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Amor Pleno

(To the Wonder, EUA, 2012)

Drama
Direção: Terrence Malick
Elenco: Ben Affleck, Olga Kurylenko, Rachel McAdams, Javier Bardem, Tatiana Chiline, Romina Mondello
Roteiro: Terrence Malick
Duração: 112 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

Terrence Malick é um diretor controverso. Suas obras têm a capacidade de gerar em uns o encantamento absoluto e em outros o tédio infinito. Se para estes a filosofia do diretor é de boteco, para aqueles, atinge as mais difíceis questões do ser humano. Com uma linguagem extremamente contemplativa e muita metafísica, seus filmes são, sem dúvida, belíssimos e intrigantes, mas acabam funcionando apenas para poucos interessados. Amor Pleno pode até tentar ser diferente do resto da filmografia, uma vez que tenta abordar um tema muito mais popular, mas não consegue.

O filme conta a história de Neil e Marina, um casal que se apaixonou na França e se mudou para uma pacata cidade de Oklahoma, nos Estados Unidos, levando também a filha dela. A rotina e o natural fim da paixão fazem com que os problemas apareçam em suas vidas. Quando seu visto expira, Marina volta para a Europa e Neil se reencontra com uma antiga paixão. Paralelo aos conflitos do casal, um padre passa por uma crise de fé.

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É claro que Malick não perderia seu tempo com uma trama tão simples e melodramática. A intenção de Amor Pleno é atravessar a superfície e tratar de questões muito mais amplas e pouco trabalhadas. É tentar definir o que é o amor, tentar descobrir se ele realmente existe e se é universal em suas tantas demonstrações. Não faltam questionamentos sobre sua mensurabilidade e sua possibilidade de comparação, assim como não faltam sentimentos coadjuvantes, como medo, insegurança, decepção, ódio, incerteza e tantos outros.

Em sua transcendência habitual, o diretor ainda vai além da análise facilitada de uma relação cotidiana e trata da mesma maneria o ressentimento pela unilateralidade dos sentimentos, comparando um amor terreno a um amor divino. É na transformação de todos os amores, etéreos e terrenos, em um único amor, que está o ponto alto de Amor Pleno.

Apesar de todo o interesse que desperta, porém, o fime chega de um modo diferente daquele esperado em títulos do diretor-filósofo. É como se depois de A Árvore da Vida (que tem relações profundas com este título de agora) e da Palma de Ouro em Cannes, ele quisesse chegar mais perto de um público que não é o seu, tentasse atingir outras pessoas com o seu questionamento. É nas analogias mais óbvias, mas não menos interessantes, que isso pode ser percebido. O problema é que essa inserção de novas facilidades não combina muito com o resto e, enquanto as primeiras podem contrariar os fãs de carteirinha, o resto vai continuar entendiando os que não gostam desse tipo de cinema.

A inadequação, porém, não diminui a proposta de questionamento e, muito menos, se sobrepõe à habilidade cinematográfica que vemos na tela. A união das belíssimas imagens de Emmanuel Labezki e da poderosa música de Hanan Townshend é um espetáculo à parte, daqueles que ficam marcados na cabeça da gente por muito tempo.

O deslumbramento sonoro e visual facilita a experiência e a imersão na confusão sentimental de cada um dos personagens, dando mais força às reflexões que substituem os diálogos e enaltecendo momentos que não teriam força por si próprios. Os atores também trabalham em prol do resultado. Por seus personagens distantes e despersonalizados, entregam atuações envolventes e dedicadas, com destaque para Javier Bardem e seu Padre Quintana.

Se por um lado as coisas funcionam muito bem, é na montagem que está o “calcanhar de aquiles” do longa. Repetições, algumas partes desconexas e cenas que poderiam ser mais longas, ou mais curtas desgastam a atenção do espectador e deixam o todo menos palatável. Quando somado à narração, o picotado também pode passar a impressão de que o filme é um trailer que se esqueceu de terminar.

Entre defeitos e qualidades, Amor Pleno vem para confirmar que tudo o que o cinema de Terrence Malick tem de difícil, tem também de inspirador. E, talvez, essa tentativa de mudança, mesmo que meio ineficaz em sua primeira vez, não seja uma má ideia no atual momento, quando pensar deixou de ser uma prioridade. Por mais que a experiência seja diferente e cansativa, vale a pena ver e ouvir o que ele tem a dizer, ainda mais de maneira tão bela.

Um Grande Momento:
Em Paris.

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Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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