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A Batalha de Natal

Poderia ser mais que divertido

(Candy Cane Lane , EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Reginald Hudlin
  • Roteiro: Kelly Younger
  • Elenco: Eddie Murphy, Tracee Ellis Ross, Jillian Bell, Genneya Walton, Thadeus J. Mixson, Madison Thomas, Nick Offerman, Ken Marino, David Alan Grier
  • Duração: 111 minutos

A temporada de streamings com títulos natalinos não poderia ter começado de pior forma que com o muito fraco Trocados, na semana passada na Netflix. No dia seguinte, a Prime Video contra-atacou com A Batalha de Natal e o nível se elevou bastante, em praticamente todos os sentidos. Assim como o similar da concorrência, a produção Prime também é dirigida por um veterano, no caso Reginald Hudlin, que acabou de entregar o ótimo O Legado de Sidney Poitier ano passado, e tem plena vocação para a comédia. O que ele entrega aqui não vai revolucionar nada, mas esse sim é entretenimento de qualidade, que não tenta diminuir o intelecto de quem assiste com repetições de fórmulas cansadas. 

Estamos então diante de algo inovador e mutante dentro da tradicional leva de comédias natalinas que se fazem cada vez mais presentes a cada dezembro: não. Mas apresentada de forma sincera e competente, com sensibilidade e alguns componentes originais, A Batalha de Natal é uma produção segura do que vai entregar, consciente de suas intenções e que nos entretém com qualidade. Parece pouco, e de verdade não se trata de algo que vai sobreviver até a próxima visita do Papai Noel, mas todos os envolvidos no projeto doam o melhor que podem para encontrar reconhecimento no público. Apesar da duração larga dentro do segmento passatempo, estamos compenetrados no que está sendo dito. 

Se existe um elemento que une os filmes natalinos é a tal da magia. Seja ela abstrata e realmente fantasiosa, ou mesmo um sentimento profundo que assola um personagem, os filmes são reféns dessa ideia na maior parte das vezes, que também se acomoda geralmente nos dois pólos. Em A Batalha de Natal isso não se anuncia diretamente, inclusive parece que iremos assistir a um filme sobre a febre do consumismo, como foi o clássico de Schwarzenegger, Um Herói de Brinquedo. Logo percebemos que a ideia fantástica está sim presente aqui, e será motor para a entrada das tradicionais figuras dessa época do ano. A competição e o campo de batalha do título em português que se apresentam inicialmente, acabam se tornando coadjuvantes dentro do projeto. 

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A solução para as ideias que são apresentadas aos montes pelo filme são até terceirizadas pelo roteiro, que não as trata muito bem. Tem elementos em excesso: uma competição com prêmio em dinheiro, uma promoção de emprego desejada, uma demissão inesperada, uma bolsa de estudos em jogo e um sonho de viver do que se ama. O filme cria esse novelo de ideias para cada personagem, os apresenta de maneira satisfatória, mas nada é conduzido com a mesma qualidade que está na teoria. Em determinado momento, percebemos que A Batalha de Natal tinha a real noção de como dar personalidade ao filme, e constroi sua estrutura com esmero, mas o mesmo cuidado não é apresentado em seu desenvolvimento e finalização. 

No lugar, o filme prefere colocar Eddie Murphy em mais um contato com animais rebeldes (que dessa vez não falam), com pequeninos que ele precisa ajudar e com sequências de ação bem divertidas e bem realizadas. Não podemos negar que falte diversão a A Batalha de Natal porque isso seria uma inverdade; Hudlin caprichou nas situações de humor, e o filme não se torna inesquecível por isso, mas como todo o pacote, é honesto em suas intenções. Compreendemos os laços familiares, e entendemos o que une aquelas pessoas de verdade . O problema do filme é não enquadrar o universo que cria em uma resolução mais cheia de detalhamento, exatamente da forma como ele precisa colocar para contornar seu argumento. 

Murphy continua com seu magnetismo intacto, a parceria com a talentosa Tracee Ellis Ross funciona à perfeição, e o carisma da pequena Madison Thomas enche a tela. Jillian Bell é uma vilã de mão cheia, e o trabalho vocal de Nick Offerman se mostra essencial para que uma carga de afeto seja compreendida. Ou seja, o elenco de A Batalha de Natal é um dos motivos para celebrar sua chegada, mais um filme delicioso para assistir junto à família nas próximas semanas e garantir a diversão. Não é um trabalho completo porque o roteiro de verdade não se mostra capaz de dar encadeamento a tudo que se apresenta, mas fica o sentimento de diversão garantida. 

Um grande momento

A árvore é montada – e o facho de luz

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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