o público médio se vende por histórias ordinárias, bem mais simples do que uma análise de mercado aprofundada.

Adaptado do romance “Virtude Indecente” de Nora Roberts – sim, a best-seller que vende milhões de exemplares de coisas que, pelo visto, têm procedência simplória – a trama traduzida por seis mãos (vamos citar os criminosos: Edithe Swensen, Suzette Couture e Donald Martin) é um apanhado de absolutamente todos os clichês que envolvem thrillers de mistérios, dramas criminais, contos eróticos de quinta categoria que já vimos, lemos e ouvimos falar. O lance é tão raso e vadio que por muitos momentos, desde a primeira cena, temos a impressão que tudo deve ter sido feito propositalmente vagabundo assim mesmo e que se trata de uma paródia, dessas dos anos 1990.

Indescente
Sergei Bachlakov/Netflix

O nome da moça por trás das câmeras é Monika Mitchell, que, segundo o imdb, tem inúmeros prêmios por trabalhos anteriores, em festivais do qual nunca ouvimos falar. A julgar por Indecente, bem… não há como ter qualquer ímpeto para conhecer a tão premiada diretora. Tudo o que é feito em cena é no mínimo pobre, chegando em vários momentos ao constrangedor; será que há algum masoquismo em assistir coisa tão absurdamente deprimente assim, e perder 1 h e meia de precioso tempo? A julgar pelos enquadramentos ruins, pela textura home to video, pela absoluta indigência em tudo que se prima cinematográfico… olha, tá aí, é uma curiosidade.

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O filme nos leva por situações canhestras, como o final digno de uma comédia romântica da Meg Ryan depois do sadomasoquismo, do serial killer, do assassinato da irmã da protagonista, da mesma ter também quase sido assassinada, que algo de surreal pode nascer no meio dessa galhofa. É um conjunto de plots todos requentados, que previmos cada um com ao menos meia hora, resoluções tão surradas e manipulativas, e um eterno ar de despreocupação no rosto dos atores protagonistas, que talvez tenha faltado o timing à Monika de perceber que não havia nada ali para ser levado a sério, exatamente o que é feito.

Há seis meses, a Netflix disponibilizou Perfeição Insondável para seu público, um filme repleto da mais pura canalhice desmedida. Lá, Braden R. Duemmler entendeu que estava mexendo em seara fajuta e construiu um petardo de ‘ficção-científica-erótica-absurda’. Faltou aqui perceber que rir era o melhor remédio para encaminhar essa salada indigesta, e ao invés de brindar o espectador com uma piada pronta, danou de tentar promover seriedade em cena. Mas com todos os elementos cênicos repletos de primarismo, restando ao material parecer uma obra universitária ruim, Indecente perde a oportunidade de rir de sua inabilidade completa e irrestrita.

Indecente
Sergei Bachlakov/Netflix

Também não sei se vale a pena entrar no mérito do quão machista, inadequado e inexplicável toda essa narrativa é, além de antiquada e misógina. Nada é bem construído, não sabemos o porquê de Elizabeth ter escolhido uma vida dupla – principalmente se queria recuperar a guarda do filho. Quer dizer, nada é construído, bem ou mal, as coisas simplesmente acontecem, e o propósito de cada uma não é discutido. Da absoluta falta de emoção da protagonista ao perder a irmã já na cena seguinte até a confiança que a delegada deposita nela, apenas porque ela é famosa, rica e bem sucedida. Olha… vou contar pra vocês, viu…

Longe da espinha dorsal, a dupla policial formada por Sam Page e Malachi Weir é o que mais se aproximaria de um dado positivo em cena, talvez por estarem sempre infinitamente à margem de tudo que deveria ser o foco principal do filme. Óbvio que não salva o azia que Indecente causa ao fim e ao cabo, nem nos impede de lamentar o triste fim de carreira de Alyssa Milano, mas sem eles talvez a tristeza sem fim de acompanhar a produção fosse ainda mais melancólica. Com eles… bem… o horror permanece, mas talvez 1% menos desesperador.

Por sua conta e risco, boa sorte com Indecente.

Um grande momento
Não existe – mas a primeira aparição da dupla policial é o único momento onde o desejo de morrer não bateu muito forte.

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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