Crítica | Streaming e VoD

Através da Minha Janela: Além-Mar

Aposta na vulgaridade

(Através del mar, ESP, 2023)
Nota  
  • Gênero: Romance
  • Direção: Marçal Forés
  • Roteiro: Eduard Sola
  • Elenco: Clara Galle, Julio Peña, Guillermo Lasheras, Eric Masip, Emilia Lazo, Natalia Azahara, Hugo Arbues, Ivan Lapadula, Andrea Chaparro, Rachel Lascar, Abel Folk
  • Duração: 105 minutos

Há um ano e meio atrás a Netflix colocava no ar aquele que se tornaria uma das maiores audiências de sua plataforma no ano passado, Através da Minha Janela. Produção espanhola teen baseada em uma série de livros escritos por Ariana Godoy, passamos para o segundo, Através da Minha Janela: Além-Mar, com a mesma falta de inspiração que era impregnado no anterior. Vazio de conteúdo, de conceito, de expressividade e de qualquer traço qualitativo, ainda assim o novo já é um hit e já conta com um teaser para a terceira parte. Sei que parece uma ameaça, mas não temos muito o que fazer quando um produto alcança um sucesso inesperado; é relaxar porque sempre teremos novos capítulos de nossas franquias menos favoritas. 

Na análise ao longa anterior, eu disse que imaginava que as outras produções fossem cercadas das informações que não tínhamos no anterior, principalmente acerca dos irmãos do protagonista. Para quem não sabe, os Hidalgo são muito ricos e seus três jovens filhos colecionam conquistas efêmeras, mas Ares no capítulo anterior se apaixonou por Raquel, jovem bem menos rica que ele. Os estudos os separaram no fim do primeiro, e para esse segundo, a apreensão por um encontro que nunca vem e as possíveis novas histórias que estarão nascendo entre eles motiva a narrativa de Através da Minha Janela: Além-Mar. Mas nada consegue surpreender o espectador, embora eles se esforcem para que uma nova voz nasça. 

E se você achava que os personagens masculinos eram machistas no primeiro, aqui as exceções são tão raras que em algum momento paramos de procurar. Dois dos irmãos, Ares e Artemis, são figuras patéticas pela forma como agem e decidem esconder suas histórias. Nenhum dos dois merecem as mulheres pelo qual se apaixonaram, Raquel e Claudia são figuras que acabam perdendo o vigor do olhar ao se envolver com esses dois tipos envelhecidos. Além de tudo, devem ser eles dois os “irmãos mais lindos do cinema” mais feios que vi recentemente, o que tira a justificativa dos sacrifícios pelo qual ambas passam, desnecessariamente. Na verdade, Através da Minha Janela: Além-Mar oferece mil motivos para que seus protagonistas sejam abandonados, o que não acontece. 

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Logo no início, percebemos que Através da Minha Janela: Além-Mar vem pra campo com mais volúpia sexual que o anterior, até onde eu me lembre. Sim, esse dado de sexualidade aflorada já estava incluído na matemática da série, mas creio que aqui tudo caminhe por um lugar do semi-explícito, embora nunca seja. E sem moralismo, estamos falando de um grupo de pós-adolescentes, e cujo furor não tem limites; isso seria interessante de abordar, mas como toda produção que só quer fingir ter coragem, os limites aqui freiam os possíveis avanços. O que temos então é uma espécie de ‘Cine Privê’ fofinho, com pessoas cujos teores lacrimosos estão em dia, e sofrem como se não houvesse amanhã quando só deveriam curtir a vida. Ou seja, pós-adolescentes que ainda se comportam como adolescentes. 

Os (ir)responsáveis pela obra continuam sendo os mesmos, Marçal Forés na direção e Eduard Sola na adaptação, o que garante que o insucesso em questões qualitativas. Para quem se tornou fã do casal Ares e Raquel, o filme deve continuar funcionando; para quem gostaria de ver o casal Artemis e Claudia mais assumido, esse problema persiste, e ambos protagonizam cenas tristes de submissão emocional e profissional. Na reta final, Através da Minha Janela: Além-Mar guarda uma tragédia para o público, na qual o filme se desdobra com afinco. Acaba criando um ruído entre a vulgaridade extrema que o filme apresenta no princípio e essa dramaticidade também exacerbada do final, mas creio que a essa altura, quem comprou o combo como um todo, estará salivando por mais um capítulo. 

Um grande momento

Os sorvetes

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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